quarta-feira, 16 de julho de 2014

Entre a dúvida e a solidão

 
 
 
 
Sou mãe demais
quando você quebra a asa
e corre para casa
em busca de proteção
sou mãe de menos
quando você crê e me afasta
sem nem ao menos dizer
se foi pelo bolo que não sei fazer
ou pelo erro, que não pude enaltecer
 
ou não foi nada disso
só eu não soube ver
 
sou mulher demais
quando saio em busca da felicidade
danço , rio alto , nem vejo maldade
a quem isso possa incomodar
sou mulher de menos
quando conto da cicatriz no peito
acreditando que desse jeito
serei acolhida com amor
 
ou não foi nada disso
só eu não soube ver
 
sou poeta demais
quando tenho os olhos sensíveis
em pleno tédio e dor
e vou jogando com as palavras
poemas,prosas e haikais
sou poeta de menos
quando acredito ser a musa
dona de um coração
que pode ser domado,exaltado
e acabo em solidão
 
ou não foi nada disso
só eu não soube ver
 
são nesses atalhos da vida
mãe, mulher e poeta
erram e acertam
nem há por quês
sou cúmplice de minhas escolhas
vou acolhendo minha psiquê
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 

Arte by Dimitri Jojnov

Bem me viste, mal me deste

 
 
 
Não me queira mal
por um deslize ou defeito
não me queira bem
por um instante ou rancor
queira-me pelo todo
flor e espinhos
alma de passarinho
liberdade em desalinho
corpo frágil - alma sensível
sempre coberta de amor 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
Arte by  Irina Kotova
 

Deslimites da flor

 
 
 
Que flor é esta
que em noite vazias
tento arrancá-la
do jardim em meu peito
 
e quando acordo
lá está ela
de novo abrindo
desejando bom dia
me trazendo poesia
 
exalando perfume
iluminando meu leito
 
que flor é esta ?
que minhas mãos verdadeiras
teimam matar
e minhas mãos jardineiras
teimam cultivar
 
 
 
Adriane Lima






Arte by Melissa Hartley

A sagração da primavera

 
 
 
 
A busca pela alva
solidão da lua
inesgotável sensação
de estrela
cinzas de memórias
ácida malva
tempero respingado
de pensamento em
pensamento
abrir o gás letal
não ver a papoula brotar
sempre a sensação
de flores
entre a fétida soberba
dos lábios
colho gélidas palavras
doadas em vida
versos, verbos futuros
ilícitos, ilusórios
viver é para hoje
tempo é extinção
amanhã não
amanhã posso tomar
meu último gole de Bourbon
e em uma caixa de sapatos
queimar todos os retratos
enquanto acendo
meu último cigarro
ao som de Stravinsky
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
Arte by  Oksana Zhelisco
 
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