terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Despindo a sorte



Quero o cio dessa vontade
dilacerando minhas forças
e despertando verdades
entre jogos carnais


uma noite apaixonada
com jeito de querer mais
poderia ser migalhas
restos de teu pretenso amor

então, não penso no futuro
aperto os olhos no escuro
e deixo o desejo me guiar
 

juízo, fatalismo ou heroísmo
só esse fogo me convém
e sendo mulher apaixonada
vou devorar a madrugada
com gosto de eternidade

não irei culpar ninguém
nem achar que foi cilada
e sim carta marcada
pronta para me ver jogar


 

e se depois sentir saudade
terei toda honestidade
de lembrar que fomos dois
mas também não fomos nada
apenas página virada
de mais uma história de amor

 




Adriane Lima




Arte by Stanislavas Sugintas

Coração figurante



Hoje acordei na idade da razão
dentro de mim  acabou o tempo
da paixão
já não existe mais emoção
e o coração disse-me assim:

Já não descompasso
acertei o passo, da desilusão
e em meu peito não há mais o redemoinho
sigo sozinho a soluçar

A paixão feito balão
fugiu das mãos,subiu ao ar
não teve jeito
grave defeito seria tentar segurar

Não estava escrito
meu manuscrito
meu despertar
sonhos flutuam
horas vazias, canções no vento
trouxe um alento de sossegar

Coração se entrega á toa
sempre perdoa , pois não sabe voar
retoma o brilho, se infla de beleza
eterna certeza de na próxima paixão acertar





Adriane Lima 





Arte by Daniela Ovtcharov

Prisma



A sala mergulhada
entre incensos perfumados
minha carne sente uma dor
leve lembrança que ficou

E me veio a saudade
feito um ritual
a mesma hora
o mesmo local
raios de sol entrando
através do prisma que roda
no jardim

Chico na vitrola entoa
as canções que você um
dia apresentou à mim
memória eternamente marcada

Boca calada nascente de lágrimas
beleza encontrando seu destino
alma solta, absorta
resgata antigas promessas
a eternizar meu espírito feminino
...que se enternece de saudade ...


 
 
Adriane Lima
 

Arte by Stanislavas Sugintas

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Devaneios em cores



Queria pintar o negro da rosa morta
escarlate vindo da arte
dos céus que se conhece
queria pintar o escárnio
o escaravelho cor de prata
das emoçoes presas na garganta

pintura e arte se levantam
em opressões de vidas vãs
figurativas paisagens entrepostas
na memória de quem as viveu

cores inventadas ou expostas
de quem em linha reta nasceu
sol das cinzas resplandecentes
calor humano envolvente

se há bom tempo
há bom pressentimento

arte e vida se misturam
e nas telas corpos se procuram
pelo toque colorido dos sonhos
do artista que os inventou
e com forças expressou:

esse mundo é todo meu...

 


Adriane  Lima


Arte by Dave Kinsey

Asas perdidas



Entorpecida borboleta remontada
pousou em flores carnais
carnívora  ideia que apavora
os restos de ávidos mortais

Casulo envolto em teias
presa a argumentos banais
pobre borboleta vive a esmo
descobriu que já não voa mais


O azul de penetrante intensidade
paira no silêncio das manhãs
onde as horas são atalhos
recheados de indelicadezas vãs
e assim nessa frieza
borboleta não consegue mais falar

Tateante, mansa e sonolenta
abriu as asas para se olhar
acreditando no que outrora havia
em seu universo levitou
buscando forças
entre o céu e o mar


Saíra antes do casulo ???
gotas de chuva amoleceram seu escudo
corpo frágil, lento e vagabundo
pedindo a ela forças para levantar

Borboleta teve seus desejos dissipados
perdeu asas entre o sonho e o despertar
não amanheceu, sucumbiu-se ao silêncio 
das luzes envoltas ao luar





Adriane Lima





Arte by Dorinas Costras





sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Feitiço de estrelas




Vazio...
aqui jaz meu quinhão de sorte
percorri léguas entre sul e norte
envolto em nuvens
buscando meu lugar

Via-láctea me seguiu
viagem onde fui livre
e a esmo me guiei

Olhava encantada um mar de estrelas
e cá embaixo açucenas pelo ar
inebriante feitiço de águas claras
misturavam sonhos e despertar

Bífida língua de enganos
entorpecida me pus a escutar
entre corpo e cabeça
céu profano
roda de ciganos
melodias a tocar

Homens e seus preceitos loucos
não sabem ser ,nem onde querem estar

Quinhão de sorte ; é a morte
minha única certeza
é que ela sempre vem  me espreitar
e eu que não sou feita de eternidade
vou com ela hoje, me deitar...




Adriane Lima


Arte by  Dorina Costras

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A cor do vazio



Lá fora ,silêncio enlouquecedor
cores de olhos vãos
vão soprando velas
na escuridão
fumaça tingia o ar
esquálida certeza de nuvem
recheada de água do mar

Lá longe, a vida corroía segredos
e cheia de medos
ela ia só
não havia chão

onde pudesse pisar
nem tempo
nem eternidade
nem saudade 
que pudesse levar

Viajava entre árvores recortadas
saídas do nada
e dançava a música
dos sonhos
insustentável volta ao passado
adivinhou um céu
que não ousava mais olhar

Sozinha, ela sabia
até onde do azul se cercar
azul de olhos habitados
pela poeira do tempo
de outra dimensão crepuscular





Adriane Lima 




Arte by Igor Kamenev 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Cabeça sem Uso


 
 
Minha cabeça cortada
joguei em tua janela
talvez olhes
e me vejas nela
 
Noite de lua
janela aberta
rua deserta
silêncio de nós
 
Você adormece
e espera
para recolher
os milagres do amor
 
Talvez te assustes
talvez me comtemples
contra o espelho
buscando a luz
de meus olhos
 
- olhe bem para minha cabeça
não adormeça antes de me ver
 
Talvez a uses
como despertador
sobre o criado-mudo
isso eu calculo
 
Não quero assustar-te
peço apenas um
tratamento de bom uso
dessa cabeça súbita
de minha parte
 
Quero que guarde
como sua
ou então a jogue bem longe
 
onde meu corpo já se esconde
ao sabor de outra aventura

 

 

Adriane Lima


Arte by Dorina Costras 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Amoras e Jasmins


(Para minha amiga Cuka Torino)


Você veio de um anjo
Encantando meu céu
Redecorou meus dias de flor
Jasmins e borboletas combinam com você

A mulher razão
a menina solidão
pura mania de buscar proteção
você ,nunca me negou
A palavra amiga,a resposta certa
em minhas horas de aflição

Seria magia,coisas dos astros
Vênus ou Plutão,
acho que não
Saturno cheio de anéis é que
combina com os elos de teu coração

Páginas de sonhos,
onde me escreves
distribuindo encantos
em teu meigo olhar
Mudanças te levam
mudanças te trazem
Pra perto da lua cheia
que te convida a bailar

Onde vais de corpo e alma
em teu jeito de ser mulher
Diz que ouve meus conselhos
mas eles não servem nem para mim

Amiga,li e te aviso; o amor é feito
um rio que carrega
tudo que em suas margens se prega
a amizade é nuvem de algodão
que se embalam em sonhos de construção

Sempre que penso em você me vem a cena
risos soltos, cumplicidades entre olhares
A praia do Laranjal,o gosto do chimarrão
Amiga pode a vida muito mudar

Para sempre terás onde segurar tua mão


Adriane Lima
 
Arte by Rafal Olbinski 

Tempos de aço




Tempo de estio
garganta seca
e o coração vazio
os caminhos
em que ando, são ásperos

a vida
ora embebida em poesia
ora em nostalgia

sensibilidade
esquecida na gaveta 

a esperar uma chuva
de palavras e de emoções

banhar-me o rosto
ter um amor disposto
a ser algo maior

se houvesse
uma lua suspensa no céu
meu corpo subiria ao infinito

lançaria nuvens
de águas limpas
 

mas, o tempo é de estio
secura maior
que o sal do mar


e o que tenho em mim
são paisagens 


 



Adriane  Lima









Arte by  Ingrid Tussel

Sopros da noite





Guardo da noite
o odor da terra molhada
a lua apareceu na madrugada

Perdida como eu, estava
sem saber o que iluminar
veio fazer companhia em minha jornada

Após esperar acordada
o silêncio perdido de nós dois
manhã nasceu em minha janela
onde outrora, sonhei quimeras

Quem era eu quem era ela
sopros antigos a meu favor

Hoje, não há mais tempo de alegrias
nem razões para nostalgias
sigo em via crucis
entre becos sem saída

Espantando a dor dessa ferida
onde sou beija-flor e você poesia

- Girassol que virou






Adriane Lima







Arte by Michael Cheval 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Leve pulsar





Onde todos buscam segurança
busco saídas, mas meu poder é nada
meu destino habita o silêncio dos Deuses 
feito da maldade dos homens

O ar queima sem arder a vida
o pulsar de cada gesto
tão viril e indigesto
me fazem agonizar
e como árvore no outono
minhas folhas caem  e entardeço
na tristeza de não pode voar

Me torno dura, sem medida
sou a que sonha, sem apegos
nem a procura de abrigo


a que vai sem ensejos
de felicidade oferecida

E assim envelheço
sucumbindo o corpo
num desejo de ode divina :
voltar a ser menina
diante da credibilidade de homens
e de pássaros livres

Erro mortal petrificando a alma
na dureza das palavras irreais

mas, eis que surge você
dizendo para eu pular 
de olhos fechados

e alçar voos que só 
minha incrédula visão 
de ave proporciona
basta acreditar 
em um novo céu 
e na luz do luar





Adriane Lima



Arte by Italia Ruotolo

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Dona dos Ventos



A visão dessa mulher
criou em mim ,alguns decretos
aprimorou rimas
pariu versos

ela
tem luz do alvorecer
em seus cabelos dourados
força interna que não se vê
aos olhos descuidados

mulher vinda de tempestades
traz nas asas um sonho suave
e nele me recomponho
abraçando velhos sonhos
de viver felicidade

Ao olhar-te nunca entendi
que era teu céu e meu inferno
teu calor me irradiava loucura
e a insanidade de um amor eterno

e em tuas intenções
me obrigava a sonhos tolos
namorei tua suavidade
mergulhei em teus demônios

tomei tuas poções mágicas
me via leve e enfadonho
ganhei do Olimpo
forças de embate
nada em mim foi covarde

mulher repousada
em nuvens
abissal submissão
eu te proponho

 
 
Adriane Lima
 
 
 
Arte by  Michael Cheval 

Para que saibas do amor


 
                                 ( Para minha filha Manuela )

Te fiz nua
pele minha crua
de noites em que te esperei
zelei por teu sono
impiedosamente
afastei todas as serpentes
que poderiam te tirar de mim

Dores,sustos e medo
eram os segredos
dessa longa espera feita
de embrião e alimentos
vindo de um
cordão maternal

E se me fosse dado
outros dias,outros meios
de daria de novo a vida

Para que diariamente
ao olhar um céu descrente
tudo te faria acreditar
de tudo que me despes
ouro, pó, pedras,
roupagem feita de
concreto dos dias vazios


Eu sempre te mostraria
que assim como meus dias
de mãe,de anoitecer
de mãe de te ninar
nasceste da minha poesia
e de meu mais puro versejar
 
 
Adriane Lima
 
Arte by  Igor Sansonov 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Visão especular



Doeu
e porque doeu
retornei de volta ao breu
não me aproximei
do que era seu
 mas, me valeu
do silêncio
apareceu
a palavra
sufoco
e feito louco
aos poucos
me vesti de
sensatez
e pela
primeira vez 
vi no espelho
o mármore frio
de minha realidade
me despi de intensidade
e  vi no amor

quem era eu
quem era você

 



Adriane Lima




Arte by Carol Back 

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Guardador de sonhos



Brinco de eternidade
por um momento
brinca de ser saudade
meu lamento


insólita fico
pedra sem lapidar
sou rio querendo ser mar

mostro fragilidades
feito asa de passarinho
recolhendo em meu ninho interno
meus descaminhos

em sentidos transfigurados
pela passagem do tempo
loba com a vida

guardada por dentro
sem argumento ou exaltação
hoje sou ovelha e mansidão

Céu ideal internalizado
onde teço palavras em nuvens
e busco sementes na árvore da vida









Adriane Lima







Arte by Samy Charmine

Palavras submersas



Que a noite silenciosa
coloque em meus dedos
palavras comoventes
uns versos,uma prosa

que eu acerte a fantasia
e que o sonho se refaça
por vida ou por pirraça

mas que não me deixe
aqui sentada,sem palavras
sem estrada, sem rumo
ou direção

Não quero mudar contexto
roteiros que não planejei
palavras que procurei
sentando-as em fila

talvez agora elas nascessem
em um pote de vidro
um mar monossilábico
onde morro na praia
da semântica encantada

um sinal,além da pauta
além da música que ouço agora
além da memória
livre escolha ,na folha
emendo os nomes das coisas
soltas pelo quarto

eu, livros,cama,drama
peixes na parede
sem rede
sem rima

palavras que hoje vão me abandonar...


 
 Adriane  Lima 
 
 
 
Arte by  Samy Charmine 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Dualidade





Eu sou essa que habita
dois mundos
vejo minha existência comum
entre rotas e calendários
coisas que tem forma
marcações entre
a terra e o céu onde
tento estar
vejo-me envelhecer
através de meus cabelos
das rugas
meu espelho mostra
o que não sou mais
espelho guardado
retrato do que me vejo
e nem sou capaz
vida que poderia
ter sido intensa
valesse a recompensa
por tudo que já passei
sinto-me hoje
em outra esfera
esperando o tempo
de renascer
ninguém conhece o mundo
por trás de meus olhos cansados
Minhas mãos dilaceradas
de tanto oferecer
dar vida aos meus desejos
buscar intensamente
colorir o cotidiano
mas minha voz calou-se
essa não acorda mais espantada
não grita mais minhas verdades

Eu sou essa agora
que preferiu o silêncio das feridas recentes

 



Adriane Lima





Arte by  Karol Bak 

Acordando as cores



O tempo põe cores na vida
pinta de azul o céu das lembranças
de amarelo as fotografias 
de lilás os finais dos dias
de verde as esperanças
de vermelho as vontades
de branco a saudade

podendo ser arte ou sorte
vida ou morte
de fugaz efemeridade
as cores mudam no olhar
de quem passa por elas
cores quentes de verão
ou de uma delicada primavera

silêncio invernal translúcido
mimetizando minhas horas de outono
e com os dedos vou colorindo a tela
sob as cores de meu abandono

de alma,deixo-me levar
roço os dedos no tecido
vou aguçando meus sentidos
na arte vinda da vida

e da vida vindo com arte
dedos e tintas no embate
em uma luta ensandecida
 
 
Adriane Lima

 
Arte by  Robert Doesburg

Minha filosofia



É como se meus olhos
hoje abrissem camadas
de um despertar para
as coisas simples do cotidiano

Pássaros, frutos e flores
terão novos sabores e coloridos
onde ninguém virá mostra-me
outros significados findos
amor rima com dor mas, também rima com
flor

Muda o tempo,mudam as circunstâncias
muda a filosofia do meu querer
manhãs belas nascerão,meus jardins
sempre estarão povoados por seres
encantados e por mim criados

Mesmo que se faça silêncio nos corações
mesmo que faltem chuvas no final da estação a certeza de que o ingrediente necessário para
a colheita está em mim e nas sementes que
resolvi jogar em meu jardim.


Se alguém perguntar porque faço isso
diga apenas que sou aquela que acredita
na vida e no amor
que em meus campos áridos já vi brotar
sementes imagináveis
que do silêncio improvável nasceu o poema
e a pintura.

Que me mandaram viver em espaços
 e eu os quebrei um a um e em minha
vida o único cenário que construí foi esse:
de pássaros, flores e frutos revisitados

em minha sede de viver felicidade

 


Adriane  Lima



Arte by Igor Sansonov

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Crônica : Estranhos Estrangeiros...



Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um poeta que põe em prosa o que a vida põe em versos, e em versos o que a vida põe em prosa.Por isto, permanecerei um estrangeiro até que a morte me rapte e me leve para minha pátria.
Kalil Gibran
O que vem a ser ser um estrangeiro?
Ser o outro, o diferente,dentro de uma maioria igual.O unitário, entre situações múltiplas...
Não é fácil,ter visões que não são complacentes com a maioria e nessa hora é inevitável sentir-se diferente.
E dai, nasce a solidão, não a solidão dita de corpos,de contato e sim a solidão de alma.
Seria isso,se não fossem as descobertas,as dúvidas,os momentos vividos para saber quem é o estranho entre tantos iguais e desiguais ao mesmo tempo,dentro de nós.
Tudo o que nos constitui é uma troca,é uma vivência que devemos estar abertos a receber ou não. O que muitos de nós optamos por cahmar :escolhas.
E assim  podemos ou não,ser estrangeiros dentro de nós mesmos ou do que nos cerca.
Através do que passamos,somos espelhos do outro,quando nos conhecemos, nos damos oportunidades de aproximação e vivência.
Criar outros mundos e permitir-se ,estar pronto ao novo,a buscar um equilíbrio entre o que está contido e o que podemos conter.
Olhares, sabores,cheiros,lugares,formas,atitudes, para se achar entre novas situações.
Vivenciar é se permitir...
Me vi assim....mais estrangeiro em mim do que fora quando viajei a Lima ,capital do Peru.
Me fiz perguntas,vivi olhares,senti medos,escutei meus silêncios,inverti palavras,errei passos,mas me dispus a conhecer,a experimentar,a olhar o diferente.
Entre as pessoas,os sabores,os lugares,as músicas, as cores...delatei verdades guardadas em algum lugar em mim.
Cada dia era uma nova experiência dentro de meus pensamentos,uma saudade sentida,um olhar caleidoscópico sobre as novidades.
Olhei céus de outra cor, vi desertos onde pensei ter mares...provei sabores de frutas novas, falei outra lingua,vi pássaros livres em formações rochosas,eram milhares que mudavam a cor do céu...senti minh'alma voando entre todas essas visões e novamente me lembrei de Gibran: "Sou um estrangeiro e não há no mundo quem conheça uma única palavra do idioma de minha alma..."
Não me senti estrangeiro ali.
Me senti viajante de mim mesmo,ao me envolver ao " frisson" do novo...
E ai me lembrei de uma frase do Caio Fernado de Abreu que diz mais ou menos assim: Destino... isso pode nos soar como nome de perfume,de música,de jogos de cartas de tarôt ,menos de algo que a vida nos dá e que nem sempre acreditamos!!!
E era bem isso mesmo,pois a passagem para lá eu ganhei em um sorteio ,onde mais de quinhentas pessoas presentes,poderiam ser as contempladas.Mas,eu,eu fui a escolhida para viver aquilo.
Temos que permitir que a vida nos presenteie com aromas de destino entre os dias iguais, para que o mundo não seja somente o que temos ao alcance das mãos.
Então, entendi que muitas vezes a vida nos entrega a rotina porque nem sempre estamos preparados para o novo; para o destino...
Sei de pessoas que não se permitem provar novos sabores, a viajar por lugares distantes por medo.
Não provam alimentos diferentes e não se abrem para ver o ciclo da vida, as mudanças das estações,as fases da lua,das marés.
Querem o conforto do que já existe, mesmo que seja o gosto salgado de um choro,o cinza de uma tarde chuvosa,o ácido de uma fruta fora da estação.
Por que isso já está entre suas "cartas marcadas" e dentro da rotina dos dias.
Mas eu não deixei isso acontecer por sorte ou destino não estranhei ser estrangeiro.
Eu pus chuva em meus olhos em forma de emoção ao ver o inesperado,ao ver desertos soprarem areias mágicas em meus cabelos,respirei fundo em lugares que jamais irei esquecer, por mais diferentes de tudo que fossem aos meus pés de estrangeiro.
E então me pergunto hoje de que valem tantos caminhos abertos de não ousarmos traça-los.
Se muitas vezes nos tornamos cegos e surdos diante de tanta beleza que existe no mundo e toda essa imensidão.
Colhemos vaidades em forma de medos essa é a grande verdade.
Temos medos de conhecer olhares de mulheres, homens,jovens,velhos, animais,crianças que nos encaram e questionam o que habitam em nossos porões.
Por isso dizemos não as viagens que poderíamos fazer por ai.
E aqui cabe Pitágoras feito luva:" o homem é mortal por seus temores e imortal por seus desejos."
Somos desejosos do certo e temerosos ao que pode nascer de vozes internas, afugentamos o novo por defesa ,caimos em nosso próprio exílio,queimamos sonhos de cenários desconhecidos.
Quanto tempo perdido, quanta vida jogada fora...
Quantos homens estrangeiros de sí mesmo por frustrações ou  sonhos que não se permitiram viver.
Ainda bem que me permiti partir...e irei quantas vezes puder ser estrangeiro de mim mesma.
Quero ser a cada dia meu Ìcaro,voar alto, me queimar em sóis escaldantes...mas voar.
Quero ser sempre minha Joana D'arc , acreditar em minhas verdades, mesmo que isso me custe fogueiras (menos a da vaidade!! ).
Quero ser meu Fernando Pessoa, ter minhas loucuras,minhas mil faces e nunca fixar-me em portos de solidão.
Ser meu viajante meu estrangeiro...
Ser tocado por muitas almas.
Ser sempre encantamento onírico do que possa vir depois...
Adriane Lima

( Imagem : Robert Doesburg )
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