quinta-feira, 23 de novembro de 2017
No azul da noite
Alimento minha solidão e medo
como alimento meus gatos
De hora em hora
com as mãos cheias de grãos
cercados de amor
Adriane Lima
Arte by Alberto Tamburro
Cores da dor
Quando a branca manhã vier
estarei debruçada
em minha
negra solidão
Saberei acordar e
não arquear as costas
nesse peso solitário
de carregar nela
o medo do dia
Adriane Lima
Art by Thuc Tran
negra solidão
Saberei acordar e
não arquear as costas
nesse peso solitário
de carregar nela
o medo do dia
Adriane Lima
Art by Thuc Tran
Silêncio de um eco
Há muito me despi
do paraíso
rasguei véus
envoltos em lutas
que não sei nomear
Cansei de morrer
em combates
contra mim mesma
Adriane Lima
Art by Dino Valls
O que resta em mim
Queria ser movida
por algo que não fosse
a contraditória fé
Queria ser tocada
por algo que não fosse
a ilusória arte
Queria ser tudo
que não fosse Amor
Adriane Lima
Arte by Al Saralis
quinta-feira, 26 de outubro de 2017
Tempo de estrelas
Sonhei fazer
tantas viagens com você
percorrer o mundo e
em seus olhos
enxergar belezas
Perdi seu endereço
e todas as ampulhetas
de medir o tempo
me mostravam
Um trem para
as estrelas
Adriane Lima
Arte by Van Hole
Desconstruo a elegia
Sei que é primavera
os pássaros e as flores
se mostram em tal cena
diante de minha janela
Sigo cansada de humanizar
tudo que vejo ao abrir os olhos
nesse mundo que habito e
sou habitada
Há uma casa em mim
que fraqueja ante qualquer vento
admiro cada dia mais
os corajosos que expõem
rachaduras, vazantes e abandono
Ando distante
desses que se dizem mestres
e não me dizem nada
com suas citações de autores
de livros amarelados
os corajosos que expõem
rachaduras, vazantes e abandono
Ando distante
desses que se dizem mestres
e não me dizem nada
com suas citações de autores
de livros amarelados
comprados em sebos
Comecei cedo
a ter olhos de paisagens
falar com os animais
ser essa tola, verdadeira e
sentimental demais
Sem sede de poder
e de palavras
Adriane Lima
Arte by Muge Basak
Comecei cedo
a ter olhos de paisagens
falar com os animais
ser essa tola, verdadeira e
sentimental demais
Sem sede de poder
e de palavras
Adriane Lima
Arte by Muge Basak
Vertentes de um pulsar vazio
Nem todas as palavras me cabem
em horas cotidianas
são visões emolduradas
através do vidro empoeirado
onde um leve sopro de aragens
me faz companhia
Meus olhos que sempre viram tudo
agora embaçados, se negam o longe
Chego a brincar de desvendar o outro
o que pensa a moça que olha o céu
o velho que pausa de cabeça baixa
o cão que se lambuza de restos
Somos marionetes da rotina
a correria não nos deixa ver
em um universo tão visual
Letreiros, sinais, setas, indicam o vazio
de um cordão umbilical que se partiu
e tudo, é tão nada
Sou meus olhos,
a procurar uma solidão vasta
enxerguei tarde
no desvão de imagens
Onde tudo são sensações
sem linguagem
do tempo íntimo da vida
Adriane Lima
Arte by Xavier Pesme
quinta-feira, 19 de outubro de 2017
A leveza dos dias
Ele carrega nas costas
minha torre de Babel
as mil línguas que falo
e outras tantas que calo
Vivemos a imensa astúcia
de trocar intuições
Adriane Lma
Arte by Alessander Sulimov
Naufrágios
Ele disse a ela
que tudo o que
mais queria era
a(mar)
mesmo assim
nunca navegava
ao seu lado
Adriane Lima
Arte by Wendy Ortiz
Tempo e poeira
Estou ficando como a
minha casa
retendo histórias
restos inúteis
mobílias, vestes, utensílios
sem o toque febril
do que pulsa
criando nódoas, espinhos,
papéis que ninguém lê
jardineira
bailarina
caçadora
fantasias que visto
onde me encontro
encardida
cheia de excessos
cheirando a guardado
ocupando o vazio
visitada por olhos estranhos
abandonada
me resta ir
morrendo aos poucos
feito a casa
onde me encontro
Adriane Lima
Arte by Jaque Hudson
me resta ir
morrendo aos poucos
feito a casa
onde me encontro
Adriane Lima
Arte by Jaque Hudson
quarta-feira, 18 de outubro de 2017
Sal e silêncio
Ontem a felicidade
me fez vazar
através dos olhos
verti água
da mais pura alegria
ao gargalhar
e ao mesmo tempo
lágrimas derramar
Aquilo que me toca
me faz vazar pelos poros
eriçar pelos
pele e intensidade
Ao ser penetrada na alma
vazo salinidade pura
que dentro de mim
guardada estava
para se espalhar corpo
à fora
Minha liquidez vai se perder
ao me doar a um mundo árido
Adriane Lima
Arte by Roberto Ferri
através dos olhos
verti água
da mais pura alegria
ao gargalhar
e ao mesmo tempo
lágrimas derramar
Aquilo que me toca
me faz vazar pelos poros
eriçar pelos
pele e intensidade
Ao ser penetrada na alma
vazo salinidade pura
que dentro de mim
guardada estava
para se espalhar corpo
à fora
Minha liquidez vai se perder
ao me doar a um mundo árido
Adriane Lima
Arte by Roberto Ferri
segunda-feira, 18 de setembro de 2017
Um dia de cada vez
Por você eu já perdi tanto
tanto tempo de espera
tanta certeza do que eu era
entre noites insones
Foram tantos sonhos vãos
tantos medos guardados
tantas lástimas por dizer
tantos versos por escrever
tantas verdades perdi
tantos lugares esqueci
Tantos amigos sumiram
outros tantos descobri
tanta prudência guardei
tanta loucura vivi
tanto me embriaguei
tantos desejos aplaquei
Por tantos céus me calei
entre tantos chãos que busquei
de tanto atônita ficar
foi que percebi que ganhei
meu despertar
Adriane Lima
Arte by Aydkut Aydogdu
domingo, 10 de setembro de 2017
Ausências
Tua mão era segura
porto, colo ou teia
um doce alento
em mundo onde
dedos tocavam
o desejo breve
eu que sempre fui
de fazer dramas
rio alto toda ruptura
bem sei que
toda trama se despe
de todo afeto insólito
sem rastros de amarguras
Adriane Lima
Arte by Cristina Fornarelli
Adriane Lima
Arte by Cristina Fornarelli
Amabilidades
Não foi sequer necessário
um gesto de brutalidade
para fazer os seixos dos rios tão perfeitos
o que flui tem amabilidade e doçura
a água com sua leveza e movimento
deu-lhes formas complexas embora duras
penso assim ao lembrar de você
o silêncio e vazio entre nós
esculpiu sentimentos fortes
aprendemos que o amor
deixa marcas que nem sempre
precisam doer
Adriane Lima
Arte by Galya Bokova
para fazer os seixos dos rios tão perfeitos
o que flui tem amabilidade e doçura
a água com sua leveza e movimento
deu-lhes formas complexas embora duras
penso assim ao lembrar de você
o silêncio e vazio entre nós
esculpiu sentimentos fortes
aprendemos que o amor
deixa marcas que nem sempre
precisam doer
Adriane Lima
Arte by Galya Bokova
sábado, 9 de setembro de 2017
Quando o medo se enganou
É provável que eu atravesse
essa noite escura
esse gélido pesar
esse sonho de juventude
essa falta do que falar
Toda cicatriz já
foi porta para o abismo
restos de cinismo
palavras tão usadas
em embates esquecidos
rostos que reconheço
ruas que pisei
amuletos que guardei em bolsos
tudo se faz presente
e é bem provável
que tudo não passe
de motivos para rir
tempos depois
Adriane Lima
Arte by Escha van der Bogerd
sexta-feira, 8 de setembro de 2017
Estáticos colibris
Como ouvir a voz
que me chega ao fim da tarde
como entender a pergunta
que vaga em tamanha naturalidade
esqueça qualquer resposta
dita em delicadeza
a verdade está exposta
dentro da gaveta
do criado mudo
acorrentada a dor
do descontentamento
trincando dentes que
por alguns anos
sorriam reconhecendo
o engano e tantas
demoras
Adriane Lima
Arte by Graszka Paulsk
O blues de minha noite
Pudesse uma flor,
um luar , um poema
pudesse qualquer esperança
amortecer o peito
das turvas águas das lembranças
a desaguar
no cais de minhas mágoas
pudesse abraçar
o tecido da memória
e adormecer
a palidez das horas
Adriane Lima
Arte by Max Winger
Um céu para se agarrar
Alguns homens que amei
me traíram
Não a mim
corpo, carne e sexo
e sim
a minha alma e memória
Vivendo com as outras
os mesmos versos,
as mesmas músicas e histórias
Sim, toda forma de entrega
é ilusória
Amamos a nós mesmos
com a força perene
vulnerável à qualquer amante
Adriane Lima
Arte by Muge Basak
Artifícios
Faz comigo uma viagem
uma tatuagem
algo para marcar
faz comigo uma bobagem
dessas que só o amor possa
depois justificar
Adriane Lima
Arte by Marty Mccorkle
Janelas do mundo
Em tempo de flores
tão leves e tuas
tão frágeis e minhas
ou de tantas outras
que nos teus olhos habitam
como cada dia, teço a vida
abro a janela esquecida
ao juntar palavras e amor
com um tom de gratidão
e através da alegria
vivo
essa paleta de pintar o mundo
Em paz ...
Adriane Lima
Arte by Galya Bukova
domingo, 20 de agosto de 2017
Prosa para pessoas sensíveis IV
Vovó dizia: - minha filha, a arte quebra certezas, abre imensas fissuras, por onde passam gestos direcionados aos que vivem sonhos, bagunçando folhas e cabelos, feito ventania em dia calmo, (o que está interno não se abala).
Assustei-me, não mais me acostumara aos que tinham olhos para dizer palavras espontâneas e verdadeiras.
Pensei em meu silêncio pouco artístico: nada mais em mim era reflexo dessa leitura que ela via.
Ando mesmo é contraditória, não compreendo poetas que vendem-se em citações desenfreadas os pedaços de sua poesia.
Adriane Lima
Arte by Svetiana Tikhonova
O uniVerso que não voa
A luz de um dia cinza
trouxe-me nebulosas lembranças
a cor de teus cabelos
as muralhas avistadas
em teus enigmas
o riso trêmulo
feito asas que vacilam
ora queriam mentir, ora calar
as mãos pequenas
envolta em flores
fico hoje em silêncio
e perplexidade
vigiando meus pensamentos
sentindo as mudanças
vivendo a decadência
de todas as qualidades
que enxerguei em você
intuo assim que meu coração
continua verdadeiro e em paz
anterior e posterior a tudo isso
Adriane Lima
Arte by Carla Colombre
segunda-feira, 24 de julho de 2017
Adentro in pele
Acordada
encho meu corpo de tatuagens
ao sonhar
me vejo sempre nua
hieróglifos antigos
não decifrados
Adriane Lima
Arte by Tony Rubino
A melancolia veste azul
Com as mãos cheias de estrelas
o gesto em conchas
guardo o brilho, que só eu vejo
fixo o olhar em suas cicatrizes
salpicadas de luz e escuridão
entre o que meu olhar capta
há um imenso monte de areia
que imagino o Olimpo de um deus grego
cujo vento plastificou o rosto e os cabelos
paralisando a imagem em meu peito humano
no fundo eu sei
que é você, que enterro
a vida torna-se apenas silêncio
meu suspiro abafado é golpe de ar
um lastro de melancolia e riso
são tantas dores cristalizadas na alma
voos eufóricos que morrem no asfalto
tudo agora é incerto
e quando o pôr do sol
vem me visitar, nunca sei
se é apenas uma cena de filme de amor
Adriane Lima
fixo o olhar em suas cicatrizes
salpicadas de luz e escuridão
entre o que meu olhar capta
há um imenso monte de areia
que imagino o Olimpo de um deus grego
cujo vento plastificou o rosto e os cabelos
paralisando a imagem em meu peito humano
no fundo eu sei
que é você, que enterro
a vida torna-se apenas silêncio
meu suspiro abafado é golpe de ar
um lastro de melancolia e riso
são tantas dores cristalizadas na alma
voos eufóricos que morrem no asfalto
tudo agora é incerto
e quando o pôr do sol
vem me visitar, nunca sei
se é apenas uma cena de filme de amor
Adriane Lima
Arte by Wayne Pruse
quarta-feira, 12 de julho de 2017
Em defesa própria
Um dia idealizei teu corpo
animal que pensei voraz
e era extinto
real em solidão inaudita
suas palavras sórdidas
viraram feridas
Quem é você hoje?
visível repetição de gestos
herdeiro de dores
vestígios de olhares
que se fazem novos
mobílias presas,
em suas ilhas
músicas dedicadas
em meio à leituras,
que inventavas
em plena insônia
eu rio bem alto
das evidências
os buracos no peito
ressoam avessos
a toda engrenagem
e minha melhor escolha,
foi a de colocar um cadáver
em seu lugar
Adriane Lima
Art by Alisson Hill
Adriane Lima
Art by Alisson Hill
terça-feira, 11 de julho de 2017
Águas e memórias
estarei longe
e meus olhos estarão no mar
úmidos, ondulantes,
recuando nas areias
do pensamento
o amor só entende
a mágica linguagem
da coragem
ruínas, ossos, voragens
e eu
de desfechos
quando o amor chegar
já não me fará surpresas
seus gestos não serão puros
seus braços apagarão estrelas
desviadas do olhar
as palavras-peles
estratégias que não sei
me esquivar
sobre as águas, memórias
flutuantes, o ir e vir
e o ficar, condensadas
em tempo artificial
quando o amor chegar
estarei morta
ele será a centelha do universo
e eu finalmente,
livre da espera de amar
Adriane Lima
Art by Galya Bukova
Adriane Lima
Art by Galya Bukova
segunda-feira, 10 de julho de 2017
Inocentes ou culpados
Chegará um tempo
que tudo o que vivemos
palavras que dissemos
deverão ser esquecidas
elas não serão mais nada
além de sonhos e desatinos
numa tentativa indisfarçável
de reter o que não mais abrirá caminhos
não diminuirá distâncias,nem
parcas e velhas lembranças
ou sonhos brotados entre meras ilusões
chegará um ponto
que nada mais fará sentido
além da máscara colada a pele
entalhada no brilho do medo
ou da decepção
um dia sentaremos na sarjeta
olharemos estrelas mortas
brindando o que sabíamos
ser só desejo
abrindo os abismos da alma
com a suavidade da voz
do grito contido
pela palavra que nunca foi dita
e que nunca saberemos onde foi parar
Adriane Lima
Art by Aykut Aydogdu
além de sonhos e desatinos
numa tentativa indisfarçável
de reter o que não mais abrirá caminhos
não diminuirá distâncias,nem
parcas e velhas lembranças
ou sonhos brotados entre meras ilusões
chegará um ponto
que nada mais fará sentido
além da máscara colada a pele
entalhada no brilho do medo
ou da decepção
um dia sentaremos na sarjeta
olharemos estrelas mortas
brindando o que sabíamos
ser só desejo
abrindo os abismos da alma
com a suavidade da voz
do grito contido
pela palavra que nunca foi dita
e que nunca saberemos onde foi parar
Adriane Lima
Art by Aykut Aydogdu
A brevidade das verdades
Existe o espaço contemplativo
que desaprendi a deter
onde flores vistosas
perdem a cor, secam
em um tempo feito para morrer
Não poderia ser diferente
a visão dos dias idos
deixam apenas resistência
a minha interna vã filosofia
Tantas coisas simples morrem
em mim, e não há nada que
se possa fazer
areia em meus olhos
pesar em meu peito sempre desprotegido
Sussurro uma canção que gosto
para esvaziar o pensamento
algum vazio atinge os ossos
por essa eterna mania
de viver perdoando os fracos
Adriane Lima
Art by Aykut-Aydogdu
quarta-feira, 5 de julho de 2017
Fria constatação
Depois daquele amor
que um dia
só me deixou feridas
sou livro raro
sou página que nunca
será lida
Adriane Lima
Art by Escha van en Bogerd
O risco das palavras
Nas frestas das manhãs
colho os dias sem sentido
labirinto esse, que sigo
para encontrar saídas
vivendo mortes diárias
uma vida sedentária
de se estar sempre perdida
estrangeira de meu útero
não sou a de outrora
aqui dentro ou fora
a imagem no espelho
me devolve todo dia
o que internamente já sabia
tempo de fragilidades
riscos na pele, suturas
alma enternecida
sem roteiros previsíveis
sem poder saciar a fome
das verdades que gritaria
é um tempo, dentro do tempo
um dia depois de outro
em uma manhã depois da outra
e a rosa de meus dias
sucumbe em poesias
Adriane Lima
Art by Aykut Aydogdu
Adriane Lima
Art by Aykut Aydogdu
Das inúmeras razões
Nunca me salvo de mim mesma
aprendi a morrer todos os dias
afogada, decapitada, pisoteada
morro com as vísceras arrancadas
sob o olhar sádico dos que me cercam
sou a única que habita minha solidão
permito degolar-me para o silêncio
ser minha eterna aliada
diante dos lobos e homens lobotomizados
brindo com eles o mais puro vinho dos deuses
em grandes goles desse rito diário
que é ver a morte aconchegar-me
nos braços amantes e amigos
de quem já matei bem antes
em cada manhã distante
Adriane Lima
Art by Juan Medina
Desmedidas
Tudo cabe em um poema
os olhos que nada enxergam
as mãos que nada seguram
os pés paralisados
as dores inexistentes
tudo cabe em um corpo
que nada sabe
que nada sente
então para a poesia resta a alma
essa que roubam
E nunca devolvem
Adriane Lima
Art by Angel Ynanov
Sobre a pele da alma
O dia se abre em asas
forma de um livro
que leio
pela noite que vagueio
da insônia em companhia
o dia chega e se abre
pétala por pétala
vida que me veste
em casulo solidão
voar é assonância da alma
que a poesia me deu
e sinto que do eu
só resta o que doeu
Adriane Lima
Arte by Rob Hefferan
terça-feira, 9 de maio de 2017
Poema alado
Encontrei uma palavra
embaixo do meu
travesseiro
pensei ser uma estrela
vinda do céu de minhas
lembranças
Palavras guardadas
onde não se imagina
me enchem de
esperanças
Adriane Lima
Arte by Sophia Bonatti
Tempo contraditório
Precisei ver a vida de perto
colher frutos do mistério
romper dores escondidas na alma
escalar degraus de minhas angústias
gritar aos recônditos de meus silêncios
era hora de correr os riscos
e adormecer no ventre do Amor próprio
Adriane Lima
Art by Santiago Carbonell
sábado, 29 de abril de 2017
Notícias do tempo
Sinto que a vida passou
e eu não estava presente
Sinto minha menina
orvalhar no tempo
que meus olhos não registrou
Adriane Lima
Art by Rebecca Tecla
O querer
Meu peito
tem um grave defeito
abre, cuida, guarda,
sofre e se consome
quando ouve a palavra Amor
Adriane Lima
Art by Galya Bukova
quinta-feira, 27 de abril de 2017
Dores outonais
Quero sentir que estou viva
preciso do caos
dos risos largos
dos abraços em pele
seguido dos beijos
preciso saber do desejo
do olhar intenso
de tantas coisas que deveriam importar
do cheiro do mar
do vento a soprar
das esquinas dos bares
das ruas floridas
do gosto de algumas comidas
do sono tardio em noites de frio
das palavras verdadeiras
das dores reais
quero sentir que estou viva
arrancar esses sentimentos extintos
dessa vida interminável
revestida de melancolia
Adriane Lima
Art by Steve Hedenrson
quarta-feira, 26 de abril de 2017
O que há no peito humano
Não há nada além
de tudo que já perdemos
tirar leite de pedra
sempre foi mais ameno
Amor vem da força do verbo
que ainda semente
nos salva da valiosa realidade
dos traumas, dos medos, dos inimigos
Tudo cabe no estreito vão de nossas escolhas
o sonho da ficção naufraga a dor
lembro de meu voo em vórtices
os passos perdidos pela casa
os degraus de minha perturbação
Poderia ter inventado a liberdade
não a clausura do silêncio impossível
o abismo amargo ao tragar fumaça
entre as coisas humanas
que me consomem
Onde me distraio
trancando portas e janelas
e em minha fragilidade
tudo se entrelaça
Salvo meu gato escaldado
da água em ebulição
Adriane Lima
Arte by Van Holle
As estações do tempo
A flor do desejo
em tuas mãos jardineiras
tirou-me pétalas a pétalas
na trilha do peito
guardei impermanências
novas sementes
espalhei em solidão
não havia paz em canto algum
mãos feito heras internas
agarravam-se ao vento
sem esperança de primaveras
Adriane Lima
Arte by Alisson Hill
Adriane Lima
Arte by Alisson Hill
Marcas me doem
Tento blindar
a alma das dores
elas atravessam
através de rumores
Sussurros chegam
em ventos inesperados
bocas famintas
que não sei alimentar
ruídos intensos
sabem como estilhaçar
meu coração
Adriane Lima
Arte by Iris Scott
em ventos inesperados
bocas famintas
que não sei alimentar
ruídos intensos
sabem como estilhaçar
meu coração
Adriane Lima
Arte by Iris Scott
sábado, 15 de abril de 2017
Ora direis, criamos flores
Eu sei quando te amo
quando penso em você
e sorrio com os olhos perdidos
quando levanto e vou até
o meu jardim com uma xícara de café
nas mãos, lembrando sua indicação
de que era preciso
tirar a água antes que fervesse
quando ando pela casa pensando
o que fazer ao entardecer e tendo
a certeza da solidão como companhia
quando faço a grande alquimia entre
mil temperos e cheiros e danço na cozinha
como fazíamos aos domingos
quando minhas dores cinzas
transformam-se em tons alegres
e relembro de tantas coisas que aprendi
quando com minhas sombras me confundo
e busco teu corpo para abraçar
eu sei quando te amo
quando todas as metáforas fazem sentido
e sei que tudo na vida,
não valem os poemas que li
os medos dos quais fugi
quando não é mais segredo
as letras, as histórias, as bebedeiras
os lugares, as situações inenarráveis
que guardarei na memória
Adriane Lima
Arte by Geraldine Muller
sexta-feira, 14 de abril de 2017
Onde deixei minha via crucis
nesse dia silencioso.
A poeira tomou conta dos batentes
e tudo que penso é no vazio da queda
das formigas que por lá passeiam.
Até os pássaros resolveram não cantar.
Começo então, a contar tudo,
que está ao meu redor: ladrinhos,
árvores, galhos caídos ao chão.
Percebo então, os paradoxos desse mundo cão.
A lagartixa negra camuflada na parede branca,
a grama que cresce e mata as flores,
o animal que urina onde se alimenta,
o céu azul que é peso e me dói nos ombros.
E essas horas tristes, que nunca passam,
sempre um outro tempo de decepções.
Cristalizo-me por saber que de nada adiantaria
inverter o passo, correr para trás o tempo.
A dor de não pertencer a nada, só não é maior
que todos os sonhos roubados.
É dia santo bem sei, e toda verdade que há em mim
desfez os laços das mentiras que há em ti .
Abri minha caixa de mágoas, joguei uma a uma
na água escorrida da sarjeta e fui buscar minha alegria
exilada em alguma esquina, onde a vida já me sorriu
e eu distraída não prestei atenção.
Adriane Lima
Arte by Jan Saudek
Arte by Jan Saudek
Adocicados enganos
Eu sou aquela
que faz bonecos de neve
em pleno trópico quente
luta contra moinhos de vento
em pleno deserto da mente
escala montanhas de sonhos
deitada no sofá da sala
que retira a lama
tendo os pés em nuvens
a que doa o punho à navalha
sabendo que não corta nem água
que deseja a alma suja
retirando poesia dos dias
a que possuí castelos
e dorme na alcova
oposta a tudo
libertária de pássaros
em pleno voo
eu sou aquela
assustadoramente só
Adriane Lima
Arte by Galya Bukova
De onde vim
Vivi para inventar
um tempo que nunca existiu
um amor que nunca ficou
uma dor que nunca passou
um caos que perpetuei
uma morte que não engoli
uma coragem que nunca tive
a palavra, o gesto, a poesia
o assombro ao criar dores
cortando-se diariamente
para beber o próprio sangue
pedir perdão ao átimo
onde a realidade fugiu,
onde a corda rompeu,
onde o sonho acabou...?
e chegar ao outro lado
salve guardada de meus pecados
por ter matado aos poucos
minha plena vontade de vida
Adriane Lima
Arte by Kari Lise Alexander
Tempo de doer
No começo de mim
era rio, pastos alagadiços
terra de chão batido
muros baixos, caminhos livres
Novo tempo de mim
varandas altas, apartamentos
ruas desconhecidas
onde aprendi decorar nomes
Esse tempo de mim
de perdas, descaminhos
sonho de um lar, caos sem casa
pedaços esmagados em solidão,
Nas profundezas de mim
feita de mortes dos sonhos
onde hoje, os rios são rostos
que passam e se modificam
As margens de mim
sem paradas, seguem fluxos
entre os dias que no leito
eu mesma, teimo em não mais, adormecer
Adriane Lima
Arte by Forooghi Forooghi
quinta-feira, 13 de abril de 2017
Olhos narcísicos
Diante de um encanto
sou lírica em demasia
vejo além do que meu olhos alcançam
em métricas fotografias
sou enquadramento, a lente
desse seu olhar de poesia.
Adriane Lima
Arte by Charmanie Olivia
quarta-feira, 12 de abril de 2017
Quisera saber
O tempo, mora em uma casa que ele pouco frequenta.
Sabe seus costumes, suas lendas, sabe das saudades apenas um terço.
O tempo devora em mim o que decifro.
Mesmo que doa em nós, as diversas casas que não habitamos ...
Adriane Lima
Arte by Marina Diel
Quedas míopes
Dos abismos que há em mim
não sei porque é assim
mágoas não se dissolvem
em lágrimas livres
presas em abraços
Adriane Lima
Arte by Alessander Levausser
Assinar:
Postagens (Atom)