terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Plenitude de voo

 
 
 
Ensaio o voo
suavemente plano
sobre a superfície
de teu corpo
 
escandalosamente
me ergo e desvio
de tuas mãos
atando-me os cabelos
 
o frêmito dos corpos
e nossas singularidades
 
vejo olhos inclinando-se
diante de minha romântica
atitude de sorrir e quebrar
o silêncio dizendo :
 
minha asa nasceu para
voar sobre ti
 
criamos levezas
sobre tudo que pesa
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
 
 
Arte by  Ines Honfi

Felicidade clandestina




Não me olhe
com esses olhos
de infinito
perdidos, vagos
esperando
que eu
os faça falar

Não me olhe
com esses olhos
de chão
assertivos, completos
antecipando
que eu
os silencie

Assim morremos aos poucos
desejosos da existência
em desvendar felicidade

 




Adriane Lima








Arte by Dorina Costras 

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Sobre um tapete mágico





Tuas mãos tentáculos
num rastro de fogo
queimando em silêncio
até sentir todo sereno
desalinhar paisagens
no extremo do grito
o marujo salva-vidas
quem diria, possuía a
magia de conhecer instintos
dessa sede que me inunda
 





Adriane Lima








Arte by  Amanda Russian

Envolta e absoluta




Espreguiço a alma
por pura contração
do verbo
a palavra anda amarrada
ensaio uns passos
de silêncio
ergo a saia das pestanas
nebulosa é a vaidade
que toda arte
é confissão de pecado
que se afia nas garras
do inconsciente







Adriane Lima





Arte by  Giuseppe Musccio

Onde a asa fez pouso





Meu coração
sem bússola
tantas vezes
perde a direção
 
culpa do romantismo
que me faz
correr o risco de errar
ao ignorar caminhos
 
fui aprendendo com eles
na curva dos lábios
nos olhos furtivos
nas mãos umedecidas
 
agora já não sei mais
se me rendo, se me arrependo
se saio do eixo
e deixo o coração me levar 







Adriane Lima






Arte by  Juan Luiz Marsalles

Nuvens e labirintos

 
 
Fomos um lugar inabitado
sentimento de alma sem bagagem
fomos aragem
areia do tempo
hoje dunas
 
contornando margens
e esquecimento
 
e não desaguamos no (a)mar 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
Arte by  Alexandra Marnukian

Algas do pensamento

 
 
 
Hoje encontrei
aquela concha
que trouxe do mar
por um segundo
ouvi teu nome
ao vento
querendo me arrastar
para o marulhar do mundo 






Adriane Lima






Arte by Jean Pierre Leclercq

Uma ode ao paraíso



Rodeada de passarinhos
bem me vi, flor
minha pele, um poema
vontade, êxtase e torpor
vivendo dentro de algumas bocas







Adriane Lima











Arte by Catrin Welz Stein 

Horas curvas




O amor entorpece, tem
um gosto de amoras silvestres
cabe tão bem em meus braços
anda comigo em meus passos


o amor é arritmia
cabe em pontas de dedos
como minha poesia




Adriane Lima









Arte by Juan Carlos Manjarrez

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Linha do tempo





Eu fui te lendo
te encontrando
intuindo

eu fui te lendo
te perdendo
advindo

que todas as palavras
haviam sido gastas

foi então que a poesia
tornou-se a alforria
para meu coração









Adriane Lima








Arte by  Andrew Shout

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Fio invisível



Sim, eu sei
muitas vezes
são tênues
os arroubos da paixão

tantas outras
ainda perfuma
feito flor
que foi ao chão

 





Adriane Lima








Arte by Seth Garland 

Entre lâminas e acetato





O corpo
indócil tecido
emitindo, recebendo
rasgando, cerzindo
fulminante quimera

os olhos, as mãos
espaços diante a
carne viva da matéria

o grito, o sussurro
desatam estrelas
em azuis bordados
desvelando a antimatéria

a alma rasgada
desata a entender
humano transcende
reconhece o querer

o teor de um canalha
a miséria, a migalha
entre bocejos do dia

mora no peito
a vã nostalgia
essa flor delicada
em pétalas derramada
feito a fantasia
que despi

 






Adriane Lima







Arte by  Elisa Terranova

Lua Colombina




Havia na chuva
imenso clarão
as minhas certezas
caíram ao chão

foi moto contínuo
foi pura emoção

borboletas no estômago
viraram refrão
antes que acabasse
o beijo, o olhar
o buscar de tuas mãos

fantasia ou verdade
no meio da tarde
até o amanhecer
fui lua colombina
crescente em você

fiel ao espanto
enquanto durasse
o nosso prazer
fui água de mina

pronta para se beber

esse breve encanto
que o sol era tanto
desejo e querer

falamos esperanto
brindando o fim
prestes a acontecer

 





Adriane Lima





Arte by  Albert Ablert

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Ao encontro de Chronos

 
 
É de encanto
a poeira do tempo
purificada pela
nudez do sonho
 
escudo, ponte
carícia ou açoite
 
a flor da noite
me leva ao mais
fundo de mim
 
um ar insólito
me apossa e
me alegra
 
sou a dona
dessas horas
roubadas
 
tenho o poder
de possuí-las
em minhas recordações
 
amo viver o que
me escapa
o que me adentra
na memória levarei
 
só mergulhando
um dia sairei
 
 
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
 
Arte by Beth Conclin

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Trilhas sonoras



Há uma grande diferença
entre suor e essência
o cheiro deixado
e o perfume lembrado
 

há uma sutil diferença
entre desejo e paixão
a loucura do risco
e toda essa absoluta
falta de explicação






Adriane Lima





Arte by Jean-Pierre Leclercq
 

Paisagem avessa




Hoje você me diz
que criou expectativas
de um amor silenciado e feliz.
Só poderia dar errado
o que sinto, não faço brinquedo
logo, não iria guardar
nosso amor em segredo







Adriane Lima







Arte by  Christian Schloe

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Asas felinas





Meu gato anda como eu:
não pode fazer
tudo o que quer

olha pela vidraça com
olhos tristes, distantes
um ar desconcertante

Meu gato vai ficar como eu
atado ao que é seguro
nem tenta pular o muro
e tecer os mistérios do mundo

Meu gato age como eu
tem atração pela lua
e suspira sabendo o cio
sobre os telhados
e fica deitado bocejando ao sol

Meu gato está virando
minha sombra
ou eu a dele
procurando a felicidade
pelo instinto
mais do que, pela razão

Meu gato e eu
andamos individualistas
não gostamos de visitas
enquanto ainda é dia

Já acumulamos energias
fraquezas e poesias
um estado de espírito perceptivo

Temos um conhecimento de alma
que se comunicam entre si
esses dias quase que em prece
eu lhe pedi :
não sejamos como Tântalo
desejando o impossível

Das sete vidas que tens
vejo-me nelas refletida
através desse olhar sobre o amor

já errei sete vezes seguidas
assim como meu gato
preciso parar de sonhar

pobre de nós
lutamos levados por
nossa natureza cansada

 




Adriane Lima







Arte by Anatoly Korobkin  

Verbo cotidiano






Cada gota
de teu verso
soa em mim
unicidades


casei-me
com o silêncio

teu amor está
sempre perto
sou eu, que
me sinto longe








Adriane Lima








Arte by  Boucher Pied

Breve e infinito

 
 
Longa ou breve
a vida com amor
é sempre mais leve
 
não vá falar
que meu verso
é breve
errante feito ave
 
verso de afeto
é sempre pobre
onde todas as
rimas, já foram feitas
 
regressemos aos
hieróglifos
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
 
Arte by  Sergio Cerchi
 

Azul quebranto





Inauguro-me
incontida
ninfa de água doce
em teus lábios
dissolvida
 

noites em lençóis
de nebulosas
desaguo-me inteira
em tua palma
 

água nômade
que já conhece
os caminhos

que você inventa






Adriane Lima





Arte by Sergio Helle 


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Da importância de florir

 
 
 
 
A semente pode não saber
o que vai lhe acontecer
 
ela jamais conheceu a flor
segue em direção a luz
rompendo a batalha do solo
 
acreditando na importância
das chuvas e do sol forte
através de sua força interior
 
rompe perigos, intuindo
que sua cruz é enfrentar
desafios e florescer
 
transformando-se na flor
que ela nasceu para SER
e enfeitar o mundo 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
Arte by  Voider Sun

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Onde as almas se comunicam





Vens e me pergunta
o que é essencial
o que me eleva
para buscar o meu Tao

é sempre o dia
do juízo final

então lhe pergunto
o bem vencerá o mal?

no jogo verbal
o que se confessa
não se preconiza

eu sou filha de Chronos
e por ele engolida

o que é essencial ?

vejo o lobo se fazer de cordeiro
para alimentar a matilha

a calmaria do boi
esquecido que foi touro

o mundo submerso
no inconsciente

onde enxergar nisso
seleção natural

essencial é viver com o que
lhe pertence
com o que lhe seja ardente
e consumido pelo espanto

nunca o jogo alto
de uma vida pequena
pouco importa acharem
que eu perdi o senso

quem vai parar
para ouvir o que penso
minha alma perdeu a cor
entrou em calma excessiva

ah, o grave desentendimento humano
as verdades silenciosas
de tantos protagonistas

essencial hoje
é não me perder de vista








Adriane Lima







Arte by  Juan Miguel Cossio






 

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O céu do oblíquos


 
 
 
A vida floresce sobre as ruínas

a alma está na flor
a lótus que detém
suas raízes na lama
sorri das  cicatrizes
 
e tudo se transforma
 
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
Arte by  Kristin Vicari
 

Sobre a morte da leveza


 
 
Cansa-me os olhos rasos
as habituais superfícies
desejo as veias profundas
onde a exigência da vida
torna-se estado de peso
 
essa estranha sensação
que falta a engrenagem de tudo
olho o pingo da chuva anônimo
que matou a borboleta
 
a água caída formando
um aguaceiro, sem freio
 
-não direi nada de ternura
 
a água levou
o que estava no ar
e meu inúteis olhos
a tudo assistem
 
sob eles está a terra
que irá engolir a borboleta
peso e leveza
em estado de graça
 
como meu destino humano
desfazendo pegadas
recolhendo ossos
tecendo o prenúncio
de minha própria eternidade
 
 
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
 
Arte by Koey Milk
 
 
 
 
 
 
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