segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Desígnio do tempo



Enquanto envelheço
as palavras vão ficando
cada vez mais novas

As rimas melódicas
que me acompanhavam
criaram asas, mudaram-se
de alma.

Renasceram em outra cerne,
outros dedos em pinças as
costuram, outras bocas as declamam,
e as alimentam com todas
as sementes que não permiti brotar

Bem que eu mereço essa aridez de
palavras, esse silêncio mordaz
por detrás de um sorriso em carne viva

Hoje, a página em branco também
é o poema
construído de angústia e desgosto

No poema não há mais alvoroço e
as palavras são pássaros que migraram
para outra estação além de todo esse espaço
que habito







Adriane Lima




Arte by Galya Bukova

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Ácida ressurreição



A poesia é o barro onde me moldo
criando formas disformes
onde posso:
sair do eixo, cair do abismo, silenciar o grito,
sentir calor no gesto de frieza do amigo,
chorar minhas inércias e fracassos,

Na poesia, sei reconhecer minhas preces
salvar minha pele, voar de pés no chão
com ela, visito meu sol interior e retenho
uma luz particular onde repouso minhas
mais íntimas loucuras
e a mansidão de todas as aparências
que me enganaram uma vida inteira




Adriane Lima




Arte by 
Christiane Vleugels 

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Seja mais você



Tantas mulheres em seus
silêncios absolutos

no peito uma música clássica soa
andante, vibrante, torrencial

Não choram, não estremecem
diante rotinas de gritos,
espasmos
e desejos mortais

Descobrem-se um dia
calmaria em silêncio e 

paz
não deixaram crescer o ódio

Amor próprio é o que satisfaz







Adriane Lima




Arte by Lizzie Riches

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