quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Tabula rasa




Vida seletiva
ela, indesejada
em um canto solitária
a espreitar o mundo
a mariposa
agora morta
se enche de formigas
na morte
tornou-se coletiva

 



Adriane Lima






Arte by Kot Valery

Fome desigual

 
 
Por mais que houvesse dilemas
jamais te tiraria de um poema 
todo dia as palavras me lembram que
a toda hora,  você em mim demora a passar
jamais engoli rimas ou melodias
só o tempo foi devorador de papéis








Adriane Lima






Arte by  Pauline Gagnon

Submersa saída


 
 
Tem vazões que são eternas
e não param de jorrar
arejo os olhos desse lugar
vida singular
estrela, pássaro e flor
tudo que me faça voltar
sumir do aguaceiro
escapar do desfiladeiro
sem pecado, sem fome
sem medo, sem rancor
fechar portas
não recuar
eu renasço onde me disponho
a respirar fora do emaranhado
onde nos confundimos
 
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
 
Arte by  Ester Barcenas Tombo

Vestígios de estrela me vestem

 
 
 
Eu lhe agradeço por não ter me ouvido
por não ter me dado as mãos
por todas as verdades que você ocultou
eu agradeço os nãos
hoje minhas asas cresceram
e meu voo é feito de versos
depositado em estrelas
da crisálida a imensidão
isto hoje, me serve de refrão
e toda beleza me permanece 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
 
Arte by Kelly Smith

Cotidianas III




Na transparência do olhar
a balançar num varal
lembranças banais
se transportam em mim
vesti-me de sonhos
como sedas voei
com desejos esgarcei
no balanceio do vento
assim como o amor
mudei a direção
em um rápido tempo
o destino do coração
é pendurar-se em linha tênue
e toda percepção
se agarra em tramas fortes
sem armaduras
sem bordados
fina textura
como pedia o sentimento
o tecido que nos cobria
era intensamente leve
a pele guardou o que foi marcado
nas veias de nossos corpos
agora, o ambíguo olhar parado
se despe e sente a vida

ventar-se é contingente
quando se perdem nomes

 






Adriane Lima








Arte by Ana Teresa Fernandez 

Cotidianas II



Meu corpo hoje cansado
é casa fechada pedindo sol
cheira vida em bolor
pela falta de ar

uma sílaba de angústia
em cada cômodo
faltam mãos em terra
uma varanda na alma
uma espera

busco o cozimento
do passado
efervescências em pedaços
imersos por minhas escolhas

corto fatias de solicitudes
e as tempero em água
jorrada de meus olhos

perfumes nectarados de infância
aquecem o ambiente
busco um novo cheiro de vida
uma nesga de sol
uma receita sem pesos ou medidas


 




Adriane Lima







Arte by Ana Teresa Fernandez 

Mãos excêntricas




Eu pedia o tempo todo
um amor de levezas
algo que me fizesse rir
de minhas páginas viradas
 

eu pedia o tempo todo
uma história encantada
que estivesse ao meu alcance


que fosse o que parecia ser
dentro do meu livro de romance


- amar é história sem fim

 





Adriane Lima






Arte by Migdalia Arellano 
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