quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Amolador de facas








Eu menino
eu sem mimo
e o afiador de facas
a tocar sua gaitinha
me tocava profundamente

aquele floreado bonito
era quase primavera em mim

o seu tocar era menos pelo ofício
e mais pelo destino
de quem se fazia passarinho
e cantava um canto bonito
em sua bicicleta-oficina

enquanto amolava facas
afiava meus sonhos
e com os pés descalços corria e ficava
a observar aquele encantador sem pauta

as facas eram como serpentes
não perigosas
mas encantadas nas mãos daquele homem
que por certo não sabia
do encantamento que trazia

ao amolar facas
em habilidosa dança
encantava a rua
o dia
a infância

a simplicidade
que muitas vezes vivemos à cata
era diariamente trazida
pelas mãos humildes
do amolador de facas

e o menino
hoje crescido
ainda corre à janela
quando o velho amigo passa
amolado de lembranças
que a solidão abraça


 
 
 
Adriane Lima e Orlando Bona Filho

Espada em palavras



 



Me dispo
de frágeis armaduras
de finas armadilhas
espatifo-me em pedaços
não me colo
me recolho
cabeça cortada
não obedece corpo
mas enxerga quem deu o golpe ...

 



Adri Lima

Vestigios nús

 
 
 
O seu perfume invade a casa
 fragrância que perturba
entender não adianta
sua invasão não me pergunta
mexe com sentimento
onde não dei consentimento


 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
Arte by  Jack Vettriano

Camuflagem

 
 
 
Tem dias que desejo ser enfeite
ali pendurado na parede
fazendo parte do cotidiano
assim tomando formas do lugar
mimetismo apropriado
para em meu silêncio ficar
 
 
 
Adri Lima
 
 
 
 
 
Arte by Cecilia Paredes

Olhos de mitos e ilógicos



 
De minha boca lacrada
a folha rasgada
se fez vendaval

levada pela impulsividade
sou fel encobertando meu mel

tempestades me saem
palavras esvoaçam
e ameaçam quebrar esse silêncio

tantas injúrias me acusam
personificam-me em Medusa
a solitária e sem imagem do real

petrifico-me e desejo
quebrar esse feitiço
auto punição constante
lágrimas vertendo sal

pedra não sou
espelho me vejo
não perdi o mapa de minhas rotas
apenas não alcanço o meu desejo

muralhas,mentiras,medos
pernas e penas
ao infinito

antigas portas
já não me abrem
antigas vestes já não me cabem

existe pégasus em mim
e meu voo contém o antídoto
desse veneno endurecido
libertando os filhos de meu destino


 
Adriane Lima
 
 Arte by Web
 
 
 
 

Asas do destino

 
 
Mulher alada
despindo-se de penugens
aragens de velhas plagas
que seu corpo viciara
 
mulher ave
cada detalhe esvoaça
feito folha levada ao vento
pensamento já não cala
 
mulher alada
aparando adornos
peito nobre
repleto de costumes
que dispensa hoje
 
mulher ave
vã olhares segue
renascendo sozinha
no frisson da espera
 
mulher alada
recolhe-se
em seu ninho interno
vazio de companhia
prenúncio de viver
o novo dia
 
mulher ave
já sabes qual bando
irá se juntar
revoadas,paisagens
restos de histórias
voraz despertar
 
mulher alada
um cântaro ao longe
vertendo amor 
lhe faz flutuar
 
voa mulher enamorada
que tua asa
ignora a existência
da possível camuflagem
mergulhe nas vertigens
entre rir e chorar 
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima  





Arte by Michael Cheval

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