terça-feira, 27 de maio de 2014

Imunes acrobatas





Chegava como quem já ia
algo liso como seda pura
gélida falácia entre nós
e de pureza nada havia

era a trama de seus olhos
que me dava voz
e me alimentava de ternura
 

esse princípio inundava tudo

minhas mãos procuravam o cerne
aos poucos tocavam
o império de seu corpo
havia algo de risco e de asa
como havia inocência e casa

a plena noção do todo
me prendia a essa diáfana vontade
do calor de seu hálito
embevecido de sofismas
pregavam silêncios entre bocas
e nossas pernas estacionárias

parados, éramos restos de florestas
cada qual com suas estações
no tempo, éramos relevos, planícies
cada qual com seus trajetos

deslizávamos entre a origem
dos interesses de homens e bichos
feitos de aromas de cio

esquecíamos que os deuses
não nos ofertariam hipóteses

fomos sempre :
instintos súbitos

sussurros sólidos
quase imperceptíveis
imensamente gritantes

mergulhados por sonhos passageiros
percorremos a sede louca
vestida em adiamentos

e no calor dos corpos amáveis
diante a paradoxal beleza
fazíamos um preâmbulo
de tudo que fora vivido

eternizamos o odor
do animal perdido
mas amansado
por genealogia e endereços












Adriane Lima






Arte by Lucia Coghetto 

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