sábado, 7 de junho de 2014

Pele necessária




Há de ter uma curva
onde eu não me perca no caminho
feita de uma clareza tão intensa
que eu não questione sua linearidade
há de ter uma parte
onde eu passe sem espinhos
e ao sentir o perfume das flores
não o abandone por puro ceticismo
muito embora, não há que se aceitar
o limbo e tornar-se parte dele
nem aceitar a paz do animal ferido
olhando nos olhos de seu mal feitor
e seguir por determinismo
deve-se sim, sorver uma
aprendizagem contínua
onde se possa abrir
espaços, os braços
e voar em equilíbrio
então haverá em mim
um ecoar interno
de cânticos proféticos
como se fosse um risco
do limite improvável
de um coração batendo
em tensa asfixia
essa angústia de quem vive
o descuido de um instante
e sabe reconhecer a morte
diária em cada voz
que murmura em silêncio
e sabe fingir a vida
que silencia em lágrimas
sinto-me nesse vazio -
descobrindo a cada dia
o alto preço que me custa viver
incrustando os sentidos
nas pedras que me cercam
embora não me sinta
confortável por fiar a espera
feito um mergulho
sem saber sua profundidade

 









Adriane Lima







Arte by Angel Peychinov  

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