Venho brincando de ser felina
não dessas gatas de subúrbio
que se contentam com telhados
e quintais lúgubres
minha juba ao vento me declara livre
o olhar altivo, o sorriso de soslaio
dou vazão as minhas vontades
libertinas
como felina, sinto fome de bicho
meus predadores eu mesma escolho
minha fome é de caprichos
não erro a dose dos desejos
me faço de mansa
me faço de frágil
fico a espreita
fico a mercê
já aprendi
o modus operandi de cada ataque
digo a cada um, em pleno golpe
ser o mundo menos atroz
se fizermos mais pelo outro
do que por nós
então, me deixo ser devorada
eu mesma delimitei o território
para cada um deles
de um, a grama úmida
sob resquícios do orvalho da noite
ele me confessou precisar molhar seu
ego
por isso, não lhe nego
do outro os galhos longínquos
do frondoso cipreste
ele me confessou precisar de alturas
para seu peito pesado de amarguras
por isso, não lhe nego
do outro as folhas secas do outono
que caem formando uma cama macia
ele me confessou seu corpo cansado
e sua vontade de ser amado
por isso, não lhe nego
como pode ser tão doce
esse sal escorrido das almas
tão amorosamente nos doamos entre
alcovas
tão ternamente nos livramos das
ataduras
e ficamos cegos das renúncias
Adriane Lima
Arte by Saturno Butto
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