quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Triste verdade..



Eu não queria que Natal fosse assim
Compras, correrias sem fim

Eu não queria que o Natal fosse assim
Palavras, cartões enviados por formalidades

Eu não queria que o Natal fosse assim
Comilanças, presentes e desigualdades

O Natal é uma data para se festejar o nascimento de Cristo
que na verdade é o menos lembrado nesse momento

Homens e seus valores
Homens e seus temores
Homens e seus amores

Por supérfluos, subterfúgios sem critérios

Homens e suas verdades 

Homens e suas vaidades

Tão vazios de humanidade, solidariedade,

fraternidade
 

Gesto universal

Palavras tão lembradas apenas no Natal !!

 



Adriane  Lima

Era Natal



Era Natal
Quando acreditei que os sonhos
vinham em forma de presentes
Quando achei que Noel 
nunca seria ausente

Era Natal
Quando vi nos olhos de meus filhos
 o brilho vindo em brinquedos
Quando achei que conhecia
a magia desses gestos e segredos

Era Natal
Quando olhei os que não tinham
com quem festejar
Quando o Espírito de Natal 
teimava em não reinar

Era Natal
Quando tantos não entendiam 
o seu significado
Quando eu via um mundo 
que estava machucado


Era Natal
Quando eu tinha vários motivos para não comemorar
Quando eu respirei fundo e estava viva para transformar

Era Natal
Quando o mundo girava
mesmo sem sair do lugar
Quando eu sorri e 
resolvi de novo acreditar...

Sonhos
Presentes
Lembranças


Infância e tudo mais que 
eu puder fazer para me alegrar

É Natal!!!

Faça de tudo para que seja 
em família ou entre amigos, ao lado daqueles que ainda vivem, ainda riem, ainda sonham.
Não seja pequeno diante da grandeza do mundo.
Ele...acreditou em você ...
Te deu mais um ano de jornada.
Quer mais motivos para comemorar??!!

Feliz Natal !!

Para todos aqueles que acreditam ou não no verdadeiro Espírito Natalino!







Adriane Lima

Auto-Retrato de um Poeta



Diante de um mundo real
o poeta sonha o impossível

Costura, modela e com versos
prolonga o invisível
une mundos recortados
sentenças de vida e morte

Crê em sonhos aplacados
onde galáxia de palavras
se abrem e modelam predicativos

Sede de dilúvios
visões de desertos
poeiras de papel
cotidiano feitos de parábolas

Vida retrato
desejo moldura
sílabas silenciosas
onde se tramam as amarguras

Entre a turbulência
caminha o poeta
estilhaçando medidas
de criador e criatura

 




 Adriane  Lima







(Aos meus amigos poetas : Orlando Bona Filho e Bruno J. Mafra )







Arte by  Ana Luísa Kaminsk

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Desencontro




Hoje estou assim
Com sangue estancado na veia
Como mar que morreu na areia
Como pipa presa no fio...

Esperando esse amor que veio e não pode ficar
Noites, sons, acordes, poemas
Vinhos, incensos, cinemas
Tudo ficou para trás

Nos labirintos de meu coração
Tão logo a noite acabe
Tão logo o fogo passe
Eu já te fiz saudade
Sem te propor decisão

Sei que sou talento perdido
mulher que não deseja marido
Nem consolo, nem samba-canção
Sepulto bem longe toda essa coleção

Digo que um cisco caiu no olho
Que cortei a mão numa lata de molho
Mas, não deixo você me ver sofrer, nem chorar

Aspirinas, cafeína, vinho tinto,
Desconcertos, calçada, estrada,
Lua cheia, madrugada
Restos de perfume na ponta de um livro

Meus segredos mais cativos
São minhas melhores companhias
Tantas indagações, covardia
Expectativas, entre noites, entre dias

Entre tudo que escolhi e que você não vai ter de exaltação






Adriane Lima

Entre Estrelas



Serão nossos os caminhos
pressentidos
entre o sonho e o desassossego
entre estações primaveris
onde flores salpicam minha estrada

Somos mais que escritos pela madrugada
onde minha alma cansada
voa em noite escura
escura

Somos mais que a sombra da Lua
Desejo e procura
vento esculpindo visões entre folhagens

Esperanças vivas
Visões
Miragens

Poeira do tempo

Por entre estrelas...
Por entre estrelas....

 
 
 
Adriane Lima

Interrogo



Renunciar a luta
prender a palavra
manter a conduta
para não se perder

Explicações manipuladas
vociferadas em sussurros
um soco, um murro nos
sonhos de um ser

Homens e seus joguetes
fazendeiros de marés
donos de cirandas
sobem e descem

Serpentes que se arrastam
e não tem pés
diluem os desejos de
quem vive de verdades

Onipotência de dor milenar
temos braços amarrados
ouvidos pouco treinados
para tanta insensatez

Perde-se a hora, o agora,
o bonde da história
e então abro espaço
para uma interrogação:

Até onde a dor é maior que o sonho??
quem se propõe a me responder ...

 




Adriane Lima

Voo de Alma



Que tempo é esse
dentro de mim habitado
onde piso pesado
esmagando flores
em vida

Minh'alma aflita
tantas vezes incompreendida
guarda dores esquecidas
para um riso aflorar

Que sentença merecida
meus versos assim
escritos feito
pétalas caidas
de flor murcha em altar

Meu ser tão inconstante
percorre caminhos errantes
que nem mesmo sei
como descrever

Corpo e alma se combatem
alma resiste aos fatos do tempo
validando apostas que nem mesmo fiz

Vago aturdida
por entre espaços da vida
tentando por asas em
meu casulo interno
e em liberdade
voar

Doce mistério
de ser leve
em meu penar




 
Adriane Lima

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Crônica :"Natal em família uma festa, nada imodesta!!! "


Todo final de ano é a mesma coisa,cada um a sua maneira faz um balanço do que foi o ano, o pensamento viaja, o coração faz retrospectiva, a memória guarda o que foi bom e tenta apagar o que foi triste e amargo, hora de refazer contas, planejar e sonhar de novo.
Afinal,mais um ano está se findando em nossas vidas.Hora de fazer desejos e pedidos ao ano que se aproxima,de repensar o novo,para que ele realmente seja novo.
Como o ser humano é um "poço"de inquietações,como conseguimos não ter paz ,por conta de nossos questionamentos.
Mas,acho que nem é bom ter paz nessa hora.
É preciso ser movimentado pelo balanço das horas mesmo e mudar o que não está bom.
Tudo em nossas vidas tem uma inconstância,uma força que nos impulsiona a questionar,repensar,refrear ou seguir em frente.
Assim ,é o mundo,ele gira,o tempo passa,evoluímos e nos recriamos dentro dele.
E nessa época próxima as festas de final de ano,acabei me questionando e vendo que questões tão tradicionais também estão mudando.
Pensei na vida, quase como em uma equação matemática:Tradição + Família = Natal.
E ai,me veio a indagação sobre a nova familia e a visão do mundo sobre ela,j á que o Natal é tradicionalmente uma festa familiar,reunindo:pai,mãe,irmãos,avós,tios,primos...geneticamente falando e todos os "Jingle Bells" a que tivemos direito dessa época.
Mas, a famíla atual mudou,muitos casais se separaram e convivem com filhos que são só dele,ou só dela...os chamados meio-irmãos,filhos com criações diferentes,visões modernas que estamos nos acostumando a conviver.
Mas, nessas épocas como fazer para não se magoar,nem magoar,sem se chocar e sem estragar a festa de ninguém.
Claro que ainda não pensaram em fazer um "manual" de como se comportar em situações desse tipo;mas assim como a família mudou, é preciso também mudar nossa visão sobre ela.
A nova família hoje está mais complacente,crianças crescem aceitando os novos parceiros dos pais.desde que os adultos e pais dos mesmos não façam críticas a esse olhar infantil sobre o amor e as relações humanas.
Eles convivem com os "meio-irmãos" com facilidade se não houverem barreiras emocionais por parte dos adultos que cercam essas relações.
Ou seja, as crianças de hoje crescidas em ambientes favoráveis à essas mudanças não sentirão problemas em conviver com padrastos,madrastas,namorados dos pais e os meio-irmãos.
Claro que,nós hoje adultos vivemos nossos Natais da infância com famílias tradicionais e completas,em sua maioria,mas hoje muitos de nós estamos separados e temos que passar esse significado de Natal aos nossos filhos e quem sabe,netos.
Se a familia tradicional mudou,ela acompanhou o mundo,os conceitos,os padrões da época,portanto nossa visão de mundo também precisa acompanhar esses passos com leveza,revendo hábitos, preconceitos,quebrando rótulos e padrões se for preciso.
Se as mudanças existiram foi porque elas foram necessárias,hoje em dia ninguém mais permanece em relações fadadas ao fracasso e ao desamor,tudo é uma evolução de sentimentos de ações e reações humanas.
A nossa existência como ser humano é coberta de significados e o modo como cada um vê sua trajetória,é algo tão particular, quanto a sua formação de crenças dentro do que ele chama de "família".
A questão não está em ser moderno e aceitar somente sem se livrar do que temos de arraigados em questões tradicionais.
É preciso rever o que precisa ser liberto em cada um de nós,aceitar a formação da nova família  e assim construirmos significados disso dentro da gente para transmitirmos amor e liberdade de sentimentos verdadeiros para as novas gerações.
Ou seja,se vai o namorado da mãe, a filha dele,a namorada do pai,os filhos dela,o primo que casou novamente e levou a nova esposa,a nova sogra,pessoas que estão se reconstruindo emocionalmente,tentando novas relações,todos fazem parte dessa nova familia ,que chamaremos de "moderna",com suas separações,revoluções e novas formações.
Porque Natal independe do antigo,do novo,para que possa existir em cada um de nós como referência.
Natal são os laços fraternais que criamos o tempo todo em vários momentos de nossas vidas.
E o que mais desejamos nessa época é que tudo seja mesmo repensado,para que o Novo Ano,venha com muito amor,paz,esperanças de um mundo cada vez melhor não só dentro da gente mas, também fora modificando nosso cotidiano se for preciso para abraçarmos com força o que temos de melhor para chamarmos de "Família".
Tradicional ou não que os laços sejam fortes mas, não apertem nossos caminhos e sim,os alarguem cada vez mais!
Feliz Natal e um Ano Novo cheio de modernidade e fraternidade à todos nós!!!!


Adriane Lima 

( Texto publicado na revista Glamour/  edição 5 /ano 1 )

Sou o que sou



Eu sou o que sou
já tentei mudar
mas sou imutável
na medida em que posso

Sou de poucos mistérios
sou de poucas promessas
sou o que sou
e não tenho pressa

O que me incomoda
é a passividade
prefiro fazer da vida, um evento
nos dias de tristeza
até alegria eu invento

Sou o que sou
não sei se isso é bom ou ruim
o vazio nas palavras
não existe em mim

Falo sozinha
falo pelos cotovelos
tenho meus opostos
bem demarcados
eu deixo tudo à vista
não mando recados

Sou o que sou
em um mundo
que anda frágil
cheio de promessas de amor
e muitos homens culpados

O peso das injustiças
o preço do mercado
o verso tão esquecido
de verdades veladas

Sou o que sou
esqueci muitas ilusões
guardei muitos sonhos no bolso
mas, não os deixo pesar como pedras

O meu reino é de portas abertas
construo pontes e não muros
ergo bandeiras e não miséria

Uma poesia não enche barriga
mas enfeita a alma de quem a lê
como flor etérea
matéria prima dos sensíveis
vinda de um parto sem dor 
e que chamei de : amor





Adriane Lima

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Jogo Audaz



Não se engane
aqui comigo
não creia
no que enxerga
 

sou o que disfarça
onde se olha
sou assim mesmo
contraditória

carrego audácia
e não ausência
meu triste
também é belo
meu mar
também é raso

se digo sul
pode ser norte
não se oriente
na minha sorte
onde me perco
entre caprichos

Dou gargalhadas
busco respostas
entre sinais
e as apostas

... eis o jogo que eu persigo
diante de tudo que já senti

Um desafio
aqui me prende
onde procuro
o que não se perde

mas para dizer
bem a verdade

Cansei de homem
cheio de medo
que banca o fraco
enquanto é forte
e vive menos do
que se pode


 



Adriane Lima

Ilusório


A matéria da qual
Meu corpo foi feito
Devia ter vindo com defeito
Muita água na mistura
Muitos sonhos e procuras
Sem medo  e sem  lisura
Frente a determinadas criaturas
Que ferem meu bem querer
A mistura que moldou-me
Na tristeza e na alegria
Verte água noite e dia
Junto a minha poesia
Já nem sei se isto é sina
Ou lampejos de menina
De acreditar que Deus existe
E sentir-me assim divina
Do barro nobre dos poetas e sonhadores
Construida em castelos de ilusão
Doces palavras e labirintos
Olhos d' água, loucura e paixão...





Adriane Lima

Procura Infinita



Viro a história do avesso
entre o bem e o mal
em cada novo poema
busco um sinal

Solto as palavras
em forma de cansaço
vou as marés da procura
buscando teus braços

Igual Deusa
que abriu ferida
me fiz mulher
nessa despedida
voltei pra vida
como quem não
encontrou saída

Optei por silêncios
por nossas diferenças
em esquecer de tudo
e não ter mais crenças

existe uma voz em cada verdade
existe um não em cada solidão

O meu sangue é fogo
e o teu ternura
o teu jeito é escape
e o meu procura
o meu amor é pele
e o teu tortura
o teu corpo é marinheiro
e o meu é clausura

Nesses desencontros
sigo minha sorte
sirvo minha noite
num desejo forte

Entre uma saudade
e outra eu me alimento
me perdi buscando
o teu sentimento

Solto minha dor
em poemas tristes
em planícies largas
desertos e asfalto
estradas que ligam
minha vida e a morte

Te busquei no sul
me perdi no norte

 




Adriane Lima

sábado, 17 de dezembro de 2011

Entre Olhares



Seus olhos são o seu menor mistério
Eles revelam o que tua boca não diz
Me lembram os olhos dos homens
das pinturas de Modigliani

Traz uma embriaguez pela vida
Ao mesmo tempo distantes
Que ao ver-te já prevejo
Tua chegada e partida

Destino feito de sonhos à deriva
Penso quantos amores já não
estiveram retidos a eles.
Olhos de mansidão

Olhar de adivinhação
Segredos revelados em tua retina
Cores descompassadas
Diferentes das que eu via

Adoração febril, defeitos
Olhos de sentidos
Onde tiro poesias e desafetos
Olhos secretos,sem segredos
Quando olhas para mim

 




Adriane Lima

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Alma do mar


Versos de amor
são roupagens
que vestimos
às avessas

Versos de amor
são possibilidades
que criamos
em certezas 
Versos de amor
são metades
que deixamos
na saudade

Versos de amor  
são covardes 
que escrevemos 
na vontade
de viver em cada verso
de sonhar em cada gesto
silêncio e realidade

palavras de amor
soltas no verso
esperando o inverso

versos de amor
invólucro sagrado
guardando a palavra

feito a concha
guardando a alma do mar

 
 
Adriane Lima

 
 Arte by Ana Luisa Kaminski

Crônica: As cores do dia




Já li algumas histórias que falam em olhar e aprender sobre o mundo.
Não é fácil entender as lições diárias,muitas vezes precisamos desaprender sobre os homens,sobre conceitos,para de novo maravilhar-se com o brilho do pôr do sol, os animais,as flores,os tons diferentes que nos cercam.
Não sei, mas hoje a vida me trouxe mais um aprendizado.
A fragilidade que mora em cada ser vivo, seja ele animal ou humano.(nem sei se já diferencio um do outro!!).
Na verdade mero conceito pois, o homem racional anda mais irracional que muitos animais.
Da história hoje tiro a lição do acreditar, saber que muitas vezes não temos saída a não ser pela fé.
E foi então que na madrugada uma chuva forte derrubou o beiral da parte superior de minha casa, claro que achamos que era o fim do mundo, um barulho daqueles no meio do silêncio da noite foi assustador.
Abri a janela e sob a varanda do quintal estava lá um enorme pedaço de gesso e resolvi que então pela manhã pediria ajuda ao zelador para tirar isso de meu telhado.
Mas,logo cedo, como o silêncio é grande aqui em meu condomínio, ouço até mesmo uma Maria Fumaça de uma estação que fica a poucos quilômetros daqui, ouço os pássaros acordando, maritacas gritando.
E acho uma delícia estar em uma cidade grande cercada de natureza.
Mas, eis que a natureza me deu hoje a lição.
Ouvi piados incessantes, após tomar meu café e  seguir para por ordem em meu ateliê. Fui até a janela do quarto de minha filha o mais próximo de onde havia caído o gesso e lá vejo um ninho com filhotes de passarinhos, já grande com penas no corpo e um desespero no olhar e pelo tamanho dele vi que era um filhote de pomba.
As aves que a maioria das pessoas repudiam por transmitirem doenças, dizendo serem elas "nojentas".
Mas o que fazer, se ela escolheu meu telhado para  fazer seu ninho e agora aquele filhote estava lá desesperado e com frio.
Meus olhos se encheram de lágrimas, porque muitas vezes já me senti assim, amedrontada, sem saber quem me tirou o chão, o "ninho" interno, onde antes me sentia confortável.
E tive que acreditar que alguém viria me ajudar.E assim aconteceu, foi muito mágico, peguei uma caixa de papelão e um rodo e puxei o filhote para que ele não caísse no chão, já que sendo alto, ele poderia quebrar as asinhas e foi incrível ele caminhou até a caixa, entrando dentro dela como se soubesse que eu estava ali para salva-lo.
De longe vi uma pomba no muro observando tudo aquilo e tive a certeza de que era a mãe dele.
Coloquei-o na caixa, dei umas migalhas de pão e até mesmo ração do meu cachorro, claro que não entendo de  "pombas", mas pelo menos senti que ele estaria  agora protegido.
O que vou fazer pensei ... não sei, mas não poderia deixar ele morrer sem tentar ajuda-lo.
São sim, as aves pouco estimadas pela sociedade, sujam monumentos, calçadas, telhados mas, sempre me pergunto... quem invadiu o espaço de quem na natureza!
Dessa história concluo que há duas formas de ignorâncias: a que desconhece o valor de uma vida e só identifica beleza em pássaros coloridos e enfeitados  e aquela que vê interesses pessoais já que eu poderia joga-lo fora e fazer depois discursos para justificar meu ato.
Acredito que a lição aqui é a virtude de poder ter sido escolhida por eles para ajuda-los e com certeza preservar a vida de uma pomba que seja .
Mas, é uma vida e tudo depende do caleidoscópio que temos em nosso coração e que nos revela formas e cores infinitas dentro de cada lição.


Adriane Lima


( Imagem :Michael Cheval )

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Crônica : A poesia vive no olhar


Hoje eu não vou falar da poesia, muito embora 
haja poesia em tudo que vou contar aqui.
Como muitos de vocês sabem eu faço peças de artesanato e preciso de caixas de papelão para envia-las pelos correios já que vendo para vários estados e preciso embala-las direitinho.
Eis que pego o interfone, ligo na portaria de meu condomínio e peço ao porteiro se lá teriam umas caixas, ele perguntou ao rapaz que pega o lixo e varre as ruas , que na verdade também separa todo material reciclado e que as caixas já deveriam estar lá desmontadas. 
E diz que ele viria aqui falar comigo.
Ele vem e toca minha campainha, eu desço, toda lambuzada de tintas, de chinelo havaianas e um avental que esta ainda mais colorido que eu.
Ele me olha curioso, sorri e pergunta que tamanho de caixa eu preciso, falei para ele entrar , mostrei o chão de minha sala que a essa altura já virou uma extensão de meu "ateliê", e mostrando a ele os tamanhos que precisava.
Ele pega uma caixa vermelha com um poema da Cora Coralina em cima e pergunta: -foi você que fez isso dona Adriane?
Eu falei: fiz a caixa o poema é de uma poeta já bem velhinha que escreve poesias lindas.
E ele responde:-bom mas a senhora também faz coisas lindas olha quanta coisa aqui.
E vi naquele olhar sensível, mesmo que simples, um homem que sabe apreciar a arte e a poesia se é que dá para separar uma da outra.
Nessa hora precisei me conter porque meus olhos se encheram d'água diante daquela cena.
Como dizer que um homem que varre ruas, pega lixo não sabe ver o belo da vida !!?
Ele gostou logo da caixa com um poema entre outras de chá, de fotos, de imagens de animais, etc...!!!
E depois que ele saiu, eu fiquei pensando na cena, nas palavras dele e de repente ouço um barulho em minha garagem, era ele !!!
Me trouxe umas dez caixas e me olhou e disse: que Deus abençoe sempre suas mãos dona Adriane, ela faz coisas lindas !!!
Claro que ele vai ganhar uma caixa minha para presentear a esposa e o meu mais sincero agradecimento por me fazer ver o quanto o mundo é povoado de pessoas sensíveis e poetas da vida !!!!
A poesia está viva nos olhos de quem sabe ver!!!!



Adriane Lima

sábado, 10 de dezembro de 2011

Licença Poética




Eu peço  licença à toa
porque as vezes
igual a Fernando Pessoa
sou duas ou três de uma vez
Sou a que fala, a que cala
a que ama e morre todos os dias
e a que sangra todo mês
Eu peço licença prêmio
pelo amor que não veio
pelo sonho roubado
que me fez sentir tão freguês
Eu peço licença poética
por quebrar a estética
e rimar cataclismas com hortelã
e ainda assim ser enfático e crer
em minha escrita burguês

Eu peço licença aos astros
por ter amado Bardot
e em minhas sessões da tarde
ter ido à pé até Marte
e aprendido a usar perfume francês
Ou então, não peço licença de nada
e sigo a estrada, desta minha insensatez
Adriane Lima

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Conto : "Uma luz na solidão".





"Loucura, eu penso, é sempre um extremo de lucidez. Um limite insuportável. Você compreende, compreende, e compreende cada vez mais, e o que você vai compreendendo é cada vez mais aterrorizante - então você "pira". Para não ter que lidar com o horror."
Caio F. de Abreu


E foi realmente pensando nisso que ela se levantou naquele dia,corpo dolorido,brancura intensa em seus dias, fazia dois meses que não ligava para as necessidades que seu corpo lhe pedia ,comer bem, dormir bem...
Não comia,passava os dias a café,bolachas, e chocolates...ah, os chocolates..o único doce que sentia na boca...
Misturado ao amargor de sua solidão.
Mas, hoje ao se levantar começou a chorar,poderia parecer insensato,mas era um choro intenso,era a dor do vazio no qual estava contida, um vazio de grito abafado, como se ela olhasse aquelas paredes da sala onde acordara e elas fossem sua prisão.
Ao olhar para aquelas paredes,ela se deparou com tudo que estava dentro dela,a própria sala, os móveis,os objetos decorativos , tudo ali era a sua cara, fizera essa casa onde morava  ser parecida com ela em todos detalhes.
Plantou cada flor de seu quintal, cada vaso de seu jardim.
E os regava impiedosamente...todos os dias!!
O silêncio pairava no ar e seu olhar era sobre os objetos de decoração da sala.
Foram todos escolhidos por ela, um a um, porque naquela época queria achar uma identidade após a separação.
Saiu do seu casamento sem levar nada,quis se renovar.Deixar para trás tudo que já havia vivido.
Mas, hoje ao olhar tudo aquilo veio a dor, a dor de ver que já haviam se passado cinco anos desde o dia que mudou-se para aquela casa e que não havia mudado nada,assim como os móveis, a cor das paredes,os aparelhos eletrônicos, os quadros ...nada...
Se viu em cada detalhe ali envelhecido,desbotados, as flores mortas no quintal,a grama alta , o sino do vento retorcido e cheio de pó.
Tudo numa estatização absoluta, assim como ficou sua vida.
Tudo parou no tempo,claro que nesse tempo ela viveu, teve alegrias, amores,festas, amigos,um filho,trabalho que nessa época estava perfeito e preenchendo os seus dias.
Ela se viu lutando após uma separação que lhe custou muito sofrimento e perdas,achando que naquele mergulho que deu em seu sofrimento ,finalmente iria emergir,iria poder sentir as asas batendo de acordo com seus sonhos.
Mas,errou, e errou feio,não sabia se, porque foi deixando muito a vida lhe levar, porque confiava plenamente nela, (na vida).
Porque sempre tudo pelo qual ela lutava ela conseguia,realmente ela teve tudo que sonhou,teve os homens que quis,teve os amigos que escolheu, esteve nas cidades que planejou,ouviu todos as músicas ,mesmo aquelas que só depois de um tempo viriam a fazer sucesso, já as ouvia,engraçado acho que ela sempre foi um pouco contemporânea a tudo...os sensíveis sempre sofrem mais,pensava!!!
Talvez sabendo disso entendeu melhor porque os amigos brincavam e a chamavam de Isadora Duncan,ela lembrava mesmo da frase dessa mulher inovadora e livre: Prefiro viver de pão preto e vodka e sentir-me livre, a gozar as delícias da vida americana sabendo-me prisioneira.sim, isso era bem o jeito dela, sempre fôra feminista, inovadora e nunca permitiu que lhes cortassem as asas, nunca deixou de realizar uma vontade, excesso de mimos e rebeldia misturados, essa era sua grande certeza.
Sua mãe sempre falava que desde pequenina era inquieta e questionadora além de sempre pensar demais e inventar histórias.
Não havia mudado, só o tempo mudou. E nas longas  conversas que tinha consigo, não parava muito para ouvir as próprias respostas, devia ser o medo de saber que não gostaria mesmo de sabe-las.
Sabia que havia errado em muita coisa esse tempo todo, mas não conseguira achar o foco dos erros e ao pensar nisso, lembrou que quando era criança brincava de esticar as fitas cassetes e ia puxando o rolo para fora, chegava uma hora que dava trabalho, ele se retorcia, virava,amassava, nunca mais entrava igual.
Comparou sua vida a esse gesto, havia  puxado esse fio e não consiguia mais guarda-lo, sem que ele se inverte-se do lado que é o certo.
Bom,mas alguém poderia ao menos lhe indicar se haveria um lado que é o certo aqui nessa vida?!
 E assim seguiram suas indagações;lembrou de quando lhe perguntavam, porque se separou, ao que ela ria achando aquela uma bela pergunta,não sabendo ao certo responder, se foi por excesso de tentativas de ser feliz, de querer ter alguém mais parecido ao lado, ou se por falta de maturidade e tolerância mesmo.
Se fosse mais madura,menos sonhadora, mais "asinhas podadas" estaria lá até hoje.
Como muitas amigas que assim estavam, engolindo sapos, sofrendo em relações falidas, tendo casos extraconjugais, mas felizes,andando em carros importados, preservando a familia e os "bons costumes",ao menos na mesa de jantar!!!
 Mas, ela...ela não; ela sempre afirmava: sou perecível; não quero me estragar , me contaminar de escolhas alheias.
 Eu sempre escolhi por mim,certa ou errada ,eu escolhi,sempre falava.
 E ai voltava as suas aflições, ela gostaria mesmo de saber onde havia perdido o entusiasmo pelos dias, onde perdeu aquela  mulher sonhadora e incansável,a que todos queriam ao lado, que tinha amigos de tantas turmas diferentes que se quizesse não ficava um dia sozinha em casa.
O que era mais doloroso era isto, a perda do entusiasmo,a perda dos dias, uma olhar de quem sempre amou sair em seu quintal ,olhar o céu azul,admirar o jardim,as flores,os pássaros em voo,acariciar seu cachorro,essa não existia mais.
Era esse grito que ela tinha preso na garganta!!!
Meu Deus,...ela ainda ousava falar em Deus.
Mesmo acreditando em Deus,duvidava de sua fé,não tinha em sí sulcada forças para acreditar em mudanças, "aquela tão famosa luz no fim do túnel"... queria ter, mas, não tinha mais.
Ela sabia que não tinha mais a valentia para ser feliz!
Para puxar algo uterino,algo com gosto de renascimento e vida de dentro de sí.
Havia  desistido...ela desistiu de sí, logo ela, aquela que encontrava palavras para qualquer um que a procurasse, não encontrava uma frase que a salvasse da angústia que  lhe movimentava os dias.
Já tinha se reinventado muitas vezes, mas confessava agora nesse choro que estava cansada.
Cansada das escolhas que fez, cansada de errar,cansada de ser sozinha,cansada de ser vista de uma forma que não era,cansada de ser a mulher forte e lutadora,cansada mais ainda de ser frágil e chorar.
Isso é o que mais a incomodava ,o choro, sabia que controlava os outros sentimentos de ausências, de carências, vontades...mas, sobre seu choro não tinha o menor domínio e isso era muito ruim, sentia-se fraca.
Porque parecia ser  infantil,havia uma criancinha lá dentro dela  pedindo colo e carinho, enquanto uma mulher vivia do lado de fora.
Só a arte lhe dava paz,conforto, quando escrevia se libertava das palavras e muitas vezes passava os dias assim, sentindo-se depois mais leve.
As horas passavam,e assim os dias seguiam mais rápido, dentro desse calendário que não fazia a menor questão de prolongar, pensava ela.
Apenas ia vivendo.Mas quando escrevia  vivia com a poesia, suas intensidades.
Parecia que nessa hora era mesmo a antiga, a que lhe habitava, que era leve,e que ela ainda existia e que a qualquer hora poderia fazer a outra brotar de novo. 
Essa dualidade entre tristeza e alegria tinham lá seus pesos ,um segredo que foi desvendando e foi aprendendo a conhecer.
 Sabia bem da lucidez que a acompanhava e ria ao lembrar daquela frase: ás vezes a ignorância é mais saudável, pois se não soubesse de tudo isso talvez sofresse menos.
Porque na verdade há anos ela vinha sofrendo por antecipação, ja previa as coisas,nada a surpreendia mais,e por isso deixava de ver graça nas coisas,é como se aquela parede em branco fosse ser sempre branca, como se o sofá fosse sempre estar lá a espera...dele.
Perdeu tantas coisas sem surpresas, perdeu até o que nem era seu.
Ela, que nada quis,que abriu mão de tanta coisa,perdeu...perdeu,como um jogador que estando na frente do gol e se apavorando, saiu correndo com a bola na mão e todos gritando mas ele não pôde ouvir,só correu...correu , assim que se sentia ... correndo com o objeto errado e para o lado errado.
Achando que a vida foi esse eterno correr ,tendo em seus braços sua alegria de viver contrária ao rio, por isso se encontrava hoje sem forças.
 Se via mesmo fazendo parte da decoração imutável daquela sala onde começaram suas indagações e choros.
 Lembrou aquela hora de uma  frase que uma pessoa humilde,que trabalhou na casa de seus pais por anos, ao se despedir dela perguntou quando a abraçou : - será que um dia a gente se vê?
 Eis que a empregada lhe respondeu: até as pedras de um rio se encontram um dia...
 E foi então seguindo esse rio até hoje em busca das pedras que perderam-se pelo caminho.Nunca mais se esqueceu desse dia.
 Isso não é uma meia verdade,é uma grande verdade,pode demorar o tempo que for,mas um dia iremos ao encontro de tudo que já nos pertenceu.
Filhos crescem ,partem mais um dia sempre voltam para o colo daqueles que eles sabem que os amam mais que tudo nesse mundo.
Amigos vão ter sua vida,mas sempre sabem voltar,pode demorar mas, se fazem presentes.
Dizem que até um cão pode passar anos longe da própria casa que através do cheiro consegue voltar, não deve ser tão dificil me reencontrar, dolorosamente pensava ela.
O tempo,o vento eternizando tudo,aos poucos fazia sua aflição diminuir.
Ela já tinha algumas respostas para achar sua casa interna, achar seu prumo, seu rumo, seu eu...
Ou então entender que na verdade estava envelhecendo, e tudo não passava de lembranças,que tudo precisava seguir assim, a casa estava mesmo vazia, assim como o seu  coração.
E solidão dói profundamente em qualquer um...
  

Adriane Lima
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