Cecília Meireles escreveu :
Canção da noite alta-
"Andar,andar que poeta
não necessita de casa
Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono."
(...) e isso hoje me descreveu tanto
não preciso de nada que me lembre : casa.
queria meu corpo bem longe daqui, me
sentir em outro idioma, brincando de adivinhar palavras.
seria tão mais sensato do que sentir o abandono
dentro de um chão tão conhecido.
meu sussurro se torna íntimo e sei onde me dói a indiferença.
casa, sugere barulho, riso alto, convivência, brincadeiras, mesa posta,
sono envolto em descanso na espera do dia seguinte.
"Andar...Perder o seu passo
na noite, também perdida.
Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida."
(...)sem esse senso poético,como estaria minha vida?
tudo remete a palavra e em muitas vejo cinismo, não
sei para onde estão indo meus dias vazios de verdades.
não mais sinto vontade de reter nada,nessa arte de
viver, andei sepultando alguns mitos
e como diz o poema, onde necessitar de vida nessa
comoção perdida...
Porque o poeta, indiferente,
anda por andar - somente.
Não necessita de nada.
(...) não há maior indiferença, do que andar em círculos
e atolar-se, talvez hoje tenha entendido melhor essa palavra
(a)tolar-se... ser a tola.
o poema me leu e me despertou, ou será que eu o li e acordei
dentro de uma lucidez sombria e incerta.
não é o poeta que não necessita de nada, ele necessita do
poder das palavras, da verve que o alimenta de metáforas
recaindo sobre si, o mito da existência e qualquer infinitude
que possa ousar o seu "eu lírico".
... ás vezes um dia no deserto dura uma vida toda...
Adriane Lima
Arte by Mary Sauer
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