terça-feira, 4 de novembro de 2014

Hiato de proteção cotidiana




A miséria tem sempre
um suspirar profundo
um olhar idêntico
a todos deste mundo

a miséria sofre em silêncio
feito as heras nos muros
cheira a flor murcha
esquecida da realidade

a miséria veste trapos
das mãos da compaixão
e seus inúmeros tormentos

a miséria não escreve
nem lê por linhas tortas
ela veste máscaras desde
que o mundo é mundo

a miséria arranha
a superfície rasa dos sonhos
e abre as feridas
das perplexidades da vida

a miséria vive das sobras
entre sombras existenciais
onde o fedor habita
as latrinas que se erguem
entre as diferenças pessoais

a miséria sela destinos
de meninas e meninos
que caminham entre flores pisoteadas
dos que creem em inócuas dores

a miséria permanecerá
procurando razão entre os vivos
para não contar aos mortos
sobre a fome e seus gritos



 



Adriane Lima







Arte by Suair  Shuai 

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