sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Não adianta dizer que não vê



Eu não sei
que língua falo
portanto peço: deixe-me respirar
o hálito do infinito e em minha boca
ter o gosto de estrelas

Elas são a verdadeira voz
da contradição
emanam luz
mesmo em outra dimensão

Não sei que língua falo
pois já falei: dessa água não beberei
e bebi
Aqui não volto mais
e voltei
Dessa porta não mais adentro
e adentrei

Não sei compreender o inexpressivo
o véu medieval, o escotoma
de meu ser carnal

Eu não sei que língua falo
de tantas que já provei
em ouvidos moucos
aprisionados em devaneios

Há um sol em minhas entranhas
um desvelo, um grito,
um chão de passos perdidos

É essa sua voz que ouço
dentro de uma paz intangível








Adriane Lima














Arte by Paul Lovering

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