Pior é aquela dor de quando acordo
e me olho no espelho
e percebo que sou ainda
o velho disco riscado
o muro chapiscado
que ninguém consegue encostar
a rua sem ipês amarelos
a praça sem bancos e pássaros
a borboleta de asa quebrada
que já não consegue voar
a bola já furada sem um pé para brincar
o brinquedo jogado ao chão
o rádio sem pilha e botão
a oração já esquecida
o beco sem saída que ninguém deseja entrar
o poema que não consegui declamar
a ação sem atitude
o gado procurando açude
a sede em frente ao mar
mas, quem sou eu para me metamorfosear
desejo passando fome
solidão que me consome
como ser outro ao despertar
urgências vou vestindo
e me despindo do que não dá para esperar
Adriane Lima
Arte by Douglas Hoffmann
Bela poesia.
ResponderExcluirFeliz Ano Novo.