Eu menino
eu sem mimo
e o afiador de facas
a tocar sua gaitinha
me tocava profundamente
aquele floreado bonito
era quase primavera em mim
o seu tocar era menos pelo ofício
e mais pelo destino
de quem se fazia passarinho
e cantava um canto bonito
em sua bicicleta-oficina
enquanto amolava facas
afiava meus sonhos
e com os pés descalços corria e ficava
a observar aquele encantador sem pauta
as facas eram como serpentes
não perigosas
mas encantadas nas mãos daquele homem
que por certo não sabia
do encantamento que trazia
ao amolar facas
em habilidosa dança
encantava a rua
o dia
a infância
a simplicidade
que muitas vezes vivemos à cata
era diariamente trazida
pelas mãos humildes
do amolador de facas
e o menino
hoje crescido
ainda corre à janela
quando o velho amigo passa
amolado de lembranças
que a solidão abraça
Adriane Lima e Orlando Bona Filho
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