quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Elegia a toda beleza aprisionada





 
A vida vazia nada possui

a vigilância é agora o embate
por um tempo, meus pensamentos,
dores e lembranças, não mais
deixavam-me dormir

Nunca entravam num consenso
e todos os pássaros lá fora, 
anunciavam o dia

A cabeça refluía anarquias,
como um diálogo, entre meu lado
analista e meu lado escapista

- estava criado meu vazio existencial

Acordara meu passo em falso e
a sofreguidão, minava por dentro
minhas táticas de guerrilha.
o pior tormento era saber-me forte
e tolhida da cabeça aos pés

Vivi pela necessidade de esquecimento
do que nunca fora esquecido
cada trincheira cavada à unha,
onde combati minhas misérias

O tombo numa esquina qualquer
-a ferida que nunca cicatrizou-
estava vazando novamente,
ulcerada, impregnada de artifícios.
por onde palavras doces escorriam
pelas amolecidas cascas

Nesse fel, se aproximavam as
serpentes com suas línguas bífidas
e a emissão dos falsos profetas
também percorriam esse caminho

Suavemente navegavam
suas imagens em minha mente
e, ao fechar os olhos
indagava-me : sou eu essa  ?

A que ri das escolhas e fala
em desapegos e ausências
tão naturalmente
rodeada por cadáveres
acalentada pelas mãos
mágicas do destino

Quisera vestir uma couraça
contra todo o mal que já
sei reconhecer.
eu finjo não entender o
meu inferno, e Dante
nem perante a mais nobre
ilusão de céu, me convenceria

Meu momento circunstante
é o jogo que dialoga
com o resultado, onde
a verdade não combina
com arrependimento

meu espírito entende as
masmorras do corpo
meu corpo enaltece a
liberdade do espírito

As folhas caem
as lágrimas caem
com ou sem minha
permissão, do que sou
dona então?

E, é essa dicotomia que
se equilibra entre cada
possibilidade poética

e a certeza de que :
-poesia não gera poesia-
em meu peito devorado
  




Adriane Lima
                                                                          
               



"Quando alguém escreve acerca dos acontecimentos
  da sua própria vida, é regra de delicadeza
  não dizer nunca a verdade, mas reservá-la para si
  e permitir que só se reflita de diversos ângulos"
                        Kierkegaard








Arte by Mônica Hernandez

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