Soturno
Salpiquei estrelas na noite
e as colhi no jardim
de azuis tornaram-se carmim
despi-me da intimidade
pétala por pétala
e meu cheiro de saudade
foi levado pelo vento
Sentimento à flor da pele
desenhando nuvens
na imensidão do céu
maravilho-me ao pensar
que ali, o imprevisível
poderia habitar
Água clara que escorre
percorre trilhas tortuosas
vida que segue e ninguém empurra
saltando pedras como quem flutua
num livre arbítrio de espumas
Sorriso frouxo, desejo incontido
animais domésticos protegidos
canteiro de ervas aromáticas
lavanda, alecrim e hortelã
em minha cesta de vida vã
Conheci o que nasce livre
sem que ninguém venha e semeie
o sereno vestindo a relva
me orvalhei a madrugada inteira
Adormeci acalentada pela música suave
e me despertei para o mistério que havia ali
a certeza de que em algum canto
estava o perecível que altera tudo
Era o tempo
tempo que ritmava a vida assim
e que marcaria cada um de nós
até o fim
Adriane Lima
Arte by David Graux
Nenhum comentário:
Postar um comentário