Era uma tarde linda de outono, céu azul sem
nuvens, um vento ameno embalando o mês de Maio, seguimos para nossa missão de
levarmos um pouco de poesia e afeto a um Lar para idosos, nesse mundo atual onde
é tão difícil praticar a solidariedade, quanto mais compreender seus benefícios.
Particularmente, não gosto de pensar de forma racional essa solidão a qual teria que me deparar, apenas pensei na contribuição que estaria dando a eles que vivem tão sozinhos, sabendo que tudo o que fazemos com o coração, é sempre o mais importante.
Eis que para meu espanto ao chegar lá me deparei com guerreiros, que ainda sonham com horizontes abertos e dão asas a imaginação.
Vivem suas solidões e não são solitários, se ajudam, conversam, muito embora, alguns, após AVC mal conseguem produzir inteligivelmente uma frase completa,mesmo assim; sorriem e se olham nos olhos.
A primeira senhora que encontramos, estava sentada em uma poltrona, com uma boneca no colo e conversava como se ela fosse seu elo de ligação com resto do mundo. Como disse Fernando Pessoa : "A alma tem nostalgia das origens". E lá estava ela com sua filha-boneca no colo, falava e conversava através dela, como se fosse ventríloqua contando histórias para todas nós.
Particularmente, não gosto de pensar de forma racional essa solidão a qual teria que me deparar, apenas pensei na contribuição que estaria dando a eles que vivem tão sozinhos, sabendo que tudo o que fazemos com o coração, é sempre o mais importante.
Eis que para meu espanto ao chegar lá me deparei com guerreiros, que ainda sonham com horizontes abertos e dão asas a imaginação.
Vivem suas solidões e não são solitários, se ajudam, conversam, muito embora, alguns, após AVC mal conseguem produzir inteligivelmente uma frase completa,mesmo assim; sorriem e se olham nos olhos.
A primeira senhora que encontramos, estava sentada em uma poltrona, com uma boneca no colo e conversava como se ela fosse seu elo de ligação com resto do mundo. Como disse Fernando Pessoa : "A alma tem nostalgia das origens". E lá estava ela com sua filha-boneca no colo, falava e conversava através dela, como se fosse ventríloqua contando histórias para todas nós.
Outro senhor, andava de um lado a outro,
perguntando que horas ia poder ir embora, mas ao começarmos as atividades se
propôs a ler e quis contar o nome de todos amigos que lá estavam, outro
perguntando que horas o filho iria também visita-lo porque estava já pronto para
ir ao baile. E outro, o mais novo e animado da turma nos relatou que adorava
fugir para ir a forrós nos finais de semana e, que estava ali dentro contra sua
vontade e que dava suas "fugidas", mas sempre voltava, porque sabia que não
teria como ficar na casa dos filhos, que ali o colocaram.
Relatou suas histórias de juventude, as noites de
boemia. Disse ter tido uma vida feliz até chegar aos seus dias trancados na casa
de repouso. Não quero aqui contar muito sobre eles e sim, do meu olhar e
questionamento sobre o tamanho da solidão de cada um e também meu total espanto
com a visão errada que eu tinha desse universo.
Eles tinham a alegria que eu sempre achei
essencial para a vida. E olhos para ver tudo que os cercavam. Com o passar do
tempo sinto que as pessoas em nossa volta vão ficando invisíveis, vejo
diariamente na rua, nos ônibus e em tantos lugares que frequento, rostos sumindo
diante a realidade particular de cada um. Logo pela manhã quando saio de casa
e entro no ônibus, me deparo com a maioria das pessoas de cabeça baixa em seus
celulares e fones de ouvido, não veem a beleza dos ipês florindo nas calçadas,
não veem o bebê sorrindo ao passar pela catraca no colo da mãe. Vivem a
realidade na frente de uma tela não tão real, perdendo a intensidade de alguns
momentos únicos. Esse mundo está ficando invisível porque em nossa pressa
estamos nos acostumando com a rotina, como essa máquina que temos nas mãos e
acreditamos substituir o olhar .
A grande maioria já não vê o mundo onde estão
mergulhados.
E lá nesse local eu pensava : quantas histórias
estarão também esquecidas aqui com eles. Como dizia Mário Quintana : Nós vivemos
a temer o futuro, mas é o passado que nos atropela.
Essas pessoas ali abrigadas em suas solidões, em
seus umbigos de cordões cortados por histórias e origens que todos nós parecemos
não ver. Estão mais vivas e livres que muitos que estão aqui
fora.
A vida solitária de tais indivíduos pode ser
alegre e isso pude afirmar hoje.
E eu vi em cada olhar de curiosidade uma alegria
imensa, em dividir suas histórias conosco, cantar, bater palmas como se pudessem
ter naquele dia a alegria infantil de não temer a morte, não recusaram-se à
felicidade dessa troca como a maioria dos que estão aqui fora fazem.
Muitos acreditam que são detentores do tempo, que
há tempo para tudo e não abrem mão dessa visão solitária e virtual que a grande
maioria tem se dedicado em seus IPhones, tablets e
smartphones.
E eu que passei uma vida toda acreditando ser a
velhice um horror, senti na pele que ser jovem hoje e não viver o essencial é
que é um horror. Voltei para casa leve, com meu olhar poético repensando a
velhice, o cuidado que eles merecem e o trabalho que pode ser feito com amor em
escutar o que eles tem para contar.Velhice é apenas a idade do respeito, talvez
por isso muitos jovens não tem o costume de dar o assento nos ônibus porque uma
grande maioria, não entende e não vive
esse respeito.
Acho que agora entendo porque apesar de me
comover com a velhice e relaciona-la com a morte já que, culturalmente cresci
ouvindo assim, hoje vejo o quanto muitos idosos estão vivos e capazes de sentir
a beleza e toda alegria de viver ,mesmo que seja por um dia, ao estarem em nossa
companhia e poderem voltar a ser crianças !!!!
E eu como poeta ao voltar para casa me lembrei de
uma frase de uma crônica de Rubem Alves onde ele diz : "Sugiro um nome diferente
para essa idade da velhice, que não é ironia, mas poesia: Pessoas portadoras de
crepúsculos no olhar...".
Ele tem toda razão, nesse dia teve um por do sol
maravilhoso na estrada de volta para casa.
Adriane Lima
Arte by Pierre Monet
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