quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Eu queira ver, sem enxergar


 
Acordei com os olhos iluminados
um brilho de magia vinda
do doce de uma flauta
que ainda ecoava em mim


Essa cidade nunca dorme, pensei,
e seu sonambulismo promove
o belo e o ruim.
e lá estava eu, acordada
dentro de um domingo qualquer


Enxergando a vida sem heroísmo
através daqueles que não
entendiam de poesia e vagavam
entre muros pichados onde eu,
não encontrava palavras


-além de dor, dor e dor -

Os prédios ocupados por miseráveis
tampando entradas com pedaços
de madeira, escritos frases de esperança
e flores enfeitando paredes
desgastadas pelo tempo.


Meu olhar atônito que a tudo absorvia
embaçava-se nos vidros confortáveis
do carro importado, onde seguíamos
ouvindo nosso jazz requintado
e nossa enfadonha meritocracia


Através de seu sorriso e seu olhar
de nostalgia, me apontava a arte
onde só tristeza havia.


Quase que gritei: pare, eu vejo
em cada pessoa que passa, em cada
esquina que cruzamos, a solidão humana
estranhamente ímpia e perdida.


Mostre-me onde a vida arde
e a beleza não entra em combate
com essa tal filosofia :
"o que não mata, fortalece"
quero blindar meus sentidos
para esse dia






Adriane Lima







Arte by  Sean Moro
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