sábado, 27 de dezembro de 2014

Olhos dissonantes




Muitas vezes cansa
o egoísmo frágil
de se provar humano
a necessidade voraz
de se gostar desumano

Destino e presunção
de quem está vivo
ou ao menos crê nisso

Desejo e contemplação
de inventar desafios
se atormentar por algozes
ler frases funestas
digerir espinhos em festas
odiar com louvor e exaltação

É preciso recolher os cacos
das palavras frágeis e grudentas
não permitir que colem ao corpo
muito menos passem perto do coração







Adriane Lima











Arte by Patricia Ariel 

Onde o peso se fez leve





Minha alma vive sozinha
molhada de sonhos
entre famigerados anjos e aluviões
cheias e vazantes
serpentes e dragões
vez em quando noite adentro
finge-se de boazinha
dança com fadas e poetas
e ao raiar o dia coloca-se ao sol
para secar-se dessas sensações

 




Adriane Lima









Arte by Patrícia Ariel 

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

As luzes do Natal





Há tempos esqueci como fazer meu pedido de Natal.
Desde minha infância eu sempre sustentei essa fantasia, vivia esses momentos embalada na árvore repleta de presentes, na casa decorada por luzes coloridas e nos parentes chegando.
O presépio montado no canto da sala. Na fé de meus avós a irem na missa antes da Ceia.
A mesa farta,enfeitada de frutas só vistas nessa época no ano...tudo tão cheio de sentido!
Lembro-me como se fosse hoje cada detalhe por minha mãe preparado.
Sua preocupação em escrever a oração a ser lida,
E ver se estava tudo na mais perfeita harmonia.
O violão de meu pai,os amigos que passavam na rua paravam por tal cantoria.
Era a mais pura magia do Natal.
Por muito tempo acreditei em Papai Noel e seus presentes embaixo da árvore.
Tentava adivinhar qual era o meu antes da hora marcada, era a aventura infantil que me fazia suspirar de alegria.
Depois o tempo em sua opção do real me deu essa mesma alegria acrescentada dos filhos e suas expectativas.
Cada presente pedido era uma ordem a ser cumprida.
Meus sonhos estavam na realização dos deles.
No vaivém entre casas de avós, tios,primos e amigos.
Eu era seu Noel, em desejos encantados.
O tempo e as escolhas, mudou tantas coisas de lá para cá, a magia do Natal,
seu brilho em especial foi se perdendo no fio de minha memória, embalado em algum passado que tento abrir em meu presente.
O único significado que não se perdeu foi de saber que a família estará sempre, mesmo que distante, embalada em um berço de amor eterno.
Assim como o menino Jesus, em terras que não eram as dele, olhando para o céu, acreditando na estrela guia.
Desejando que não só nessa época houvesse amor, gratidão e alegria, que houvesse também o Amor Infinito iluminando os momentos
que jamais se apagarão de nossos sonhos infantis.








Feliz Natal a todos e um 2015 repleto de magias !!!!!!






Adriane Lima 

Infinidade de nada





Hoje minha poesia
não tem as cores de Frida
São palavras soltas
em busca de torrentes
imagens escorridas
vazando em chão
onde me calo

 





Adriane Lima

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

De tempestades e sedes





Liquida e urgente
já flui feito um rio ordenado por margens estreitas
já tive a placidez de um lago refletindo imagens
de tudo que me cercava
hoje, agitada cachoeira, sou queda e força
água gelada ou quente
se quebrantando em pedras
contornando seixos
buscando a imensidão do mar
sempre líquida, sem paragens
nunca rastros em areia
flutuo, sem tempo ou marcações
suavidade feita de ilusões
as verdades, levo comigo
no bornal que Chronos
me presenteou quando nasci
só ele me revela o espelho da alma
ouvindo atento todos os meus dilemas
sempre liquida, nunca pacificada
sempre recôndito de sensações inconfessáveis

 






Adriane Lima








Arte by Eric Wallis 







Arte by 

Fim de primavera






E se assim for
sentimento estendido no varal do tempo
sabemos que tudo se transforma
gestos e intenções provisórias
alheios e tudo que escolhi
meu jeito de ser
cheira a flores
plantadas em solo que eu mesma colhi

 




Adriane Lima










Arte by Charmaine Olivia 

domingo, 14 de dezembro de 2014

Entre a flor e a dor



 
Era assim que me sentia
cansada de eternizar gestos
perpetuar palavras
encobertas de armadilhas
cansada de ter olhos de saudade
e peso de tempestade
enquanto escrevia com todo meu corpo
era esse o dolo que pagava
enquanto pensava no efêmero
já era flor morta e despetalada
aceitava o instante para compensar
as tantas metamorfoses
de suas flutuantes vontades












Adriane Lima
Arte by  Annita Maslov

No silêncio dos corpos






O sumo de cada instante
sorvido amor e aroma
minúcias, entalhes, entranhas
as dobras mágicas do tempo
teceram entre asas e pétalas
um rastro de eternidade
poro por poro, os nichos
onde nos confessamos

 



Adriane Lima






Arte by Stasia Burrington 

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Na pele de poeta






Já fui pena, poema
pernas, braços e vertigens
nuvem, céu e voo
coragens e esconderijos
fui o avesso e o remendo
a corda bamba e a linha fixa
fui lua em céu de noite escura
fui dor e acolhimento
permanência e efemeridade
torpor e melancolia
pássaro de asas inquietas
feito em partes bifurcadas
entre a essência e o
sentido massificante
fui estrada transformada em verbos
conjugados em poemas prolixos
de quem não ignora o que vive
sou o peculiar óbvio ululante

 




Adriane Lima







Arte by Leah Saulnier 

Poema intra venoso






O invisível manda recados
a fala feito bala, acerta os
olhos de quem não crê
de quem não vê o mundo acontecer
e vive de respostas prontas
frente as afrontas
virando hematomas internos

o que não se vê, também sangra

 




Adriane Lima







Arte by Viktos Schelev 


O silêncio dos incômodos




Tem dias que sou
uma eterna criança
a espalhar meus brinquedos
pelo chão
peças quebradas sem risos
jogos sem explicação
dou a eles remendos recicláveis
e não os faço pro(lixos)

 




Adriane Lima





Arte by Leah Saulnier 



Asas invioladas





Eu já passei por cima de tantas coisas
do desprezo ao carinho
eu já passei por cima de tantas coisas
da rosa ao espinho
nessa vida tenho provado
que eu escolho meus caminhos

 




Adriane Lima





Arte by Tony Pavone

Gira mundo





Amava girar no carrossel em sua malemolência
abrir os braços em liberdade no chapéu mexicano
ter a sensação das alturas em uma roda gigante
engraçado ter todas essas sensações
após reconhecer no amor um parque de diversões

 




Adriane Lima





Arte by Joe Bieberg 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Tabula rasa




Vida seletiva
ela, indesejada
em um canto solitária
a espreitar o mundo
a mariposa
agora morta
se enche de formigas
na morte
tornou-se coletiva

 



Adriane Lima






Arte by Kot Valery

Fome desigual

 
 
Por mais que houvesse dilemas
jamais te tiraria de um poema 
todo dia as palavras me lembram que
a toda hora,  você em mim demora a passar
jamais engoli rimas ou melodias
só o tempo foi devorador de papéis








Adriane Lima






Arte by  Pauline Gagnon

Submersa saída


 
 
Tem vazões que são eternas
e não param de jorrar
arejo os olhos desse lugar
vida singular
estrela, pássaro e flor
tudo que me faça voltar
sumir do aguaceiro
escapar do desfiladeiro
sem pecado, sem fome
sem medo, sem rancor
fechar portas
não recuar
eu renasço onde me disponho
a respirar fora do emaranhado
onde nos confundimos
 
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
 
Arte by  Ester Barcenas Tombo

Vestígios de estrela me vestem

 
 
 
Eu lhe agradeço por não ter me ouvido
por não ter me dado as mãos
por todas as verdades que você ocultou
eu agradeço os nãos
hoje minhas asas cresceram
e meu voo é feito de versos
depositado em estrelas
da crisálida a imensidão
isto hoje, me serve de refrão
e toda beleza me permanece 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
 
Arte by Kelly Smith

Cotidianas III




Na transparência do olhar
a balançar num varal
lembranças banais
se transportam em mim
vesti-me de sonhos
como sedas voei
com desejos esgarcei
no balanceio do vento
assim como o amor
mudei a direção
em um rápido tempo
o destino do coração
é pendurar-se em linha tênue
e toda percepção
se agarra em tramas fortes
sem armaduras
sem bordados
fina textura
como pedia o sentimento
o tecido que nos cobria
era intensamente leve
a pele guardou o que foi marcado
nas veias de nossos corpos
agora, o ambíguo olhar parado
se despe e sente a vida

ventar-se é contingente
quando se perdem nomes

 






Adriane Lima








Arte by Ana Teresa Fernandez 

Cotidianas II



Meu corpo hoje cansado
é casa fechada pedindo sol
cheira vida em bolor
pela falta de ar

uma sílaba de angústia
em cada cômodo
faltam mãos em terra
uma varanda na alma
uma espera

busco o cozimento
do passado
efervescências em pedaços
imersos por minhas escolhas

corto fatias de solicitudes
e as tempero em água
jorrada de meus olhos

perfumes nectarados de infância
aquecem o ambiente
busco um novo cheiro de vida
uma nesga de sol
uma receita sem pesos ou medidas


 




Adriane Lima







Arte by Ana Teresa Fernandez 

Mãos excêntricas




Eu pedia o tempo todo
um amor de levezas
algo que me fizesse rir
de minhas páginas viradas
 

eu pedia o tempo todo
uma história encantada
que estivesse ao meu alcance


que fosse o que parecia ser
dentro do meu livro de romance


- amar é história sem fim

 





Adriane Lima






Arte by Migdalia Arellano 
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