segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Dialética sutil



De você sinto pena
não mais poema
versos que aprendi
a escrever depois rasgar





 



Adriane Lima




 


Arte by Daryl Zagne

Nas asas do ventre







 Tudo vem do vento
do vento vem seu perfume
ecoando entre silêncios

a vida nascida em rosas
para enfeitar a morte
e postergar a secura inevitável

tudo vem do ventre
do ventre vem meu ardume
trazido entre palavras ressentidas

que se misturaram ao estrume
de uma paz tão sonhada
que nunca existiu

nesse buquê invisível
entre o que é real
e o que inventamos
existe o fio da história

desde o jardim do Éden

a mulher que escreve versos
sente o sopro dos diálogos
abafados pela mágoa

agora de olhos fechados
alisa a areia do tempo
enquanto toca o mar
e os desenganos
com seus pés de nuvens










Adriane Lima











Arte by Helen Mauren  


O silêncio conVersa comigo



Há outros mundos
eu me dizia
há outras dores
além dessa
eu me dizia
 
é pranto que
nunca seca os olhos
é sal que
morre na boca
 
são mãos que
atravessam grades
são gestos que
lambem dedos
 
bardos que não
adormecem
poético olhar
sobre o que
não entendo
 
são gritos de
sentimentos
são olhos de
infância tardia
 
são órbitas
no baile dos símbolos
intuição de vida
apontando o mesmo lugar
 
imagens construídas
a tudo que vejo e sinto
são os espelhos
que narcisicamente
aprendi atravessar
 
crente, faço preces
a meus deuses em vão
em cada conta do rosário
toco desejo e repetição
 
nessas horas vou me dizendo :
- a esperança é pura ilusão
qual mundo encontro a palavra futuro?
relógio que marca tristezas e
alegrias do meu coração









Adriane Lima















Arte by Johanne Cullen 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...