quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Tempo de estrelas



Sonhei fazer
tantas viagens com você
percorrer o mundo e
em seus olhos
enxergar belezas

Perdi seu endereço
e todas as ampulhetas
de medir o tempo
me mostravam

Um trem para
as estrelas













Adriane Lima




Arte by Van Hole

Desconstruo a elegia



Sei que é primavera
os pássaros e as flores
se mostram em tal cena
diante de minha janela

Sigo cansada de humanizar
tudo que vejo ao abrir os olhos
nesse mundo que habito e
sou habitada

Há uma casa em mim
que fraqueja ante qualquer vento


admiro cada dia mais
os corajosos que expõem
rachaduras, vazantes e abandono

Ando distante
desses que se dizem mestres
e não me dizem nada
com suas citações de autores
de livros amarelados 
comprados em sebos


Comecei cedo
a ter olhos de paisagens
falar com os animais
ser essa tola, verdadeira e
sentimental demais


Sem sede de poder
e de palavras






Adriane Lima







Arte by Muge Basak

Vertentes de um pulsar vazio



Nem todas as palavras me cabem
em horas cotidianas
são visões emolduradas
através do vidro empoeirado
onde um leve sopro de aragens
me faz companhia

Meus olhos que sempre viram tudo
agora embaçados, se negam o longe


Chego a brincar de desvendar o outro
o que pensa a moça que olha o céu
o velho que pausa de cabeça baixa
o cão que se lambuza de restos

Somos marionetes da rotina
a correria não nos deixa ver
em um universo tão visual

Letreiros, sinais, setas, indicam o vazio
de um cordão umbilical que se partiu

e tudo, é tão nada

Sou meus olhos,
a procurar uma solidão vasta
enxerguei tarde
no desvão de imagens

Onde tudo são  sensações
sem linguagem 
do tempo íntimo da vida








Adriane Lima






Arte by Xavier Pesme

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