terça-feira, 11 de setembro de 2018

Onde mora o personagem



Quando olho minhas mãos vincadas
resignifico imagens
sou aquele astronauta que do espaço
enxerga rios, mares e matas interligadas

Cada risco de minha pele são esses traços
que o tempo construiu, limitou, esculpiu,
pôs pontos onde quis, (mudando o que havia )

Mãos que construíram, tocaram,
fugiram, conduziram, modelaram,
realizando tudo o que eu quis

Eu e o tempo estamos hoje, como o astronauta-
flutuando entre o que vejo e o que me tornei
levezas e flutuações diante a bolha de sabão chamada vida, onde ninguém controla a trajetória

Na loucura da busca, 

a ilusão transcende e
ao mesmo tempo
mostra que está tudo sob controle

Silêncio em meus silêncios, olho de minha janela
o mundo a que sobrevivo

A vida desfolha o passado, o que você vê é o que você se torna.

Feito o astronauta, admirada, aguardo o futuro que traço agora
Como todo homem que pensa em infinitos






Adriane Lima



Arte by Agneska Weska 

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Poema para o corpo que visita nuvens



O corpo caminha pelas ruas, que são oníricas
desfilam rostos desconhecidos (e são muitos)
passam, olham, admiram...
Aquele corpo corroído... 
tempo, fábrica de memórias
do que ficou retido-
Que sonhos irrealizados teria aquele corpo, que agora caminha e ninguém o vê
-a não ser a carcaça
-a pele que cobre toda uma vida, 
tecido esse que se esgarça,
se desvanece e deteriora e 
o corpo segue cumprindo
tarefas diárias, robóticas, obrigações
comer, beber, já nem faz sentido
o gosto, o prazer, o desejo, 
desse corpo já foram esquecidos.
Corpo refastelado de loucuras, 
de vozes que não o abandonam
(mas o que é a voz ante ao silêncio) 
diante de tantas torturas
Tempo...senhor impiedoso e cruel, 
que vigia estrelas em noites insones
faz do amanhecer o grande espetáculo, 
nesse piscar de calendários
Outro dia a caminhar vai o corpo, 
arrastando suas correntes.
Em que espaço estarão salvas, 
todas as horas da alma presente?
Corpo, tudo fugiu, tudo passou, 
como todos que por você passam.
Sem emoções ou piedade, 
desconhecem seus gritos de rebeldia




Adriane Lima 


Arte by Ryuichi Sakai 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...