segunda-feira, 6 de abril de 2015

Existência lírica

 
 
Onde se esconde
o sutil toque das garras
que dilacera a noite
de minha psique
 
onde adormece
a anatomia do tempo
que levou o
crucial fragmento
 
de todo cotidiano
que havia entre
eu
e
você
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
Arte by Angela Betta Casalle

Sinais de nuvens




Não sei se hoje
acordei insana ou serena
querendo que toda dor
vire poema











Adriane Lima





Arte by Karol Bak

A nata da vida

 


Para dizer o que penso
ponho freio no pensamento
e sigo em silêncio


esqueço o terceiro princípio
hermético que diz:
nada está parado,
tudo se move, tudo vibra


mentira,
hoje a vontade foi morta
sob lacto senso das frutas


chorei sim, pelo leite derramado
as lágrimas secaram entre as cascas
da culpa do absolvido


falo e escrevo na esperança
de restarem palavras
em território de plumas




Adriane Lima






Arte by Saturno Butto 

Sob o senso do olfato

 
 
 
Venho brincando de ser felina
não dessas gatas de subúrbio
que se contentam com telhados
e quintais lúgubres
 
minha juba ao vento me declara livre
o olhar altivo, o sorriso de soslaio
dou vazão as minhas vontades libertinas
como felina, sinto fome de bicho
meus predadores eu mesma escolho
 
minha fome é de caprichos
não erro a dose dos desejos
 
me faço de mansa
me faço de frágil
fico a espreita
fico a mercê
 
já aprendi 
o modus operandi de cada ataque
digo a cada um, em pleno golpe
ser o mundo menos atroz
se fizermos mais pelo outro
do que por nós
 
então, me deixo ser devorada
eu mesma delimitei o território
para cada um deles
 
de um, a grama úmida
sob resquícios do orvalho da noite
ele me confessou precisar molhar seu ego
por isso, não lhe nego
 
do outro os galhos longínquos
do frondoso cipreste
ele me confessou precisar de alturas
para seu peito pesado de amarguras
por isso, não lhe nego
 
do outro as folhas secas do outono
que caem formando uma cama macia
ele me confessou seu corpo cansado
e sua vontade de ser amado
por isso, não lhe nego
 
como pode ser tão doce
esse sal escorrido das almas
tão amorosamente nos doamos entre alcovas
tão ternamente nos livramos das ataduras
e ficamos cegos das renúncias 
 
 
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
 
Arte by Saturno Butto 
 
 
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