segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

As pulsações do silêncio

Não vou ser a folhagem
que tapa teu muro
visão gradual da rua
dos pecados

não vou ser ramagem
que enfeita teu solo
visão daqueles que
sentem-se acima
dos infelizes

narcísicos espelhos 
que me presenteaste
crendo que Eva ainda me habita

suspensa pela força
do invisível
meu corpo se desprendeu do chão
à anos luz de pulsação

procure ver se em minha carne
ainda tremula a bandeira
desta forma divina
que me levou um dia
ao
Paraíso





Adriane Lima







Arte by Judith Peck 

Aquietação ao desejo





Há um homem
que me dói na carne
debaixo das unhas
que não o tocam
 
dor profunda e aguda
dilacerando meus lábios
em pensamento
 
encharcando meu corpo
sedento de mãos
que se desenrolam
solitárias
 
não bastam semânticas
versos, vertigens
desejo gozo e pele
sementes
de um amanhã febril
 
mãos e nãos
onde dele
extraio o liquido
frescor das palavras
derramada em
tardes vazias
 
e o entrego
desencantada
a minha vida
 
dói por não sabê-lo
dói por não senti-lo
extrai de mim
o meu melhor
e ele nem sabe
 
-meu homem
é dor e amor
tão imprecisos

 

 
 
 
 
Adriane Lima

 
 
 
 
 
( imagem retirada da net )



Voos sem Asas



 
Mãos,
segredos em linhas
cigana visão
frente e verso

mãos,
soltas em direção
ao que arde
ao que pulsa
pedindo chão

mãos,
percorrendo líquidas pétalas
de aberturas mínimas
águas internas e perfumadas

mãos,
construção em asas
misturas homogêneas
sopros em carne trêmula

mãos,
o sexo, a criação
banquete de cheiros
vapores de luzes
natureza em seda

pele a espera
de se fazer poesia

mãos,
nostalgia

compondo
sonatas de bocas
sonetos de pernas

- adivinhação

mãos,
intensa profusão
sentidos sonoros
gemem descrevendo:

o próximo verso
o próximo verbo

mãos sobre a pele
- volúpia e paixão


Adriane Lima

Transgressão

 
 
A dor que me invade
ainda me faz mais viva
tento por em prática
tudo que me ensinaram

mas, sou enfática
demais para engolir

modismos, aforismos
palavras-chaves,frases prontas
só servem para eclodir

há uma favela ali ao lado
e só me mostram paisagens bucólicas

rostos hollywoodianos
carros do ano
brinquedinhos de adultos fúteis

massificaram o amor
a poesia e a dor
nem são mais universais

santos fabricados
em terreiros ordinários
glorificação de uns
moedas de outros

quem paga mais
chora menos
e quanto vale sua alma?
a minha, a do profeta ?

liquidos esparsos
dentro do mesmo recipiente

não se unem.se afastam
e nem fui eu que inventei
a química

mas, escolhi a métrica
do que falo e escrevo
basta-me ser de verdade

mesmo que a carne doa
que a alma esfole
não vou ser flor plantada
em solo fabricado
dos que vieram prontos



Adri Lima



Arte by Judith Peck 
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