sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Réstias da vida, viagem perdida




 
 
 
Não, eu não guardo mais nas gavetas
os sabonetes que ganhei
em dias de festas
os perfume importados
de vidros reservados
para ocasiões especiais


as roupas de griffe
hoje têm uso diário
 saíram do armário
para minha pele vestir
ouro, pedras, sedas, tecidos mil


chega de guardar um ar febril
de quem retém
de quem espera
algo mágico
diferente
da vida ou de alguém

para mim , hoje a vida
está contida
no último gole
na primeira ferida
no álbum de retratos
no eco de um balbucio
espelhos internos
captando o lado de fora

- lembranças

das rendas
das horas
das salas
das esperas
das dores
dos sins
dos nãos
 

que habitam em mim

especialista em fracassos
em injustiças vividas
não me couberam glórias
não me fecharam feridas

sou humana
caída de um céu abstrato
de um céu ilusório
de noites mal dormidas
 

frágil imensidão em casca de ovo
 líquidos que me compõem
e não se misturam : mel e fel


lágrimas petrificadas
onde o doce do olhar
morreu no coração diariamente


usarei tudo que ganhei
esse mal abjeto

 

assim não mais morrerei
me vingarei 
não brincando mais de eternidade


 




Adriane Lima



Arte  by Konstantin Hazumov 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...