quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Poema para o ano da serpente



Dias seguem
coleciono sonetos
rabiscados em um caderninho
de segunda mão.

acostumei a guardar
nas gavetas do amanhã
os meus fracassos
tudo que inicio e não termino

ouço Cartola e sinto
combinar com meu momento
ao citar:"o mundo é um moinho"

e nessas incertezas da vida
e do amor,vou acreditando
no destino ou me culpando
pelos vazios internos

mas não há nada escrito
e o ano é tão novo que
bordo palavras ao som do improviso
e brinco de ser feliz

não,não vou contabilizar nada
nem vitórias,nem fracasssos
nem vou queixar-me aos quatro ventos

internamente,sei os olhos
do abandono,reconheço seus donos
prefiro me lembrar dos olhos da menina

que sempre no início de ano
se alegrava em sair para escolher o
material escolar, escolhia seus lápis
de cor e abraçava os livros
na certeza de ali encontrar felicidade

 
 
Adriane Lima
 
 
 
arte by Bruno di Maio

Saudosismo à toa



 
Talvez um dia
eu sente a sombra
de uma árvore
em infinito silêncio da tarde e comece
a me lembrar :
de todos amores que vivi,de todas as dores que senti,
de todos aqueles que magoei,de todos aqueles que perdi
humanos somos e assim pouco espiritualizados
acreditamos no poder dos gestos
mas na maioria das vezes ficamos estáticos
alguns verbos pouco conjugados :
amar,crescer,doar,acolher,amparar,escutar.
quase sinônimos em particularidades
quase antõnimos em nossas impropriedades
não sei o que faço com todos esses sentimentos e
gestos que guardei em mim.
Talvez um dia
eu componha uma canção
sentimentos assim combinam em uma música
suavidade no dedilhar de um piano
ou nas cordas de um violino
talvez...aprenda tocar um desses instrumentos
instrumentos tristes e refinados
como tais sentimentos
que deixei de viver
e essas tristezas incertas
como almas desertas
se eternizarão em uma melodia


Adriane Lima
 
 Arte by Michael and Inessa Garmach

Mergulho na paz






Valquírias aladas
flutuam em mansidão
de lá pra cá,de cá para lá
um embalar uterino
mansas asas
me protegem
inerte em sonhos
me deixo levar
e no véu da noite
o infinito da verdade
sinto em meus ombros
o fluir da aurora
flor desabrochada
lótus imantada
significante e
significado interno
seja o que for
que brilhe em mim
o poder de tuas madeixas carmim


 

Adri Lima




Arte by Jolene Monheim 

Botando pingos na vida




Anabela adorava
seu pijama de bolinhas
até com ele passeava
na companhia de Pingo

os dois se mimetizavam
entre bolões e bolinhas

pingo nascera com elas no pelo
Bela pintara na roupa de dormir
assim viviam o sonho encantado que é existir

entre o faro de um
e a farofa do outro
faziam picnics engraçados

ela comia ossos
ele comia frutas
pobres coitados!

mas eram felizes
quando estavam juntos
um abanava o rabo
o outro mudava o assunto

não havia loucura nem num, nem noutro
Ana era bela, pingo não era coxo

eram diferentes
e tinham até suas diferenças:
ela dormia na cama
ele deitava na despensa

Pingo não cobrava Bela
Ana não mudava Pingo
se amavam como eram
fosse sábado ou domingo


Adriane Lima e Orlando Bona Filho
 
 
 
arte by Yvonne Zomervdjik

O grande caçador


Desde criança
minha imaginação
me fazia caçar elefantes

eles estavam mimetizados
nos sons do meu pensamentos
eram fortes e grandes

elefantes verdes
comedores de amoras
escondidos entre árvores
abocanhavam as frutinhas maduras

eu, um feroz caçador
nas mãos impunha
uma grande rede

capturando em suas pegadas
no mágico lago que se abria
repousadas borboletas
que brincavam de ser flor

então, eu me distraia
e dos elefantes me esquecia
até hoje me pergunto

-elefantes caberiam em redes ?

 





Adriane Lima






 

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