quarta-feira, 5 de julho de 2017
Fria constatação
Depois daquele amor
que um dia
só me deixou feridas
sou livro raro
sou página que nunca
será lida
Adriane Lima
Art by Escha van en Bogerd
O risco das palavras
Nas frestas das manhãs
colho os dias sem sentido
labirinto esse, que sigo
para encontrar saídas
vivendo mortes diárias
uma vida sedentária
de se estar sempre perdida
estrangeira de meu útero
não sou a de outrora
aqui dentro ou fora
a imagem no espelho
me devolve todo dia
o que internamente já sabia
tempo de fragilidades
riscos na pele, suturas
alma enternecida
sem roteiros previsíveis
sem poder saciar a fome
das verdades que gritaria
é um tempo, dentro do tempo
um dia depois de outro
em uma manhã depois da outra
e a rosa de meus dias
sucumbe em poesias
Adriane Lima
Art by Aykut Aydogdu
Adriane Lima
Art by Aykut Aydogdu
Das inúmeras razões
Nunca me salvo de mim mesma
aprendi a morrer todos os dias
afogada, decapitada, pisoteada
morro com as vísceras arrancadas
sob o olhar sádico dos que me cercam
sou a única que habita minha solidão
permito degolar-me para o silêncio
ser minha eterna aliada
diante dos lobos e homens lobotomizados
brindo com eles o mais puro vinho dos deuses
em grandes goles desse rito diário
que é ver a morte aconchegar-me
nos braços amantes e amigos
de quem já matei bem antes
em cada manhã distante
Adriane Lima
Art by Juan Medina
Desmedidas
Tudo cabe em um poema
os olhos que nada enxergam
as mãos que nada seguram
os pés paralisados
as dores inexistentes
tudo cabe em um corpo
que nada sabe
que nada sente
então para a poesia resta a alma
essa que roubam
E nunca devolvem
Adriane Lima
Art by Angel Ynanov
Sobre a pele da alma
O dia se abre em asas
forma de um livro
que leio
pela noite que vagueio
da insônia em companhia
o dia chega e se abre
pétala por pétala
vida que me veste
em casulo solidão
voar é assonância da alma
que a poesia me deu
e sinto que do eu
só resta o que doeu
Adriane Lima
Arte by Rob Hefferan
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