sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Verniz



Ele sempre me dizia
até que a insônia
nos separe

a amônia limpa

o branco
mas viver entre trancos
não faz ninguém feliz

Ela usava

todo dia
colírio de aguardente
para fechar de vez
a cicatriz

O que os olhos não veem

quem vai pedir bis??

Tanta hipocrisia

tanta palavra solta
nessas doces bocas
na parcimônia
de ser educado
e ranger dentes febris

Vulcão exilado de

seu próprio País
não solta lavas
nem fumaça
torce o nariz

Acorde para o dia

acorde para noite
teu jeito
de ser real
está mais pra atriz

Sorte é um consolo

nesse mundo tolo
de ser falso entre
pedras preciosas
nas lamas dos rios

Pague teu seguro

às vezes quem brilha
no escuro,
não é farol
nem estrela guia
 

e quem te ilumina
é só um verniz

 




Adriane Lima




Arte by Mark Arian 

Véu do Desassossego




Vai mulher

tira o véu
que te aliena
as algemas
da cabeça
não te esqueças
liberdade ou prisão
de teus dias
em questão
ultrapassam
a visão
daqueles
que fingem
não ver
tira o véu
faze tua escolha
e recolhe
os cacos
se vierem
mas tira
tuas verdades
tuas lutas
e a vida
que sempre
pulsou
em ti
coloca
de novo
tuas asas
queima-te
em brasas
fazei
voltar
o teu
florescer


Adriane Lima

In-pressões




Ás vezes fico pensando
que sou uma tela surrealista
Feita de sonhos,recortes e colagens
Assim bem imprevista,
Quase um filme, cheio de bobagens
Pronto a ter críticas mortais

Me veem conforme, suas exatidões
Sou como Gala metamorfoseada,
A sempre mulher amada
A espera na janela,
A dama de Dali, de costas na solidão
Estado de fantasia onde não abro mão

Outros momentos sou paisagens
Que ao longe se vê
Sou os campos de lavanda
Sou os Nenúfares de Monet
Estáticos, superficiais
No lago a se esconder

Ou o perfeito Beijo de Klimt
Onde braços se entrelaçam
Não há antes,nem depois
E um manto que os encobre
Pintor de alma feminina
Do abstrato que o absorve

Nem sei se sou estanque
Como uma natureza morta
Que são fáceis de prever
Se de tristeza ou alegria
Nos detalhes aqui pintados
Há o lado Quixotesco
Sempre preso no tempo

Aquilo que foi me dado e
Aquilo que eu invento
Surreal ou natural
Onde o estilo não importa
O impossível de viver,
Sempre bate em minha porta





Adriane Lima 




Arte by Joanna Zjawinska

Nota de Renascimento



Aviso aos navegantes
que renasci
nem mais pedra
nem mais sal
a mesma igual...

Renasço sempre das cinzas
mórbidas dores vindas
de todos os lados
da vida
são açoites
são desfalques
são perdas
que nem posso entender

Me afogo em mágoas
me firo até o último punhal
sangue e sabre de mim
talhado de meu próprio osso

Vou até o fim das trevas
fico imergida em breu total
mas sou um ser vivente
com forças,garras e meu
consciente me faz de novo
renascer

Saio do lamaçal como quem
sai de uma fonte colorida
fito meu rosto marcado
das feridas

Mas corpo e alma
jamais vão se entregar
volto sempre a renascer

 



Adriane Lima

Minhas tardes Azuis



Queria me ver numa
tela pintada
vestida de azul
andando na beira da estrada
orvalho molhando cabelos
silêncio invernal de palavras

Eu,em meio ao nada
de costas na tela e na estrada
ouvindo sonoras corujas
entre arbustos negros
dessa floresta
por mim
pincelada

Tomando minhas rédeas
de tempo e tempestades
pondo cores de
um fim de tarde
igual a vida faz

Novas paisagens
novas vertigens
cabelos ao vento
soltos e displicentes

Eu,estrada,tempo
movimento...
quase on the road
quase on the rock...

Pedras no caminhos
tomariam o espaço
escorregadio feito
um corrimão
bem traçado...

E eu ali
fazendo parte da
história
sendo a dona
de minha liberdade
leve feito um filme de
sessão da tarde...

 
 
 
 
Adriane Lima

De...lírios



Porque amo lugares que nunca estive
As montanhas geladas
a neve
porque sonho com o que nunca vivi
o mar imensidão
tsunami sobre o Japão

porque quero o que não posso ter

mergulho breve
a verve
porque desejo quem não posso alcançar
pássaro em voo
solto no ar
porque acredito no que não posso sonhar
a nave espacial
luzes no quintal

porque ser sonhadora assim

e assim vagar
por lugares imagináveis
oníricos e suaves

por espaços onde componho

as notas de um sonho
as musicas que nunca ouvi
mas pressenti
na pele
o toque
o calafrio

o inconformismo natural

será lembrança ?
segredo guardado ?
ou algo espiritual ?
de onde nunca existi
onde nunca me fiz mal

 




Adriane Lima





Arte by  Michael Cheval

Verdade Vã



Não, nem sempre o amor ama

Nem sempre te traz café na cama
Te pega pelo estômago em borboletas
Te oferecem flores ao meio dia

Não, nem sempre alguém reclama

Nem sempre o fogo tem chama
Apagam-se as luzes e o som
Te oferecendo silêncios matinais

Não, nem sempre o que se diz é verdade

Nem sempre o choro é saudade
Palavras soltas no ar 


Te oferecem o ombro
e um novo assombro
vem te despertar

Com meias verdades

Mentiras Inteiras
Restos banais

Sim, todos os poetas mentem demais...


 



Adriane Lima




Arte by Sergey Ignetenko

Mar da tarde




Minha história de amor

Tem dois, tem três
Eu, você e a insensatez

Tem tangos, tragédias
Mar que toca a lua cheia
Dos meus desejos de mulher
Tem peito cheio de conflitos

Tempestades em fim de tarde
Em forma de chuvas de vontades
Misérias em busca de felicidade

Amor, é o que volta atrás 

É a tatuagem feita
São as digitais
Marcas de dor e danação

Sede em frente a toda essa visão
Invenção de uns, propostas de outros
estranhos enganos
Onde me ponho a delirar

São histórias que me enchem de vaidades
Por ver o movimento, assim como as
ondas, entre o ir e o voltar
 

Mar, amar
Um barco que não atracou
em meu cais

 





Adriane Lima







Arte by  Luke Hilestad 

Sentimento Paradoxal



Paradoxal não é o amor
Nao é o segredo guardado
Ou o sonho extraviado
De um silêncio proposital

Paradoxal é existir manhãs

Jardins sem pássaros
Meias verdades
Begônias escarlates
Que esqueceram de ser flor

Paradoxal é não aceitar a estrada

Dizer que não há mais nada
Como forma de proteção
Jogar assim as palavras
para o vento carregar

Lembranças podem ficar guardadas

Depositadas em caixas lacradas
As melodias inacabadas
Dedilhadas sem precisão

Paradoxal será nunca abrir a caixa

não musicar o verso
no meio de tantos reversos
entre luz e escuridão

Impossível não dizer

Um livro para escrever
Após me reviver

 



Adriane Lima

Traduzir Desejos



 
Será que é difícil
 sair desse ofício
de ser um bom moço

Vem e me diz?
mundo controlado
por palavras apenas
que abrem portas
de um conformismo dantesco
 onde foges de mim.

Será que o mundo
que te ofereço,é tão fulgas assim !?
Não pode ser tão problema
matar tuas feras
Sair do sistema e das palavras
supérfluas que sempre nos rodeia
de só escrever poemas
 e restos de amor

Quero te tocar a face
assim como quem toca o sólido
parar de olhar estrelas em teus olhos

Viver minhas centelhas de paraíso
me machucar se preciso
atravessar o tempo
e espaços convencionais

Quero te tocar os ombros
viver cegueiras momentâneas
onde as águas não são naufrágios
e minhas mãos tem forma de flor

Desfalecer imodesta
rolar nua em tua festa
me prender em teus braços
me ensurdecer de pavor

Quero te tocar sem juízo
de um modo carnal indeciso
vindo do medo de nós dois

Ser mulher e desejo
aflição e ensejo
de vontades matinais
Roubar-te todos os beijos
que em minha boca guardei

Quero te tocar no profano
provar o cheiro
que tanto imaginei saber
esquecer os moinhos de vento
onde mundos de amor
podem nem existir

e se isso for mero engano
Saberei então, desistir

Quero te tocar no fundo
alma e caminho
onde quisermos estar

Ver tua sombra refletida
no chão que meus pés pisa
sabendo que mesmo
assim imprecisa
não poderíamos deixar
a vida a passar

Não tenho certeza de nada
se esta vazia madrugada
me faz escrever isso aqui
mesmo assim me disponho
a revirar o meu sonho

Sabores de amoras
tintas de outrora
escritas secretas
sorver quimeras
muito mais que esperas
ser mais que o real

 



Adriane  Lima




Arte by Alberto Pancorbo 

Pedaços de mim

 

Pode parecer fraqueza

insegurança talvez
perder alguém que se ama
é ter as defesas
abertas para o sofrer

Faço com minhas partes

uma arte, nem sei se "Nouveau"
quero ao menos criar
poder colar

sentir-me mais inteira
Para um novo recomeçar

C

a
c
o
s.......

Mosaicos quero fazer

e toda dor colada
concretada
daquilo que posso ter
vou reformar e juntar
mesmo que artificialmente
tudo aquilo que você não quis de mim

C

a
c
o
s....

O que restou do fim


 





Adriane Lima

Crônica :A Coragem da Colagem...





 Essa semana peguei minha filha com uma frase que me fez pensar em várias situações engraçadas que não damos muito valor .
Dessas assim meio "Alice no País das Maravilhas" onde a felicidade é o que não volta,é imaterial e sem dimensão.
Diria mais,diria que quando estamos nesses tempos "Alice",estamos incansáveis,imunes as voltas que a vida dá e as que damos a ela em nossas saídas,em nossas desculpas, no que vai nos mudando sem que percebamos e ai... já foi...ruiu...
Ela vive dizendo: Ah, passa super bonder que cola...
Uma frase que rimos juntas ,mas que tem seu fundo de seriedade.
A fantasia da juventude com a roupagem  e maturidade da vida adulta.
Não assim metaforicamente falando,ela solta a frase de verdade,tentando unir novamente objetos que acontecem de se quebrar em nosso dia-a-dia.
Por exemplo ,sem querer quebrei o pé de um Buda que tenho na sala, e claro fiquei triste e lá veio ela com sua "solução mágica": passa super bonder que não dá para ver.
Mas, eu com minha sabedoria"oriental" já ouvi dizer que não podemos colar imagens,que não é bom ter estátuas coladas e já que o Buda trás prosperidade não ficaria bem usar dessa 'poção mágica' ,vai que a prosperidade colada some de vez...então não usei do truque que ela quis me oferecer!!
Mais tarde fui fazer uma limpeza em minha caixa de bijuterias e achei uma corrente quebrada que eu tanto gostava, e lembrei da solução oferecida por minha filha,colar,grudar os elos,fixar o que se abriu e se rompeu.
Mas elos não se unem após abertos,ficarão marcados, ficarão com remendos visíveis e pouco seguros ,já que,uma vez aberto com certeza a força terá se perdido.
E como se não bastasse mais tarde ao entrar em meu carro ela me mostra suas unhas, belas,todas bem feitas, pintadas de rosa  e me fala: nossa quebrei uma unha hoje mas estava tão linda que a colei com super bonder...
Lá vem ela de novo com sua poção mágica de felicidade colada,ou melhor,unhas ...mais valeria um gosto do que um sermão.
Mas sendo mãe claro que falei que não se pode usar esse produto nas unhas que certamente iriam ficar sem respirar,que certamente poderia dar um problema,sei lá..bateu sabedoria medicinal,dessas que a gente sabe que partes do corpo não se pode colar!!!
Assim como os sentimentos nada colado pode ficar bom,isso é certo!!
Mas a gente não escuta só as palavras,ainda mais sendo mãe a gente entende também os sinais.
Claro, que seria muito bom ter a vida inteiramente rosa (como as unhas), inquebrável feito as peças inquebráveis,os sonhos de uma vida perfeita,uma família inteira,uma casa na mais perfeita ordem,um sol iluminando todos e uma brisa na janela no fim do dia.
Claro, que também sentimos quando aquela amizade que há tempos nos era um "grude",quando eramos inseparáveis e hoje parece-nos distante,parece até ter ido morar no Japão de tão nada a ver que ficamos,poderia  ser colada também!!
Claro que relacionamentos não se consertam,nem de amor nem de amizade.
Fica o poroso,a marca,o divisor...
Por essas e por outras que  gente sabe que não dá para fazer colagens com nossas vontades.
Não há super bonder que resista ao tempo, espaço e a tudo que desmorona em nossas mãos.
Colar é transpor ao tempo, é juntar fragmentos do que não voltará mais ao natural, ao que era, ao que poderia ser e hoje já não é mais.
Claro, que esses fatos todos sabemos,aceitamos sim com certa má vontade e por isso a colagem...o remendo,o alinhavo no que não está em sua mais perfeita ordem.
Pensei em como a vida é frágil,em como não sutentamos forças,em como não seguramos elos,em como quebramos coisas materiais ou não.
E pensei em tantos verbos conjugados,livres para serem diretos ou indiretos.
Mas colar não dá para ser verbo nessa hora e muito menos predicado,já que algo colado significaria remendado e portanto nunca inteiro,nunca o mesmo!!
Afinal a má gramática da vida nos põe  em situações que temos que aprender rapidinho se quisermos seguir  entre as vírgulas, as pausas e os pontos finais.
Mas sabemos que tudo isso vem da sensibilidade feminina,o querer juntar, unir o que se rompeu,as angústias e vontades da mulher a qualquer tempo, seja ela jovem,ou mais velha,queremos a certeza do seguro,do elo,do estável e sem rodeios e sem pestanejar,queremos palavras inteiras,verdades completas no lugar de meias verdades e talvez por isso solucionamos fatos com as colagens!!
E isso deve fazer parte da alma feminina, inovadora e reveladora das transparências de algo que nunca poderá ser mudado.
Aquilo que em nossos sonhos sempre estarão livres de qualquer artifício que a vida possa nos oferecer.

Essa coragem de aceitar que o que temos inteiro são nossas histórias, nossos sonhos e pensamentos, mesmo os interrompidos, mas os colados...não...esses não temos como aceitar!!

Adriane Lima

Crônica :Tempo Rei



Descubro agora a tua grandiosidade,
a tua sapiência,
a tua eficácia;
mas principalmente, a tua paciência
ao passar, simplesmente passar...
Descubro também o teu ponto fraco:

A tua efemeridade diante de mim...

E não é que já estamos na metade do ano??
Quantos planos feitos em seu ínicio terminamos,ou pelo menos tentamos.
Ah, senhor tempo,senhor implacável e inexorável,que nos deixa sempre marcas,lembranças,pessoas que nunca mais vimos.
Dizem que o tempo cura tudo,ou pelo menos é um educador.O tempo ameniza, mas não cura.
A novidade preenche, mas não substitui.E hoje sinto como se ele estivesse passando rápido demais, talvez por toda essas tecnologias e aparatos não temos mais nos deixado horas de ociosidade.
Parece que foi ontem reveillon,carnaval,páscoa,festas juninas agora,inverno...época de tirar casacos embolorados dos armários,primavera, verão...Natal novamente e pronto...acabou mais um ano.
Tempo não espera ninguém,isso sabemos desde que começamos a ter uma noção de nossas vidas.
Outro dia lendo um livro adorei um trecho que transcrevo aqui:
"Faço menos planos e cultivo menos recordações.Não guardo muitos papéis, nem adianto muito o serviço. Movimento-me num espaço cujo tamanho me serve, alcanço seus limites com as mãos, é nele que me instalo e vivo com a integridade possível. Canso menos, me divirto mais, e não perco a fé por constatar o óbvio:tudo é provisório,inclusive nós...
 Ao ler isto,fiquei certa de estar fazendo o melhor possivel para minha vida com o meu tempo,acho que tudo realmente tem seu ...tempo!!!
Vejo o tempo assim também, quando procuramos ocupa-lo sabiamente e o preenchemos com coisas agradável e útil ou com algo que verdadeiramente nos preencha, percebemos que o tempo é algo agradável e olhamos para trás com satisfação ao verificar que preenchemos o nosso tempo ou o nosso ser com coisas que podem ser “medidas” e às vezes até reverenciadas por nós mesmos e pelos outros.
Só existe uma pessoa que pode ajudar a mudar,decidir,seguir:Você mesmo!!
Precisamos decidir mudar e estarmos preparados para o desconhecido.
Nunca será cedo demais ou tarde demais se estivermos abertos as mudanças.
E só no tempo presente podemos constatar isso,o que queremos mudar e assim agir...nada de ficar preocupado se o tempo está passando rápido demais.
Preocupação...
A própria palavras já diz tudo: pré...é, num certo sentido um anseio do que pode dar errado e como lidar com isso.
A preocupação não produz absolutamente nada.
Porquê perder o seu tempo e energia com uma coisa que não o leva a lado nenhum ?
Quando se preocupa com qualquer coisa isso muda alguma coisa ?
A preocupação é uma escolha, está dentro da nossa cabeça, portanto está na esfera da nossa própria influência já o tempo que perdemos com ela,não!
O ano está só na metade,ainda temos tempo para mudarmos muito dentro dele e se não for agora que seja daqui dois,tres,dez anos,desde que isso faça a vida cada vez melhor.
Quando estamos receptivos,podemos descobrir coisas impercebíveis.Podemos busca-las ou termos o coração aberto para acolhe-las.
Gaste o tempo para uma palavra,um gesto,um alimento,uma música,um jeito diferente de fazermos a mesma coisa trivial,um detalhe novo para enxergar o velho,tenho certeza que o tempo vai passar bem mais devagar!!!
Viver é um ato de amor a sí mesmo.
Dê-se esse tempo!!!


Adriane Lima

( Texto publicado na Revista Glamour / Edição 3 /Ano 1 )
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