sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Feitos de céu

 
 
 
O amor se conjuga
com verbos de calafrios
entre sonhos molhados
e a boca seca de medo
 
deitar sobre um corpo
é narrar ficções :
 
o destino do amor
é ser teatral
frágil e livre
feito um colibri
 
nem maior, nem menor
e vira susto ser protagonista
de algo tão exclusivo
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
Arte by Gesine Marwedell

Na carne da escrita



De súbito entro
pelo pedestal do poema
de baixo para cima
fez se o sentido

e cruzo as mãos
em meu peito
pelo espanto do que
foi percorrido sutilmente

a emoção de estar dentro
e ainda assim
apartada do outro
e saber-se desejo e fome
como fruta macia
que vem próxima a boca
e docemente
lhe cravamos os dentes

aos poucos lhe dou meus dedos
peço que cheire, sugue e
analise com verdades

vivo o séquito dos verbos cabíveis
e dos que não cabem
pratica-los com amabilidade

diante de tamanha força
seguro-te os pés
fetiches de uns
esconderijos de outros
essa densa raiz que
não nos permite
voar sem limites

ponho em minha saliva
o sabor das vontades
assoprando nas dobras do tempo
antes de chegar aos joelhos
para que a reza sussurrada
meça o fogo pelo frio
e se manifeste além da alma

faço uma ode ao anseio
e então, indico em tom ganido
para que segure firme o ilíaco
sinta o osso por completo
e sem pudor solte a
tua força na carne

me sirva a primeira dose
brindemos o liquido exposto
há um rastro de odores misturados
indicando os caminhos

depois disso
- deixe-me

minha alma cheira terra
recém remexida
reconheço-me em
cada fase, hoje não sei
se rosa, miosótis, orquídea

- já não me importo

sei que a flor dos poemas
jorraria suas sementes
em diversos tipos de terreno

as direções sim
mudam constantemente
assim como os ventos
os sentimentos

é a vida que segue
fratura exposta
em casca e sumo
levanto para caminhar
com a humanidade
estejamos convictos
que nada é para sempre
além do que se fixa na carne









Adriane Lima 



Arte by James Neddhan 
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