terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Crônica : Arquétipos Interiores






Quatro gerações de mulheres fortes compõem a minha vida.
Quatro destinos tocados de forma serena e diferentes.
Heranças de Deusas gregas trazidas entre vertentes de mulheres com suas histórias pessoais.

A primeira abriu caminhos, teve braços para o trabalho árduo, para a luta de seu tempo, provedora,  preocupava com a ordem familiar, a matriarca de grande fortaleza.
Viveu para sua casa, marido e filhos, tinha forte influência sobre eles e tudo que lhe rodeava, rígida em seus princípios e escolhas.
Era habitada pelo arquétipo da Deusa Deméter, a mãe geradora de vida, feita para a família .
Representa o instinto maternal, geradora não só da vida mas também de sentimentos, emoções, experiências.
A que protege, acolhe e alimenta, se apresenta com reservas aparentemente inesgotáveis de energia, cuida de tudo o que é pequeno, carente e sem defesa e, em até seus últimos dias fez de tudo para manter a família unida.

A segunda mulher dessa geração sempre foi exaltada pelo amor e a admiração de todos que a conhecem, é feita de versos,  canções, voz suave e colorida, em sua presença de pássaro.
Encantamento vindo de suas mãos através da arte, esculpindo sonhos em forma de círculos feito a Lua. Teve sempre também suas fases.
É  feita de traços da Deusa Hera, traz consigo os traços familiares para unir filhos, cuidar dos netos desde o nascimento, estar perto em horas de dificuldades.
Vive para sua família, mas também em sua inquietação vive para arte, para o dom da música, literatura e assuntos exotéricos.
Costuma ser fraternal em seus relacionamentos, quer cuidar de todos, amigável, valoriza o companheirismo e a independência que cada parceiro permite ao outro.

A terceira sempre teve a liberdade em seu destino, cheia de sonhos, sempre se deixou levar pelo amor, pelo humano, para a beleza do universo, é feminina, sensual, sensível e refinada, está voltada principalmente para os relacionamentos, para a beleza e inspiração nas artes.
Uma eterna apaixonada pela vida e por isso embebida por esse arquétipo Afrodite, possuidora de um magnetismo, sempre rodeada de festas e de pessoas, de luzes e solidão.
Muitas vezes personificada pela sua beleza em fantasias masculinas, onde poucos conseguem envolvê-la de verdade.
Tem necessidade da criatividade para sentir-se completa, na arte, na música, na escrita ou até mesmo como terapeuta.
Faz o que gosta não o que lhe dá dinheiro e posição social, por isso tão diferente da maior parte das mulheres de seu círculo de amizade.

A quarta assim como as demais, também guarda em si a fortaleza e os sonhos vindos de suas antecessoras.
Traz consigo cabelos encantados das sereias, choros contidos que nunca aparecem, onde tem também muita alegria, sempre rodeada de amigos, mocidade e, um sorriso a acompanha-la , ao mesmo tempo mistério e sonho.
Personificada do arquétipo da Deusa Atena, prática, objetiva, vive para a justiça do que acredita, nunca se deixa dominar por sentimentos assim, como Atena, é a Deusa da prudência, capacidade de reflexão e introspecção, é também amante da beleza e da sabedoria.
Não se deixa levar por idéias alheias, sempre consulta seu mundo interno mais do que o que ouve ao seu redor.

Eis assim meu caminho feito de mulheres diferentes e ao mesmo tempo tão iguais.
Vindas de tempos em tempos a habitar um pouco cada uma de nós.
Deusas mulheres, artistas pela sensibilidade, práticas pela ordem da vida, cada uma com seus destinos, cada uma com suas personalidades.
Mulheres que cumpriram e cumprem seus deveres fraternais, trazem marcas de Deusas, guerreiras, sonhadoras, sacerdotisas, encantadas pela vida e seus mistérios.
Vidas que fluíram feito um rio, contornando quedas, pedras, arrastando consigo correntezas e fortalezas pessoais.
Cada qual com sua história, seu tempo, sua memória, seus amores, suas dores universais... Trazidas entre tantas mulheres de tempos em tempos dentro de todo universo feminino.


Memórias que fazem,
seus olhos virarem mar
mar de histórias
mar de memórias
indo e voltando nas areias do tempo
estrelas cadentes que tecem marcas 
em meus céus interiores
Deusa Deméter
Deusa Hera
Deusa Afrodite
Deusa Atena
t  odas elas
habitam em mim...






Dedicado a minha avó materna Rosa, a minha mãe Angela 
e a minha filha Manuela.







Adriane Lima





Arte by   Marina Podgaevskaya 

Mar Alado



 

Entoaria hoje a voz
de minhas lágrimas
sal jorrado na face por
lutas vãs
 

Buscaria cores da primavera
em minha existência sã?
 
Mas a luta, mascarou as flores
hoje sem cheiro e cores
um sorriso pálido estampo
sem vontades no rosto
 
Talvez mais tarde entenda
que ele me livrou do cinza
dos dias e das dores
 
Reluto em crer que sapos
possam ser digeridos
 
Que nós se desfaçam e
deem sentido
no mesclado dos sonhos
vejo anjos caídos
 
Geografias em mapas
de saudosistas esperanças
distância que separa
a superfície da terra
 
pedaços de caminhos
que levarei comigo
 
Mágoas, injustiças e castigos
calor que derrete abrigos
e dispersam o vento
das circunstâncias
 
Mar da liberdade e pujança
enseje em mim motivos, para crer
que tudo isso um dia terá fim

 






Adriane Lima









Arte by Robert Doesburg 

Poema em Chamas



Eu mesma me assusto
com o que tenho
de abrupto e salta
dentro de mim
 

Me vejo vulcânica
lanço lavas
em forma de palavras
subentendidas
em meu modo de ousar

Sou meteórica
viajo de um lado
a outro 

e são poucos
que podem me ver
do jeito que
realmente sou

Ultimamente
ando sísmica
me abalo facilmente
com as superfícies da vida
que andam mudando
rapidamente

Tento vencer depressões
caminhar por planícies
Explorar meus vulcões
e sedimentar as feridas

Mas, tsunamis me habitam
varrem minhas costas 
me derrubam e por mais
sólida que esteja
eu me perturbo e não durmo

Tempos esperados e seus
desdobramentos
casos demarcados
que julguei sólidos

Magma de vida
que vem e devora
devasta meus sonhos
do aqui e de agora
 

Confesso que já pedi:
inunda-me e me leva
de uma vez daqui




Adriane Lima




Arte by  Robert Doesburg
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