quarta-feira, 3 de julho de 2013

Poema invernal





Eu me desfaço
sou tantas entre
as surpresas da vida
vou me juntando
em personagens
para que possa
aguentar :
dores descabidas
ausências sentidas
arrogâncias cáusticas
nas horas vividas
me derreto em prantos
cada parte de meu corpo
se revela e se rebela
queima-me o pulsar
da solidão da noite
e nesse silêncio me
abranda o espírito
eu me transformo em outras
em pleno nascer do dia
teço em vocábulos mornos
a quentura interna
e assopro a nata
das palavras encobertas
é nesse liquido
que a poesia vence
e me encontra
na superfície
do que vai, me derretendo

 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
Arte by  Edson Campos

Sentidos apurados

 
 
O natural é se achar
é se perder
nem sei se isso é simples inspiração
ou se alguém já falou isso

há tantas frases ditas e não feitas
há tantos feitos e não ditos
cansei

Há um abismo em meu peito
um orgulho sem julgos
e uma falta de mãos estendidas

há feridas assopradas
entre meus pés de sonhos
e meus braços escancarados

mas há também os recados
de quem entendeu menos
e enxergou mal
não sei se aceito as boas intenções
ando cansada desse dever

o tempo me ensinou a perder
e a reter com firmeza o humor
mesmo que uns julguem ironia
eu chamo de alegria
o que me resta de fé

tem tanta coisa que não
sinto mais falta
outras tantas nem lembro que existem

talvez essa seja uma declaração
ao cansaço da visão periférica

existo muito além
dessa margem
atravessei desertos
e não miragens

julgamentos que falam
por sí e para quem ?

não há transformação a priori
só peço para morrer
sem que tenha vendas

não suportaria não enxergar
meu parceiro na última dança

 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
Arte by  Ron Monsma
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