segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Prosaica flor

 
 
A flor de mim
na pele exposta
uma dor de carne
já decomposta
 
ao engolir seco
 furtivas palavras
que se debatem e descem
 
eu fiz brotar meu jardim
sob uma ácida chuva
de olhos superficiais
 
jamais adentraram raízes
enquanto sugavam perfumes
 
refiz cicatrizes
nem tinha ideia
que me morderiam
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
 
Arte by Katrin Kuhn

Ao pé da letra




Eu te falei meu bem
eu mudo de planos
todos os dias
 
eu acordo uma flor de candura
faço poemas de amor
expresso a minha ternura
 
hoje acordei as avessas
nem pensei em amor
nem em querer
que você apareça
 
não são os enganos
nem frias minhas palavras
foram suas atitudes
 
pode até ser
que daqui alguns dias
tudo mude
 
vai que acorde ainda dizendo
que te amo, mas nesses últimos dias
te juro, não mais me orgulho
de meus erros Kafkanianos







Adriane Lima








Arte by  Kwatç Prinauçtak

Artifícios II




Esqueci a descrença
o dissabor do jogo
que meu peito guardou

Disse a ele, se alegre
um novo amor
não irá fazer doer
como aquele que passou





Adriane Lima






Arte by  Delphine Leborgious

domingo, 8 de novembro de 2015

Entre o céu e só(lo)

 



Como fui ingênua
ou melhor dizendo teimosa
acreditei na velha história
do outro na espera
para comigo voar
o trapézio balançando
e eu me soltando, em pleno ar.
a outra mão ao meu alcance
a outra mão a segurar
entre tantos cansaços de outrora
não percebi ir embora
alguém que não tinha
a mesma coragem que a minha
para no amor mergulhar












Adriane Lima







Arte by José Rivas 

Ao tempo





Dormi sentindo seu frescor
a flor aberta sob a janela
acordei lá estava ela
caída ao chão
na flor da espera

 





Adriane Lima





Arte by  Katrin Khunn

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Mergulho no escuro






Você é aquela música
que para mim tocou
e o som do silêncio
que incomodou

Você é a fome que sinto
e nunca sei de quê
a sede como se estivesse no deserto
bebendo até a última gota

Você é o que eu perco
mesmo não me pertencendo
a carícia na pele
que lateja entre memórias

Você é o caminho
mesmo quando falta estrada
a queda das nuvens
em céu de pensamento

Você é a paz que minha
alma pede a todo momento
o rodopio dos dedos
querendo que eu faça poemas

Você me faz  deixar de lado
as coisas pequenas
no desgaste diário que não
vale à pena

Você é o sujeito 
que inventei predicados
é composto e direto
sem grandes recados







Adriane Lima





Arte by Peter Nevis


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Meus labirintos



Uma de minhas maiores sinas
é cair feito menina
e me reerguer como mulher











Adriane Lima








Arte by Steve Off

Por entre extremos



A melhor parte de mim
é feita de intensidade
e temo que a pior também








Adriane Lima






Arte by Eva Syrellis 

A essência do tempo

 


É preciso saber o tempo certo
para largar as armas
para alargar a alma
é preciso saber o tempo certo
para segurar as mãos
para assegurar o chão








Adriane Lima





Arte by  Emily Macphie

Armadilhas

 


Tem dias que
os meus silêncios
não são de paz
reconheço a guerra
que está sendo travada
aqui dentro







Adriane Lima






Arte by Naotto Hattori  

sábado, 17 de outubro de 2015

Voo cego


Eu pensei em libertar palavras
colocando-as dentro de balões
Começaria com a palavra por quê
e terminaria com a palavra razões
Deixaria que elas se perdessem
no céu de minhas indecisões
Voando assim para o alto embaralhadas
esvaziariam meu peito de frustrações






Adriane Lima


Arte by Malika Frave

Ainda assim e mais



E se o amor não valeu a pena
sorrio e dou de ombros
enquanto penso:
ao menos me rendeu poemas







Adriane Lima







Arte by  Sylvia Ji

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Quase felinos



A minha alma te conhece
O meu corpo te conhece
e ainda assim, nem sempre
desvendo teus sussurros
quando dentro de mim
pulsando o grito para fora
o mundo dissolvido entre
nossos sentidos
a sensação emergente
na fronteira dos ouvidos
a eterna sensação do agora
a sensação eterna do depois
e depois
                 e depois
                             e depois







Adriane Lima








Arte by  Rodolpho Lendel

Desnorteios

 


Perco-me entre palavras
e silêncios
demarco territórios
e te coloco em distâncias
 

quando você chega
uma estrada se abre
à minha frente
 

Descubro o fogo
de tua existência
recompondo-me
 

Teus olhos, cercam-me
tua boca, dissolve-me
confesso cair em tentação
e não mais saber quem
tem quem nas mãos





Adriane Lima





Arte by  Malika Frave

De nossos desertos e rios


Sob o oásis do tempo
tua água mansa me devolve
eu-mulher
escorro inteira
 

seu corpo areia
se acomoda ao meu
 

desertores presenciamos:
seu vazio
meu todo
 

transbordamos poesia
ao romper o dia
que nunca dorme






Adriane Lima





Arte by  Belarmino Miranda

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

O que há em mim para encontrar



Por muito tempo esperei
ser surpreendida por você
Perfumava a casa
com o cheiro de lavanda
arejava as pestanas do cotidiano
com bobagens
para que não adormecesse
em mim, essa saudade
de ouvir novamente
a campainha tocando
a porta se abrindo
e toda minha vontade
se esparramando pelo seu corpo
mesmo sabendo que minha paz
estaria retornando para a guerra
que foi driblar o tempo
depois da solidão
acostumada com vazios





Adriane Lima







Arte by Loui Jover 

De cristais e silêncios



Ando bem cansada
de bancar a estrategista
conhecer tua lista diária 

e desvendar tuas pistas

Sentir já não basta
desejo se estilhaça

o sim pode ser não
e a realidade nem sempre 

Condiz com o coração

Parei de escrever
nossa história e dar a ela
um sentido literário


Com seus jogos infantis
e o tempo jogado fora
guardarei a melhor parte
que foi a trilha sonora



Adriane Lima







Arte by  Natália Rak

Histórias e tempos



Mais um aprendizado
em que busco
entender a sina
 

Peter Pan ao teu lado
e eu perdendo
meu jeito menina


Fui mulher demais
para tua Terra do Nunca


entre o meu amar e o teu voar
aconteceram verbos conjugados
só em primeira pessoa


 




Adriane Lima





Art by  Julio Larraz

Onde dói o espanto



Até outro dia nossas mãos
Seguravam o infinito
Ode e memória
Hoje o dito pelo não dito
Costura nossa história






Adriane Lima





Arte by  Mille Tsang

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Olhos e brisas

 
 
Eu desejei o mais simples
e notório clichê
seguir a estrada de sua voz
e em seu infinito me perder
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
 
Arte by  Claire Street Art

Sobre um peito vazio




Queria libertar
todas as palavras de amor
que meu coração guardou para você
queria brincar indiferente
diante as respostas que não me servem
queria lembrar que somos dessa gente
que mente, diante do que sente
por não admitir ter um coração






Adriane Lima






Arte by Sarah Johnson

domingo, 27 de setembro de 2015

A arte da indecisão

 
 
O que move os nossos corpos misturados
É como se você dissesse:
me rendo ao seu lado
 
O que prende nossos corpos separados
É como se você dissesse:
me liberto ao seu lado
 
Qual o medo de que tudo se
misture, que tudo se separe ?
 
O problema é a ordem e o espaço
a quietude rasgando laço
A solução é o caos e a sede
que um dia irão vencer
nosso cansaço
 
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
 
 
Arte by  Carlos Manuel Rodriguez
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