sábado, 14 de janeiro de 2012

Destino feito de sal....




Eu não sei o que sinto
esse espiral de tinta e vento
balançam a vida e o momento
escolhas tardias, de um tempo impreciso
dentro de mim, labirinto

Nem sei se é quinta, segunda ou domingo
me perdi por entre calendários
 

Os meus pedaços
tem brilho de tardes vazias
Espalhados por lugares
em que montei meus cenários
entre taças de vinhos e fantasias

Nele restou saudades
vazias lembranças de horizontes
hoje pés sem rumos, mãos vazias,
andar distante
Busco um não sei que, não sei onde
mania estranha de não saber
o que se perde o que se ganha
 
Destino feito de sal...

Pensar no futuro é pensar na morte
rugas, rasgos, sangrias, barganhas
Pensar no tempo é pensar na sorte
Beleza, palavras, causalidades

Espera minha, sem saída.



Adriane Lima





Arte by Renso Castañeda 

Bagagens




E quando a dor
era impossível de sentir
o jeito era apertar
o travesseiro sob o peito


como quem quisesse abraçar
tudo que fora seu
como quem sabe
que não conseguiu
destruir os castelos
que criou dentro de si


ao ler o seu recado
veio um nó
quase abafado
e me restou dizer:


- leve seus discos
seus livros
seus guardados

veja se dá um jeito
de caber na mala
todo amor
que você não mereceu


e te digo
que o mundo às vezes pesa
e nem com muita reza

você volta a me rever
já está em mim criado
um novo amanhecer









Adriane Lima







Arte by Chermigin Alexey 

Sombras...



E quem não se choca ao ler verdades
quem se mantém preso a estética das vaidades
com certeza esse não está vivendo de lucidez

Todos nós temos perdas,medos,
lamentações,dores de estimação
essas que nos conduzem a anseios
de ódio e desaprovação.

Mas que desumano falar assim,
palavras pesadas que soam
feito sujeira em baixo do tapete

Mas, há também que comemorar
o que não queremos,
o que nos aflige,
o que nos faz ser menos
do que poderíamos ter sido

Entendo que só assim escancarando dores,
sofrendo de tais amores
conseguiremos repelir a futura repetição
Evitar a reincidência
que nos aproxima da miséria humana

Gesto que dói,gesto que dura
um segundo de fração
ou dura a eternidade
daqueles que sentem a compaixão.

A dor da perda é chaga aberta,
ferida que ninguém vem para curar na hora certa
ela depois de aberta,
é morte diária que vem fazer plantão.

Perder algo que contém teu sangue
teus sonhos,teus restos especiais,
não tem amor que combata
e palavras que expressem tal sensação.

Ferida escancarada
pássaro morto ao longo da estrada
nos dias de festa ou solidão.
Dias vão passando e a existência prova
que muitas vezes somente
pelo epitáfio se está esperando.

Matar ou morrer
frase dita sem saber
de onde o raio virá,e nem porque ,mas, virá.

Ele visita-me todos os dias
nas simples horas onde me encontro fragmentada.

E eu que sem saber nada,
não tive direitos defensivos,
nem pude praticar virtudes,
tive apenas que aceitar.

Aceitar sedento tal brutalidade,
que hoje em poucas verdades
eu teimo em acreditar.

A espera arde
e muitas dessas dores nunca vão me abandonar.

Lembro-me da velha frase de Pedro Nava
que em meu caderno de memórias
releio sem parar: "Eu não tenho ódio
eu tenho é memória.
Seria este o peso de aceitar...




Adriane Lima

Insanas Horas



Pudesse eu pisar todas as tábuas quebradas
entender quando meu cão tem sede
olhar o horizonte e saber que vem geada

pudesse eu escrever as poesias que imaginei
entender minhas indagações
cuidar do que sinto, por puro instinto

Colorir todos sonhos acordados
e apagar os já esquecidos
pudesse pichar alguns muros
cinzas e chapiscados

pudesse apagar de minha mente
que se esvai pelo escuro do mundo
e enxergar melhor de olhos fechados
o que nunca foi mero engano

pena que aprendi tão pouco
mas sei entender o perecível

 



Adriane Lima

As palavras que escolhi




Simplicidade
palavra vã
Procura á toa
Um talismã
Sonho
palavra solta
Procura afoita
Renasce em vão
Felicidade
Palavra cheia
Volta e meia
Vem e vai
Sentimentos
de alma e corpo
e tudo solto
se esvai
Palavras livres
faca,lume,fé
vagam na noite escura
no lume das marés
Punhal,vinho e poesia
Rimam mais com nostalgia
E neste desperdício de palavras
Fico nua,liberto o mistério dos sonetos
E tudo se mistura em mim
O cravo,o crivo o prazer de não ter fim...



Adriane  Lima

As minhas livres palavras





Palavras que são alegria
Dentro do meu dia
que são musicais
Feitas de canção
  

Palavras que são toques
que são fortes
que são corpo
que tem alma e coração


Palavras que me trazem
você para perto
teu jeito incerto
Mas, põe um sorriso
em minhas manhãs

Palavras que são carinhos
feito libertação
Toques de mansinho
Dentro de minha solidão
 

Palavras que são abstratas
Que são coloridas ou
Pretas igual nanquim
Que voam feito borboletas
Leves e livres em meu jardim

Palavras que são lavras
Chagas abertas na palma da mão
que são fardos,pecados
que são avessos
Adornadas de ouro e purificação


 Palavras que são fatais
Que são carnais
Feitas de medo e segredos
De minha espera
em vão
  

Palavras soltas
Entre meu calendário
Secreto diário
inicio, meio e fim
  

Palavras covardes
Bem mais que metade
que cabem em mim
  

Palavras sistemas
bem mais que poemas
Palavras que são elos
Boleros que tocarão
enfim

 



Adriane Lima






Arte by  Oxana Yambykh

Claridades



A luz de teu amor apaga cedo
diante de meu olhos
que te velam zelosos e
pensamentos feito parasitas
entram em minha cabeça
desejo que nada de mal aconteça
até que eu possa
de novo te ver brilhar
sei do escuro onde se encontra
mas não posso te tirar de lá
vem então a certeza
de continuar atenta
conectada ao sangue
sem perder a cor
o escuro me vence
e teu medo me convence
a sair por ai e cometer
frágeis pecados
negar,calar,sofrer por não
habitar a claridade desse amanhecer
fabrico sonhos no contorno de teu corpo
sob a profana sensação de te tocar
e assim te guardo em meu umbigo
força de vida ,nossa guarida
fio condutor de eternidade
ligações de saudade
aparições de minha loucas vontades
e essa sensação de sagacidade
invade meu corpo em profusão
promessas de serenidade virão
somente quando retornarem as luzes...





Adriane Lima




Arte by Igor Samsonov 

Esperar



As respostas não movem o mundo
as perguntas também não
são apenas moinhos de vento.
o que move o mundo são nossas mãos

Esperamos pelas respostas
algumas jogadas ao vento
outras ao esquecimento
vontades e anseios originais

Durante o dia Penélope tecia
e a noite secretamente desmanchava
seu tear para o seu verdadeiro amor esperar

Penélope tecia e esperava Odisseu
Guerra e paz no apogeu
quantos amores esperas
não permearam nossas histórias
de amor e sedução

Somos responsáveis
por aquilo que esperamos
desde um amor até
simples sinal de fumaça

Só nunca nos esqueçamos
que com a espera a vida passa
se esperamos demais
tudo pode virar pão ou possibilidade

Tenhamos em nós tais vaidades
uns esperam Godot
outros pessoas de carne e osso
e com vontades

É bem verdade, que cada um espera 

o milagre de amar






Adriane Lima

Magia do acaso



Acredito no acaso
Não sei se por ironia ou desatino
Mas ele sempre vem mostrar
Que sou muitas, em meu feminino

Meus Deus, nem sei se isso é bom
Ou se gera verdadeira confusão
Se isso é mais mágico que lógico
Ou se apenas me vem, como inspiração

Vozes místicas de um quase sacerdócio
Que exerço sem explicação
Vivo intensamente, como se fosse dócil.
Esse animal que em mim
alguns dias vira furacão

Não me vejo assim, entre cartas tirando a sorte
Se assim fosse teria desinventado
minha vocação para as dores
Teria evitado desastrados amores
Saberia bem mais que essa pobre aprendiz
Que pediu ao destino apenas para ser feliz

Mulheres maduras e resolvidas
Tem muito de bruxas e sacerdotisas
Nada de magia, nem mistérios
Dentro de vãs filosofias
Apenas a sensibilidade
Que aflora ao nascer do dia

 




Adriane Lima

Mar à dentro




Toda vez que penso
toda vez que sinto
toda vez que quero
toda vez que minto
me vejo por entre corredores e labirintos

dentro de tua imaginação
que para mim são lugares secretos
Em meio aos meus desertos
matei essa sede infinita

você foi o centro
fez desse momento meu atemporal

 eu te vi partir
escorrendo feito vela derretida
que queima incendeia fere
se puser a mão

sem poder te tocar
eu perdi o alento
não achei unguento desta solidão
 

mesmo assim invento
ao meu coração sedento
outras respostas
outra solução

onde a covardia
já fez sintonia
e me abriu o chão.

para você eu preparei uma primavera
e você não veio
nem me viu florir

nesse momento
não foi meu intento
navegar por mares tão desconhecidos

e dizer que por você morri

  o teu sol menino
não é mais meu centro
e te desinvento

-igual te fiz surgir

 




Adriane Lima


Arte by  Miroslav Yotov 
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