quinta-feira, 15 de maio de 2014

Anatomia das asas






Acordei no tempo
dos homens de carne
andando por ossos
de ofício e faces

andei pelas ruas
de almas sufocadas
apressadas em seu passos
afeiçoadas a si mesmas

assistia a vida ao redor
e com minha alma
cantava baixinho
o expressivo
que me doía

senti na carne
o que já estava
enterrado no jardim
embora me embebedasse
por olhos famintos
e sem segredos

um lapso de pensamento
uma voz ecoando
enquanto sorvia o ar
sabia-me oferenda
e aceitava sê-la

caminhante tenaz
olhando a própria sombra
contando as pedras
soltas nas calçadas

o aroma fresco da manhã
uma lua colocada
em pleno dia
sabia-me lamento e dor

só meu corpo
ainda estava ali
associei a ele
as pedras soltas e
algumas flores dadas
ao meu olhar por cortesia

pouco adiantava
procurar um significado
sede e saciedade
entre homens
e suas querências

de nada valia a fome
que assolava a minha alma
já nem sei se me restava algo

além dos olhos
e suas tão distintas preces









Adriane Lima





Arte by  Karol Back
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