quinta-feira, 13 de março de 2014

Poética constatação




Ao varrer a casa
noto que na vassoura
emaranham-se fios de cabelos
eis que meu gato os pega
como fossem um grande novelo
percebo-me então
Ariadne nesse labirinto casa
cômodos, embates e portas
onde o tempo obrigou-me
a perdê-los

 



Adriane Lima




Arte by Christian Schloe 

Sabores estacionários




O gole de café  pela manhã
sabor deglutido e sentido quente
na garganta
ao entrar no corpo
hoje cansado

na fragrância
evaporam as lembranças
da menina ou da mulher
que um dia fui

no peito gélido
apunhalo marcas
onde tuas mãos
eram presentes
se falo do amor
de menina
minha alma e meu corpo
sonham

se falo do amor
de mulher
minha alma e meu corpo
sangram

o que me importa
a todo custo
é que o amor
ajude a conservar
esse mistério vivo












Adriane Lima








Arte by Jordi Diaz Alama

O sopro da criação


Pela janela vejo
um gavião solitário que sobrevoa o céu
Provavelmente a procura de sua presa,
sua caça, seu alimento
O que para ele, não é tormento
a dor que irá provocar.
A sua saciedade é
a dor rápida da morte escolhida.
Alimentando-se daquele que
placidamente caminhava
sem saber dos perigos
que o rondavam.
Não há lógica na dor
mas há lógica, em se alimentar
Em engolir por instinto
a própria sobrevivência
Como o mito de Prometeu
e Epimeteu diante a criação
da raça humana.
Eis em cada um de nós o sopro divino
com o ar.
O desejo de Prometeu : o que pensa antes
ou Epimeteu: o que pensa depois.
Assim podemos escolher ser caça e alimentar
a dor.
Ou caçador e cozinhar o alimento.
- nem todo gavião pode nos sangrar o fígado.



Adriane Lima
Imagem retirada da net 
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