quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
As palavras são pedras
Ouvir a voz da razão
nem sempre é bom sinal
quando fico em silêncio
e ela grita lá de cima
tenho a nítida sensação
que aqui em baixo
no coração
criei a Muralha da China
Adriane Lima
Arte by Jean François Ségura
Lição matinal
Ouço todas as manhãs
um singelo poema
declamado por um pássaro
perto de minha janela
Sei que é um poema de amor
insistente e sofrido
como deve ser
um poema assim
sempre incompreendido
Só sei que todas as manhãs
o poema muda de sentido
bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi
Adriane Lima
Arte by Odysseas Okoneamou
Poema Plural
Sim, eu sei que a palavra Saudade
não aceita plural
Mas teimo em por este "esse" no final
para explicar a curva em distâncias que nos separam...
Adriane Lima
Arte by Oleg Oprisco
terça-feira, 27 de janeiro de 2015
Salinidade essencial
Ouça o que lhe digo
mágoa é água que
corre suja e sombria
na curva do rio
entre margens
silencia e deixe-se levar
não fique a deriva
esperando um
barco seguro
para te salvar
limpe-se
rio a fora
rio a dentro
o verbo e o pensamento
ganhará o momento
de virar mar
Adriane Lima
Arte by Toralph Knobloch
Correnteza
Era preciso sossêgo
para olharmos a mesma lua
com olhos habituais
encharcados de ternuras
era preciso alegrias
para brindarmos a mesma taça
com mãos vazias
despidas de aventuras
foram necessários pares
olhos e mãos
por todos os lugares
para doarmos
nosso encantamento
um gole de infinito
e um verbo cheio de atitude
Adriane Lima
Arte by Geraldine Odette
Pétalas ao vento
Era preciso apagar
seu rosto
a vida dos sentimentos
precisava morrer
na sequencia de agoras
afogar seu gosto
fomentar novas palavras
e esquecer
um futuro pessoal
que me persegue
chegara ávido
em cada canto
da casa
era preciso apagar
o esboço
do verso em rascunho
na poesia inacabada
que inventamos escrever
era preciso
transforma-la em pétalas
cindidas da flor
no leito das águas
do nosso querer
Adriane Lima
seu rosto
a vida dos sentimentos
precisava morrer
na sequencia de agoras
afogar seu gosto
fomentar novas palavras
e esquecer
um futuro pessoal
que me persegue
chegara ávido
em cada canto
da casa
era preciso apagar
o esboço
do verso em rascunho
na poesia inacabada
que inventamos escrever
era preciso
transforma-la em pétalas
cindidas da flor
no leito das águas
do nosso querer
Adriane Lima
Arte by Oleg Oprisco
Dança das marés
Voei feliz em sua direção
instinto de olhos
na metáfora do dia
havia de haver coração
me guiei sem medos
porque cingia sol
em seu sorriso
finito astrolábio
ilha de nós
disfarçados em mar
esquecemos estrelas
pudemos ser e estar
circundamos ondas
além dos peixes
mergulhados no silêncio
plenos de desejos
a navegar
Adriane Lima
Arte by
Entre a asa e a imensidão
Me inebria passarinho
me acolhe, mesmo que seja
no canto de fora de tuas asas
eis que a minha de dentro
anda frágil, vazia de sonhos
me ampara, refaça nascentes
que o tempo secou
nesse canto de ave
que traz a haste da flor
molhada de orvalho
sedenta me abrigo
sob tuas asas
minha alma se aquieta
para ouvir teu canto
e buscar aconchego
em asas abertas
prontas para o amor
Adriane Lima
Arte by Meghan Holand
quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
Pretérito poema
Se pudesse dizer
ao levantar, ao deitar
ao longo do dia
tudo o que vive hoje
na vastidão de meu peito
No pulsar de minhas artérias
no restante das horas vazias
onde sua imagem goteja
sobre meus pensamentos
A ante sala do desejo
hoje desbotada
reflete o abandono
e descrédito vivido
Não temo perder
o sopro das palavras
perdi o encantamento
das mãos em cores
do carinho contido
no primeiro abraço
da umidade implícita
no primeiro beijo
do repouso sulcado
no infinito olhar
Sábio, aquele que diz
que o tempo é colagem
para todos ornamentos
no silêncio de meus anseios
nada mais refaz nosso absurdo
Adriane Lima
Arte by Loui Jover
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
Vestida de sonhos
Entre o bem que me desejavas
e o mal que me fazias
acabei me precavendo
dos assombros secundários
vida de larva e pupa
quando esquecidas
tornam-se lindas borboletas
Adriane Lima
Arte by Christofen Wilson
O que se perde entre molduras
A rotina está entre
a janela que contempla o rosto
que calado
pensa todas as frases
sem emiti-las
enquanto
a vida está entre
a paisagem que contém o corpo
que afastado
sente todas as palavras
por conhecer a voz
abrir a janela
viver a paisagem dentro do tempo
ornamentado por aquilo que a memória amou
e que hoje explode entre uma
ou outra palavra cordial
calando-se entre pulsões e olhos líricos
quando se conhece a estampa
que enfeita a paisagem, as cores vivas
transformam-se em coisas gastas
e engole-se a alegria e o desejo de ver
Adriane Lima
Arte by Darhyl Zang
Romantizando átrios
Hoje gostaria de
ter
ao meu lado suas
mãos
dentro
delas
colocar meu
coração
o teimoso órgão
que ainda insiste
pulsar
e dar para você
cuidar
Adriane Lima
Arte by Sherry Lee Short
terça-feira, 20 de janeiro de 2015
Avidez do mundo
Ela costumava me chamar de passarinho
Mas,nunca parara para pensar
sobre o porquê de tal nome.
Até que me descobri uma Andorinha.
Sempre livre em meus voos
buscando meus iguais para fazer verão.
Em bando era mais feliz
rodopiava em balés a céu aberto.
Nas pistas escorregadias da vida
dobrava minhas asas e pausava
antes de novamente acreditar em novos voos.
Pairava sempre em lugares diferentes
pouco almejava além de voar.
Construí ninho, fiz ovos chocarem
e eclodirem duas belas aves
de puro amor maternal.
Dei colo, dei asas e permiti que cada um
fosse dono de seus próprios voos.
Como passarinho tive tudo e
dei tudo em delicadezas e fragilidades.
Abrigo e imensidão era o que eu mais
guardava sob minhas asas.
Poucos homens entendem de pássaros
nasceram egoístas e com sede de chão.
Aprenderam que pássaros merecem gaiolas
pois a liberdade os ofende.
Não nasceram com o coração desarmado
nem instintivamente pássaros.
Não sabem e não querem mudar a direção
necessitam bússolas como proteção.
Ela me entendeu Andorinha,
de fome ampliada, com euforia de ar,
perfumada em penas da mais híbrida
flor de poemas, onde juntas seguimos a mergulhar
num imenso silêncio de afetos
me mostrando que sou pássaro e eu a confirmar
Adriane Lima
Arte by Pat Erickson
sexta-feira, 16 de janeiro de 2015
Onde o amor deixa rastros
Dentro de ti
sou ave
abro minhas asas
para que me faça alçar voos
em plena tarde de céu chuvoso
dentro de ti
sou fera
abro minha boca
para que me faça ganir feito loba
em plena noite de céu sem lua
dentro de ti
sou estrangeira
sou tudo que desejo
sou tudo que desejas
dentro de ti
minha pele nunca está nua
reveste-se de aromas
pelos ares enaltecidos
dentro de ti
sou indolente e dócil
lânguida em entregas
dissolvente em gozos
dentro de ti
sou dona do tempo
que dentro de ti perdi
amor não me perca
dentro de ti
não tenho medo
Adriane Lima
Arte by Loui Jover
Uma espera, um sentido
Envolta em eterno desassossego
um lapso de pensamento
torna-me questionadora
um olhar se prende ao céu
respingado de brancas nuvens
uma flor amarela abriu
em baixo de minha janela
um bem-te-vi grita intermitente
e isso muda meu estado de espírito
fico procurando um milagre lá fora
que justifique a vida
hoje é um daqueles dias
que alguém chora
por um amor não recíproco
outro alguém casa
levando nas mãos flores da estação
outro alguém poda a grama
que cresceu após a última chuva
transpirando num sol escaldante
há sempre alguma beleza nisso
são ecos de um dia varrido
para baixo do tapete da lida
o conformismo do ente querido
que partiu para o desconhecido
é pele que pede carinho
vestindo a dor avistada
é anseio de voz que não chega
embebido no ontem que perdura
tento adivinhar o futuro
roçando em cada dedo em gatilho
a arma de amor é espúrio
vive emprestando passos previsíveis
tudo é possível na selva humana
gosto de ser gato em terra de leopardos
Adriane Lima
Arte by Christian Schloe
A linha tênue sobre os trópicos
Sinto lhe dizer
eu não nasci para ser
lembrança de homem nenhum
Aqueles que um dia me tocaram
se apoderaram de meu destino
assim como eu me apoderei do deles.
Vivificamos amores, o que faz com que
possamos nos sentir marcados.
Ainda que alguns pelas dores.
Lembranças para mim são aquelas
recordações do tipo :
ímãs de geladeira, fitas do Bonfim.
Aquilo que guardamos de um lugar visitado.
Não me pense lembrança, melhor seria,
dar a isso o nome de desejo
Querer ter o que lembrar, é desejar
lembrar um corpo é também saber
que terá que esquecer
Corpo, matéria que se desmancha
com o que chamamos tempo.
Eu desejo lembrar dos amores
os demais serão apenas desejos
do que por (a)ventura eu quis um dia
mas não apenas por lembrança
Adriane Lima
Arte by Calli Rezo
A leveza da lava
Tira o véu da carcaça
Verás o pouco que sobrou
Depois do terremoto
Que varreu tudo em mim
Um tsunami devastador
Fez reviravolta em tudo
Derrubando meus preceitos
Aniquilando raízes
Se apoderou do meu destino
Invadiu ofegante
Onde passou tudo levou
Arrasando e destruindo
Hábil fera, nem tempo tive
Para trancar o espaço
Veio devastando
Varrendo, rasgando
Queimando sem fogo
E eu
Tão vulnerável e sonhador
Nem tive tempo para entender
Que isso era amor
Adriane Lima e Elian Vieira Silva (Nane )
Arte by Patrícia Ariel
quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
Lamento de sereia
Ele me chamou para
ver o mar
dançar com ele uma
valsa na areia
ser a sereia que o
tempo não desfaz
Aquela que mora no
fim dos versos
dos poetas que
escrevem sob a lua
e trazem o murmúrio
das ondas
nos
cabelos revoltos ao vento
Sendo eu, sereia,
respondi :
- eu te salvo de
mim
não guardes dentro
de ti meu nome
Meus pés cravados em
pedras
não saberiam te
acompanhar
meus olhos insones
secaram
os mares que me
cercavam
Meus ouvidos
fecharam-se
a todos os versos de
amor
que por
mim declamaram
Eu te salvo de mim
e de toda minha
metade mulher
a outra metade
peço-te agora
mate-a
!!!
Como todas as outras
vezes
que me mataste por
inteiro
Depois, degusta-me
feito o peixe
que vem na rede do
pescador
que sai sem temer o
mar e
reza acreditando nos
orixás
Cada pedaço meu,
pulsará em
tuas entranhas e
entenderás o
meu canto : eu te
salvo de mim
Adriane Lima
Arte by Victor Nizovtsev
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
UniVersos paralelos
Vai
transborda-me
diga meu nome
de trás para frente
inverta:
quem tem boca vai a AMOR
transborda-me
diga meu nome
de trás para frente
inverta:
quem tem boca vai a AMOR
Adriane Lima
Arte retirada do Google
Poema confessional para um blues inacabado
Eu o amei avassaladoramente
com todo o meu corpo, pele e alma
Por todas as expressões que através
de palavras jamais saberei explicar
Por todas as razões...
por nada e por tudo o que fomos
enquanto estivemos juntos
Chego a pensar que fomos insanos
por termos desnudado o amor, desde
o primeiro instante em que nos vimos
Por tudo o que procurávamos
e encontramos um no outro
Porque foi poeticamente eterno
enquanto durou...e por que acabou??
Se era você o amor com que sempre sonhei
em meus devaneios de menina
E você me ofereceu o melhor
e assim partilhamos sentimentos e pensamentos
Porque tudo em mim era para você a magia da vida
Desde o meu jeito de espirrar
(sete em sequência) e quase sempre
você gargalhava me acompanhando
e quando eu parava, me dizia :
-você é única ...
e eu acreditava suspirando
Com você aprendi a gostar de blues
a ouvir Schubert no último volume
Vivemos um romance de cinema
viagens, shows, inesquecíveis cenas
jantares em lugares exóticos
rotinas, casas e cotidiano
Tivemos a vida na palma da mão
tantas vontades e planos
tantas malas repletas de expectativas
Um dia terminamos , nem sei se por ciúmes
birra ou por capricho.
Só me lembro que foram semanas seguidas
das piores dores da minha vida
Chegou uma hora em que já não tinha
nem mais lágrimas para chorar
Apenas uma sensação maldita.
Uma falta tão significativa quanto
de uma perna ou um braço
Foi assim, uma dor de amputação
aquela parte de mim, já não mais existia
Foi então que pratiquei a difícil arte de esquecer.
Rosto, gestos , cheiro, voz, pele...
A memória traiçoeira, vivia apontando
o meu fracasso através das música dos bares
por onde eu ia; seu perfume surgia
no ar da mesa ao lado
no meu espirro que virava ausência
e na gargalhada que se tornara escassa
Foi preciso me reinventar por fora para mantê-lo
para sempre dentro de mim
Confesso que até hoje, coloco um blues e danço
pensando em você, com o mesmo amor,
mas com um punhal cravado que ninguém vê
Adriane Lima
Arte by Sherry Lee Short
segunda-feira, 12 de janeiro de 2015
Paisagem lírica
Não sei o que vi em seus olhos
acho que foi o meu desamparo
você fica absurdamente lindo
com os olhos cheios de mim
seus olhos, nunca apagam
Adriane Lima
Arte by Mand Tsung
Translúcida cor
Antes de sua boca
toquei suas palavras
e um desejo por sua voz
já doavam seus beijos
antes de suas mãos
imaginava seus gestos
e um entender de pele
já desenhavam seus abraços
antes de seus olhos
toquei todas as suas cores
já adivinhava o brilho
de um entardecer que morava neles
no fim, não era eu
quem te tocava
era minha alma
essa lírica e errante presa
acostumada a se apaixonar
Adriane Lima
Arte by Jaroslaw Puczel
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