domingo, 2 de novembro de 2014

Melodia íntima





Tropeço no que não ouso
pensava ela a despeito de tudo
esquecera seus sonhos
esse cantar de fêmea
efêmero desejo
envelhecido e aprisionado


um blues atravessado
um amor desritmado
na travessia no abismo
que sobre ela pesava


a imagem extirpada
o dilema do absurdo
dizia ela: tudo me resgata
e tudo me apavora


risquei do itinerário
o sopro das verdades
sulcado no tango d'alma


resta hoje, apenas o instante
o fragmento inusitado
da hora vital embora morta


apenas a voz
tem desejo de infinito ao
escapar do mais profundo grito
que ficou lá atrás
no coração dos amadores


sim, dizia ela :
eu sempre quis
dar voz e melodia
aos meus sonhos sufocados


e quem ousaria cantar
sem ser escutado ?


é sempre a mim que recorro
ao meu canto triste e rouco
destes tempos derramados

 







Adriane Lima








Arte by Alessia Ianetti 



Ao princípio do Ver(bo)




Eu entendo nossas vidas
entre signos e significados
esperanças perdidas
horas alinhavadas
entre idas e vindas
o instante do encontro
a dimensão do olhar
o suspiro da presença
o desejo e o desejar
nunca o hábito
de selar espantos
sempre a placidez
de esperar sorrisos
nunca a recusa
dos próprios perigos
sempre sentimentos divididos
entre a soma dos pretextos
e nossos líricos contextos

 





Adriane Lima






Arte by Johanne Cullen 

Intempérie sentimental







Gosto de conviver
com a solidão do inverno
os dias cinzas, as tardes silenciosas
me remetem a fria monotonia
Não suporto conviver
com a solidão do verão
os dias azuis , as tardes sonoras
me remetem ao calor das festas e a alegria
é a solidão do inferno

 




Adriane Lima





Arte by Mônica Fernandez
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