segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Palavra pétala


Escrevo no vazio
um amontoado de palavras
repletas de formas
que penso criar

Atravessa-me a essência
o dia estagnado
amparado por flores
que o inverno derrubou

Sob a luz da lua
verto sépalas, colho pétalas
fecho os olhos
em minha alegria teimosa
por acreditar

A curva de meu verso
se insinua, modela
silêncio em paz
e alma nua

Pesa-me o breve
onde a vida pulsa






Adriane Lima




Arte by Agita Keiri



Alma límpida


Vieste ávido de mim
eu ave serenada
em meu ninho
mostrei-te fragilidades
dentro de um peito passarinho







Adriane Lima



Arte by Erick Madgan

Arredores

Com o passar dos dias
tudo foi substituído
dentro dessa casa
não há você comigo

Lá fora as plantas são outras
que plantei sujando as mãos
as cores da varanda mudei
para um tom mais alegre

Na sala há mais espaço
tenho adorado dançar
Rodopio as mesmas canções
que com você gostava de escutar

A casa é a mesma e 
as músicas também
meu olhar dentro do tempo
mudará o que convém

Ah, não tomo mais chá
antes de me deitar
meus recursos íntimos
se intensificaram
depois de entender a solidão




Adriane Lima




Arte by Dominik Jasinck



Camuflagens



Sou livre como as folhas
que são jogadas
pelo vento
que surge do nada
Livre como o peixe
que não entende
profundidades
e segue as correntezas

Livre como o pássaro
em sua imensidão de asas
movimentando-as
sem os riscos do chão

Livre quando sei
que estou errada
e me sinto plena de tudo

Felicidade também
pode ser maquiada










Adriane Lima







Arte by Stacia Burrington

Absoluta vaziez


Desejei ver o mundo girar
nas asas de uma " Silvery Blue"
rodei, rodei, parei! Círculos e circos
me conformei com os limites
do corte, aceitei a cicatriz

Patas de rinoceronte
era o seu acalanto
Cego, surdo e mudo
era o meu coração

Dentro de um ronronar se agitava
querendo o peito de um cão
Sob fractais paralelos
a grama crescia em vão

O limbo indesejado
marcava o tempo de escuridão
Meu instinto corria e se atirava
em meio a folhas outonais

Entre orquídeas translúcidas
pulava o gato, sob luzes
que desejava agarrar

Não me socorra, não coloque
seus dentes em minha pele
estou leve
Só quero continuar sedada
apreciando minha lobotomia











Adriane Lima





Arte by Iris Scoth

Despertar do sonho


As flores de meu jardim
amanheceram enfeitadas
com o que chamo de 
Esperanças

Minhas mãos precipitadas
arrancaram todas

A vida hoje 
é o vaso do improviso
onde tudo se perde




Adriane Lima




Arte by Naddia Cherkasova 

O ato de saber florir


Não afie sua navalha
não empunhe sua espada
cortes, córtex

é tão simples
tudo tão fácil
centro e coração

pele e verdes mares
olhos e incompreensão

não mergulho 
no que desconheço




Adriane Lima






Arte by Glenn Arthur 

Visão refratária


Meus olhos tomados de urgências
buscam direções 
embaçados pelas distâncias
não discernem nada
além de aluviões

Minha lucidez tem andado
no escuro
rasgo o espaço das palavras
que pertencem a outros sentidos




Adriane Lima





Arte by Pippa Young 

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Ode à distância


Ontem caiu uma chuva fina
acalentou meu jardim
perfumou o ar
uma folha seca caiu sobre meu cabelo
respirei fundo o ventar

Hoje caiu uma bomba na Síria
desabou em algum jardim?
em cima de casas, em cima de mim
uma lágrima caiu de meus olhos
a Terra é um lugar solitário

Não ouvi o murmurar daquela criança
e senti seu sofrer à léguas daqui

O amor desconhece fronteiras
aqui o vento machuca menos
as folhas são leves, as folhas são luvas

Em meus olhos de horizontes 
arranquei margaridas
bem me quer, mal me quer

A cor da arma em voo
deveria ser de uma paz infinita
me seguro no mundo onde piso
sinto sua dor e vazio

Posso plantas silêncios 
em meu solo útero poema
é o que posso fazer por nossa dor
aspergindo pétalas desconhecidas




Adriane Lima



Arte by Zhang Dali





quarta-feira, 17 de agosto de 2016

De tudo que transcende o tempo


A vida é a asa do sonho
faz paragens entre palavras
e perde o relógio interno

Não há nada menos poético
do que os verbos que criamos
arriscando céus desconhecidos

Quais são as cores dos sonhos?
 a esperança nos engana
bem sei...

As palavras flutuam 
feito beija-flor
correm de um lado a outro
buscando o que se perdeu

A rima quebra os ossos
da impermanência intocável
diante do voo dos versos
que cala o desejo de gritos








Adriane Lima








Arte by Rita Neves




Os fantasmas que me amam


Eu nunca me matei
mas todo dia me mutilo
sangro entre asas e dentes
deito em gérberas e mirtilos

Finjo que estou morta

inerte em pleno abismo
retalho a carne que é fraca
corto as flores na faca

Eu sei o que sinto
meu mundo em pedaços
enfeitado por flores de
estilhaços do que minto

Todo dia insisto
flor de carne
em terra bruta
conjuga solidão comigo




Adriane Lima










Arte by Amy Judd






Para negar olhares


Tenho um verso 
atravessado na garganta
ancorada em meu silêncio
trago nuvens nas lembranças

Não sei onde você se encaixa
nas coisas breves, no vento leve
na grama verde, na água que jorra

Só me encaixo em seu abraço
onde deposito minhas dores
seus olhos de colibri
buscam respostas na lua


Como fugir se as chegadas
são sempre cheias de dúvidas






Adriane Lima







Arte by Jiwoon Pak

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Colheita interna


Não é tempo de contemplar ocasos
é tempo de céus azuis beirando lilases
tempo onde aprendi  conter o inverno
Aguardando colher primaveras










Adriane Lima







Arte by Karl  Lise Alexander

Dicotomia amorosa


Não há cura quando se evita os planos
com medos dos enganos
Não há vida quando se evita feridas
com medo das despedidas

Há quem segure no peito
trancado por anos
o que cega e seca

E que todos enxergam
e chamam de Amor 








Adriane Lima






Arte by Hajin Bae

Ensaios

Não pedi para ser poeta
pedi para ser poesia
criar asas em suas mãos
e serem palavras minha moradia









Adriane Lima






Arte Kristina Kreb

Serena


A maturidade me trouxe
uma bela opção
ensurdecer o ouvido
e escutar com o coração






Adriane Lima






Arte by Hajin Bae

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Prosa para pessoas sensíveis V


É como sempre tenho dito:
me desculpe moço, mas aquilo
não era e nunca será amor.
Eram apenas duas almas solitárias
que vazavam fragilidades.
Acredite nisso, éramos corpos desejosos
que nunca se entregavam
Eu queria palavras vindas da alma 
e não da boca para fora
Vivemos um jogo de ilusões
para nossas vidas ficarem leves
e não se desmancharem em dor.
Eu sei moço, você foi a melhor
mentira que já me foi contada.
O silêncio gritante em horas erradas.
Te perdoo moço, já que amar 
é ter a vida bagunçada.
Dentro do meu peito há um coração
que pode ser renovado.
E te peço que me deixe guardar
as lembranças dos dias felizes,
com o tempo apagarei cicatrizes
e tudo que me feriu
Assim como te digo que a esperança dói
também digo:
não desperdice meu tempo 
pois, com o coração eu me acerto.
Amor é quando a gente diz: eu gosto
e se desgasta.
Vai até o fim mesmo não conhecendo a estrada.
Nós...
não passamos da primeira curva.









Adriane Lima







Arte by Jedavu 

Entre margens


Sob um luar navegador
meu peito embala
uma saudade

creio que o cais
nunca existiu
e assim como você
desconhece profundidade





Adriane Lima






Arte by Kill Rase


quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Onde adormece o silêncio


Não me pergunte sobre o tempo
se está frio ou se vai fazer calor
O tempo é dono do agora
e não, das intempéries lá fora

Me pergunte como o tempo
acordará os sonhos adormecidos
O tempo é sempre fluído
tão avassalador e desmedido

O tempo repousa em trapézios invisíveis
ou entre pulos de ovelhas esperançosas
travessias entre vida e morte

Não me pergunte sobre o tempo
deixe-o cuidar do mistério humano
do possível infinito, no verso de um poeta

Não pergunte sobre o tempo
viva-o, antes de ser tocado por ele
entre as respostas turbulentas das horas









Adriane Lima


Arte by Sophia Bonatti





terça-feira, 2 de agosto de 2016

Voando em círculos



Quisera você ser
aquilo que ninguém vê
quando estamos a sós
rodeados de certezas e medos

Quisera você ser
aquilo que ninguém vê
quando estamos separados
rodeados das mesmas certezas e medos







Adriane Lima







Arte by Lucy Evans

Poema para abrir os olhos



Em teu rosto avisto
um mar bravio
profundezas oceânicas
de onde me desvio

Um mar de lágrimas
habita teus olhos
em que não descansas
o desejo incontido
que sobe, até as nuvens

evaporas a visão etérea
ao secar teu pranto
daqueles pesos explícitos
trazidos ao cais da vida

O que saberão da alma do homem?
só ancorada pelos teus raros






Adriane Lima







Arte by Beau Frank

A alma quer flores



Meu olhar atravessa o tempo
com os pés sigo o vento
com os braços sou lentidão

Dentro de casa um deserto
onde a palavra é o sol
sigo sem forças para o voo
pelas janelas do horizonte

Nesse paradoxo também vou
com a pressa de dizer nada
com a tentação de reter tudo

Nessa bifurcação vivem
as perguntas que dentro
apenas soam e ressoam

Eu, silêncio, sou esse mistério
de dentro para fora
que a maioria prefere esconder

Eu palavra, sou essa força
de fora para dentro
a sentir tudo e dizer:

-Quem acredita cresce














Adriane Lima






































Arte by Lucy Evans






** Poema que recebeu Menção Honrosa no 5º Concurso de


Poesias da rede de farmácias Pague Menos
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...