- Bom dia,eu gostaria de saber se vocês tem livros de poesias...? Ah, acho que sim, ali embaixo na última fileira daquela estante. - Só tem Manuel Bandeira ? (pergunto já desanimando). Sim, infelizmente poesia não vende. Mas,olha,chegaram aqueles livros para colorir e desestressar ! Eles estão na moda, poesia é bonito moça, só que as pessoas não compram. A poesia é isso, pensei, como um guarda roupa, ela tem uma porta e quem escreve guarda ali dentro inúmeras peças. Uma porta de salvação, que ninguém consegue entrar e ficar. ...só abrir e fechar ...
Vertigem, pensei: memoráveis tardes infinitos mergulhos águas que atravessei
num canto de solidão deitei de cabeça para baixo criei uma nova visão para meu mundo
fui vendo as coisas sem o medo das cobranças sem o olhar desanimador tirei o peso dos ombros e das margens que me oprimiam
de cabeça para baixo me sustentei olhei a chuva que caia transpassando o dia e me vi também mudando
com o sol, me animava com a chuva me aninhava e senti a grandeza das surpresas vento rasgando sorrateiramente o meu viver
reinventei meu universo sem verbos, sem verbetes calcei um salto e com classe voltei ao chão
pés para cima, pés para baixo fluxo sanguíneo correndo forte giros em mim mesma encantada entendi de ângulos e cismada percebi que a vida era nada diante de meus planos
triste é nunca se perder de amor nunca mudar através da dor passageiros da ilusão ignóbeis são, os que se fixam em vestígios de uma vida igual nunca viraram-se de cabeça para baixo e não sentiram os pés tocando o céu
Feliz estou, em ser quem sou agora o Yin e o Yang equilibram-se em mim
- Fiz esse quadro abstrato, ela me disse. Apontando para o quadro no corredor do hospital. É um navio no meio do mar, está vendo? Fiz ele indo e não sei fazer ele voltar. E eu pensei : muito mais que um quadro abstrato, ela fez, uma imagem literária visível só a olhos intensamente poéticos e nus ...