segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Dualidade





Eu sou essa que habita
dois mundos
vejo minha existência comum
entre rotas e calendários
coisas que tem forma
marcações entre
a terra e o céu onde
tento estar
vejo-me envelhecer
através de meus cabelos
das rugas
meu espelho mostra
o que não sou mais
espelho guardado
retrato do que me vejo
e nem sou capaz
vida que poderia
ter sido intensa
valesse a recompensa
por tudo que já passei
sinto-me hoje
em outra esfera
esperando o tempo
de renascer
ninguém conhece o mundo
por trás de meus olhos cansados
Minhas mãos dilaceradas
de tanto oferecer
dar vida aos meus desejos
buscar intensamente
colorir o cotidiano
mas minha voz calou-se
essa não acorda mais espantada
não grita mais minhas verdades

Eu sou essa agora
que preferiu o silêncio das feridas recentes

 



Adriane Lima





Arte by  Karol Bak 

Acordando as cores



O tempo põe cores na vida
pinta de azul o céu das lembranças
de amarelo as fotografias 
de lilás os finais dos dias
de verde as esperanças
de vermelho as vontades
de branco a saudade

podendo ser arte ou sorte
vida ou morte
de fugaz efemeridade
as cores mudam no olhar
de quem passa por elas
cores quentes de verão
ou de uma delicada primavera

silêncio invernal translúcido
mimetizando minhas horas de outono
e com os dedos vou colorindo a tela
sob as cores de meu abandono

de alma,deixo-me levar
roço os dedos no tecido
vou aguçando meus sentidos
na arte vinda da vida

e da vida vindo com arte
dedos e tintas no embate
em uma luta ensandecida
 
 
Adriane Lima

 
Arte by  Robert Doesburg

Minha filosofia



É como se meus olhos
hoje abrissem camadas
de um despertar para
as coisas simples do cotidiano

Pássaros, frutos e flores
terão novos sabores e coloridos
onde ninguém virá mostra-me
outros significados findos
amor rima com dor mas, também rima com
flor

Muda o tempo,mudam as circunstâncias
muda a filosofia do meu querer
manhãs belas nascerão,meus jardins
sempre estarão povoados por seres
encantados e por mim criados

Mesmo que se faça silêncio nos corações
mesmo que faltem chuvas no final da estação a certeza de que o ingrediente necessário para
a colheita está em mim e nas sementes que
resolvi jogar em meu jardim.


Se alguém perguntar porque faço isso
diga apenas que sou aquela que acredita
na vida e no amor
que em meus campos áridos já vi brotar
sementes imagináveis
que do silêncio improvável nasceu o poema
e a pintura.

Que me mandaram viver em espaços
 e eu os quebrei um a um e em minha
vida o único cenário que construí foi esse:
de pássaros, flores e frutos revisitados

em minha sede de viver felicidade

 


Adriane  Lima



Arte by Igor Sansonov
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