quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Momento fecundo

 
 
Recolho por instinto
ou mero gesto
tudo o que
descuidadamente perdi

uns livros,uns discos,
uns anéis que adorava
uns poemas que recortava
de agendas já usadas

abrigo em meu corpo
um eu quase súbito

nem sempre me reconheço
me amanso com palavras falsas
me irrito com silêncios verdadeiros

e flutuo dentro da casa vazia

ela é tão minha
é quase um útero
onde me resguardo
as novidades

deixei os cabelos crescer
nem sei se fico bem assim

uso pouca maquiagem
ando descalça o mais que posso

protejo-me dos caminhos
e afago minhas dores
a noite fica tão grande
esta casa

estalam gessos
paredes se alargam
a escuridão cresce
faltam braços

eu pouco peço
eu muito ouço
eu pouco temo
eu muito sangro

há suavidade
na respiração
e no barulho do vento

me descortinei à tempos
e acredito que me salvei
nadando na memória
da criança que em mim morava

 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
Arte by Arthur Bezinsh

Na brancura do gesto

 
 
Eis que o destino
intacto à brevidade
se desenhou em alva pele
 
nada alcança o tempo
a carne exposta
recolhe
a essência da alma
agora vazia
 
despir-se inteira
abrandar a loucura
com a mesma delicadeza
que lhe ensinaram
a pisar em flores
 
acalme-se
lhe disseram
 
asas aparadas
não jorram sangue
durma tranquila
podaremos só as pontas

 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
Arte by Jaroslaw Kukonsk  

Poema reserva

 
 
 
Dizem que a vida sempre nos reserva
surpresas,amores,empregos ,lugares
novos olhares,novas ideias
a vida sempre nos reserva
algo lá na frente
porque esperar?
se a única reserva
eu degusto com gosto
passionalmente sorvo em goles
o futuro
não espero reservas
espero a taça

 
 
Adriane Lima
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