terça-feira, 28 de julho de 2015

O silêncio guardado



O que você levará de mim?
a carne, o cheiro
das mãos fortemente presas
feito garras em minha pele?
ou
a alma, a leveza
dos olhos friamente livres
feito asas fechadas
para o Amor?






Adriane Lima








Arte by  Elia Mervi

A lição que sai dos olhos






Através de minha sujas vidraças
vejo um mundo embaçado
 
embora meus olhos limpos
estejam ensolarados de dor
 
são céus de utopias
que vieram comigo morar
 
quando olho de dentro
para fora, não há como
com clareza enxergar









Adriane Lima 








Arte by  Elena Virzskaya

Poema para os esquecidos


  


Em pleno outono
tento disfarçar meu sono
tento conter o abandono
tudo se faz (in)cômodo
neste absurdo cotidiano
de solidão









Adriane Lima








Arte by  Krassimir Kolev

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Múltiplas verdades





Lá no alto da razão
algo transparente
feito teias de aranha
po(l)voam minha dores e ais
teimo fingir, não enxergá-las
e seguramente acomodá-las
fragilmente em prateleiras
como faço, com meus cristais
 





Adriane Lima








Arte by  Bryam M. Viveiros


segunda-feira, 20 de julho de 2015

Ao silêncio com louvor





Meu silêncio é ousado
mãos que tocam
a dobra delicada
da poesia


noite infinita
onde mora a fantasia
deitada em berço esplêndido
feneceu por covardia


Reescrevo a solidão
do poema
Quintana, Gullar,
minha amada Cecília


Nostalgia inesperada
tamanha fome de voo
hoje ardo e calo
já usei muito a voz


Agonia que tem pressa
dentro de um livro que acessa
a alma e memória do meu coração














Adriane Lima












Arte by  Joyce Tennenson

Faça de conta



Quando você percebe
que o amor é um jogo
e você desconhece a regras


só há duas alternativas
entrar e aprender a jogar
ou sair sem histórias


Amor é carta marcada
latente em nossa memória
mesmo o amor que se perde
mesmo o amor que se ganha


Amor é jogo nas mãos do destino
é sorte lançada que não se barganha






Adriane Lima




Arte by  Sergio Cerchi

Para preservar proximidades





 
A música foi levando-me
a um tempo já distante
senti Chronos se curvar
diante de meus olhos
 
repousar nas linhas
de minhas mãos
e em voz branda dizer :
 
mergulhe nesse destino
que te presenteio
nessas linhas não haverão
absolutas certezas
a qualquer manuseio
 
o prêmio é a alma a vagar
entregue as escolhas
encantada com a realidade
dançar, brincar, amar
sofrer, se perder e se achar
 
desse encantamento
cercar-se de toda atmosfera
da música da vida
trazendo o dom de renascer
e soltar-se com os ventos
 
lançar-se em sementes
polinizadas por amores
que embalaram-te
em levezas e
asas transparentes
 
guarde a fome de futuro
que nele haverá tempo
para todas as palavras
 
 
 
 

 
 







Adriane Lima






Arte by  Chrystel Mialet

quinta-feira, 16 de julho de 2015

De asas prontas




Acreditei que o tempo
sopraria verdades
e me protegeria dos desenganos
 
Ventou em mim
a aragem da madrugada
trouxe palavras estreladas
 
Tudo que queimava dentro
ganhou voos em novas asas
o casulo aconchegante
já me era estranho
 
Impulsos, desejos
sonhos de liberdade
 
A lua iluminou a solidão
que me acompanhava
e seu clarão enfim mostrou
 
que o seu amor não era o pouso
da minha ânsia projetada 
 
 
 
Adriane Lima







Arte by  Lily Greenwood

terça-feira, 14 de julho de 2015

Água de olhar




Teu amor
é cardume de memórias
a nadar num mar de histórias
a jorrar dos olhos meus








Adriane Lima







Arte by Olivia Whigrt

segunda-feira, 13 de julho de 2015

O nome que foi preciso esquecer


 
Onde depositar um segredo
que o coração carrega?
 
deixar ali mesmo
tem me pesado o peito
e esvaziado mãos
 
passa o tempo
e eu brinco que esqueço
por instantes adormeço
e faço pausas no meio da vida
 
teimo em não ouvir
o pulsar que me chama
à qualquer salvação
 
desaprendi melodias
a dizer " eu te amo"
como forma de oração
 
sustentei o que cabia
fui ser minha carne viva
para reaprender a viver
com orgulho descabido
 
foi preciso não enfraquecer
povoar dias descoloridos
criar mistérios comuns
 
e nascer não é fácil
em um parto de si mesma
e morrer não é difícil
quando pesa a vida
 
é uma corrida sem fim
que no peito levarei o nome
a rima, a dor e a canção
 
joguei ao vento palavras
e correm comigo em paralelo
em inquietos diálogos
ávidos de sossego
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
 
Arte by  Jean Pierre Leckler
 

Renascendo com Alice





 - Porque você está arrancando essas flores? Me pergunta Alice.
- Não são flores, lhe respondo, são ervas daninhas que nasceram no gramado e dão essas florzinhas amarelas.
- Por isso mesmo, não deveria arranca-las, ela me diz, com voz afirmativa.
- Elas são o erro certo, floresceram para enfeitar o gramado.
- Sabe, é como quando a gente ama certo a pessoa errada, ou, ama errado a pessoa certa. O que seríamos?
- A erva daninha que enfeita o gramado sem flor, ou somos o gramado verde desejoso de florescências de amor ?
Quase uma simbiose, precisamos do erro junto ao acerto, e, o acerto junto ao erro.
- Alice, você me surpreende com essa forma de me mostrar quão intensa é a vida.
- Preciso desistir, desse hábito de sofrer ...





Adriane Lima










Arte by  Mark Ryden

sábado, 11 de julho de 2015

O último gole de Bourbon




Repito teu nome entre ruas
que não conheço
evidências líricas
de um coração avesso
 
falta coragem
para rasgar o céu
voltar a ser eu mesma
eloquente e viva
 
sair dessa mudez
que nenhuma palavra explica
gritar minhas verdades
no silêncio de tua pele
 
beber de tua boca
o que sequei no tempo
seguir tua rota, pois sei, a rua
 
 







Adriane Lima









Arte by Jack Vettriano 

Era uma vez uma alma



Dessa estrada, conheço cada curva
cada esquina suja, que não se explica
ali adentro, vestindo cuidados
que uso, para não me deixar levar


na frieza, me alimento desse gosto
que feito um soco,
certeiramente me acorda


Por um céu imaginário, transito
não esqueço meu norte
ou outro ponto visceral,
para não dizer cardeal


Oriento-me por reminiscências
junto memórias, como as crianças juntam
cheiros, cores, rostos familiares
...identificação absoluta...


a dor chega a ser felicidade
feliz cidade, que me deixa comovida
com vida e me convida a andar embaixo de chuva


contida em sua garoa, sou a flor de algum poema
em meu olhos catárticos, supero o espanto
Sou a luz descrita por um poeta distante
Sou meu buraco negro perdida em cada instante




Adriane Lima




Arte by Ala Svirindek

Ao abrir a noz da asa



O que faço aqui nessa vida
dizem que somos poeira
vinda das estrelas
compondo águas do mar


sou servil ao mundo
sigo as cores das flores
me fixo nas raízes das árvores
sou incompleta, dorida em esperas


perco e ganho o dia inteiro
relembro momentos
contemplo todo sentimento
de ser e de estar


caminho,sorrio nas ruas
olhando um céu de nuvens enfeitadas
sentada em um lugar espreito e
com a ponta dos dedos, sonorizo
minha ânsia de não saber explicar


poeira vinda das estrelas?
teimo em acreditar


pensei tanta coisa vendo a vida passar
através da janela do carro
meus olhos procuravam partículas
que pudessem de átomos em átomos
se interligar


um poema me atravessa o peito
me extrai o que retenho
no mais íntimo silêncio


vai ver que sim, sou sim
poeira que se desprendeu
de alguma estrela e em verbos
acreditou ser poeira de poesia




Adriane Lima





Arte by Yonel Diaz Galvez

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Para esquecer caminhos





Há de ter motivo para
o inexpressivo do dia
o cinzento "tristesse"
entre os muitos nãos
que a vida compõe

Entendo tão pouco
adivinho outro tanto
pelo olhar do outro
através de suas palavras
quase interditas

Somente a memória
guarda emoção
do que fora decidido

O que é o querer ?
diante da paixão
sob a manga do outro
tantas cartas expondo feridas

O cinza me define hoje
a impossibilidade trajada
de angústia pelo impossível
que tento colorir em dias alegres
e tem se esgotado em chão de esperas

Eternamente em voos de borboletas
aprendi com elas a difícil arte
do caminho de volta




Adriane Lima









Arte by   Nishant Danghe

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Dentro de minha ausência





O relógio corre
através da tarde vazia
o frio debruçado na janela da alma
enche as nebulosas de meus olhos
da água de um rio tão íntimo
 
Com esses olhos posso ouvir
a pulsação de minha alma
e sentir todo movimento
que atravessa a nesga do jardim
visitado por insetos e pássaros
que quebram o silêncio
ecoando meu grito :
 
Estamos vivos...
eu, os insetos e o pássaro
servimos para compor o dia
 
O pássaro espreita no muro
sem cantar e em passos seguros
entrega-se em um voo rasante
e devora o inseto pousado na flor
 
Na brevidade da vida, não há camuflagens
o pássaro não tem medo de mim
o inseto não tem medo de mim
e eu tenho
 
 




Adriane Lima















Arte by Andrea Chisesi

Saída de emergência

 
 
Amado
esse ver(soul)
de blues que me embriaga
traz água para minha sede
que nunca trago
 
Carrego entre parênteses
um grande estrago
 
Um pacto com a
mediocridade de viver
que me convida a ser só
 
As noites insones
indiferentes a toda dor
que me consome
 
Minha ambição
é sair pelas ruas vazias
olhar nos olhos
de um desconhecido
e entender que nele me identifico
 
Sou a glória personificada dessas
paredes cheias de memórias
o pó pesando nos móveis
sobrevivem aqui comigo
 
liberdade está lá fora
e não há nada que apague
a luz desse amanhecer
que vem de graça
e tenho pago um preço
...tão alto ...
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
Arte by Anton Kanchev

Sem avisar a solidão





Rasgo o tecido invisível
que me cobre e teima em
não soltar de meu corpo


Despida de toda delicadeza
a frágil existência humana
grita minhas vontades


Começo a mentir por precaução
e por recomendação do vento
que toca minha pele nua
mostrando a frieza dos dias


A dor vem da verdade dos fatos
de não saber fechar ciclos
conter no peito gritos
e enfeitar roteiros


Minhas intuições são claras
e ao transpô-las em palavras
sufoco minha fala


Não são asas, são cascas ilusórias
de uma felicidade equilibrista
mundana e idealista


Sim, era eu aquela envolta em beleza
e hoje me sangra o peito em carne viva
ao juntar pedaços da memória
de cada história interrompida


Eu sempre hesito ao
dizer que não há culpados e apunhalo
com a leveza de um único golpe
o meu corpo saudosista
















Adriane Lima










Arte by Christian Schloe
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