quarta-feira, 15 de abril de 2015

Nas mãos do destino

 

Quando nasci, uma cigana
pôs as mãos em meu destino
deu-me coração nômade
e alma de passarinho

fragilidade para quem olha
e jura que conhece os caminhos

esqueceu-se de que dentro
das mulheres há furacões

que seus sentimentos
nasceram das deusas do Olimpo
entre o cômico e o trágico
a dor é somente disfarce
para se fazer poesia

minha alma de mulher
desde que nasci
sofreu mutações
de meus fantasmas mais profundos
com alguns consegui crescer
com outros paguei o preço ao ver
que lobos covardes
encontram-se no paraíso
pobre de mim que ao nascer
da cigana não entendi o aviso

 


 


Adriane Lima





Arte by Fabian Perez 

Há gotas de rímel no chão






Como estampido
de um bater de asas
silenciei no que voava


devagar tua voz sumia
noutro instante já voltava


pobre eco da memória
perdurou entre instantes
e não fez nenhum sentido


a ânsia de trocar palavras
cria a mais perfeita imprecisão
 

não ouço o que me diz
não digo o que desejo


um certo ar mordaz
de romantismo
devolve a mansidão
que nos lateja


cela, forquilha, tranca
meu pássaro perdeu as asas
foi abatido pela delicadeza
de quem estava a contravento






Adriane Lima








Arte by Francesca Strino


Circu(lares)





Poesia não tem lado
como um círculo vazado
rodam o meu e o teu querer


meu vazio quer teu espaço
a alma suja de verbos
de amar ou de morrer


poesia não tem meio
é o vazio do desenfreio
sentido a flor da pele


por você sangrei palavras
calei verdades
deixei a poesia circular


nem sei se por minha
ou sua mediocridade
a poesia foi me exaurindo


me tornou amortecida
enterrada por muito tempo
(um tempo infindo)
em uma vala de impermanências




 


Adriane Lima










Arte by Silvia Ji 

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