quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Guardados...

 


Da razão ao coração
de recados do universo
Em caixas, guardamos restos

Encaixotamos memórias
histórias,bagagens de nós
tempo passado a limpo
quase um garimpo

Em caixas

Umas lacradas
outras abertas
em tentativas de reviver
momentos bons ou ruins
esclarecer sentimentos
do que fomos outrora

Organizamos aprendizados
espaços , saudades
canções, recados
visões em fotografias
mágicas de um dia
o tempo presente

Abri minhas caixas
dos guardados
fui bailarina em
aladas coreografias
dos sonhos
que a mim permitia
vive-los em liberdade

Hoje,interiormente
minhas asas podadas
meus sonhos esquecidas
criei um mundo onde
eu personagem não
soube vive-lo
onde solta ao labirinto
perdi a ponta do novelo

Em meu guardado destino
a caixa ganhou tampa
onde palavras estocadas
se levantam e me fazem
companhia todos os dias

Em verdade é tudo mentira
faço dos poemas alquimia

E sorrio da suposta visão

Na caixa da vida
frases soltas
minha poesia
às vezes louca
absorve do mundo
a dor amanhecida
e então percebo incontida 
Que renasço flor

 
Adriane Lima
 
Arte by Lauri Blank 

Crônica:"As novidades do Amor"



" Pois quando eu jurei meu amor
Eu trai a mim mesmo,hoje eu sei.
Que ninguém nesse mundo é feliz,
tendo amado uma vez"...só uma vez..."
Grande letra tem essa música,grande visionário foi Raul Seixas,ao falar no amor dessa forma.
Devemos perder o medo de nossas chuvas internas.
Perfeita metáfora de amor e mudanças.
São as verdades escancaradas  que muitos não vivem ou (acham ) que não,pensando na estatização dos sentimentos.
Preferem acreditar que tudo é para sempre,sofrem quando o amor acaba.
Mas eu acredito que não, o amor não acaba,ele apenas toma outras formas.
E quando essas novas formas não mais nos cabem ,deveríamos ter a honestidades de buscar outras.
Nós temos  tendência a misturar os sentimentos,confundir desejos com necessidade,amar com precisar e por isso somos tomados por nossas emoções de egoismo e não acreditamos nunca no fim do amor.
O medo do vazio, da solidão,sentimentos de frustração.
Rubem Alves cita em uma de suas crônicas,que tudo o que é belo não pode ser eterno:..."mas o amor, pássaro, de repente bate as asas e voa...''
Aquilo que amamos,permanece conosco em outras formas, memórias, lembranças,saudade mas não em amor.
O amor é um sentimento efêmero, rodeado de incertezas,do não precisar do outro.
Se te amo não te preciso,se te preciso não te amo.O amor te veste de desejos e não de necessidades.
Temos que derrubar esse muros que criamos,esses alicerces que nos garantem sermos amados e amáveis eternamente.
Assim como uma música bela que tem fim, um beijo,um por do sol, tudo que nos toca, nos faz bem também se acaba.
E dessa efemeridade toda é vestido o amor.
"O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz a gente se sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece." (Charles Bukowski)
Tão bom confessarmos verdades,falar sim,que o amor acaba e que podemos fazer novas tentativas de felicidade sempre que desejarmos.
Que o amor acontece sempre e muitas vezes na nossa vida.Basta estarmos abertos a ele.
Mas, sabemos bem daquelas pessoas que ficam dentro de relações "falidas",desgastadas com medo do novo,do amor.do que nos faz ir de novo ao encontro do que possa ser ou não vivido.
Não concordo com o ditado popular que diz"amor com amor se paga".Será? Acredito sim,que no amor nada se deve ao outro e aqui citaria Drummond:"Eu te amo por que te amo"O amor é estado de graça e com amor não se paga..."
Perfeito, mas muitos querem pagar,porque o que temos muitas vezes é o amor de posse,o desejo de amar para ser amado sempre.
Amamos sim, e desamamos,pois estamos vivos e sentimentos não são estáticos.
Falamos de amor entre metáforas porque não entendemos muito bem o que nos acontece realmente quando amamos.
O que amamos é sempre o símbolo já disse Herman Hesse.
E esse símbolo internamente necessita de orientação,ter sensatez não é ter a segurança não é viver um conformismo,essa é a grande questão que faz muitas pessoas pararem de acreditar nos milagres oferecidos pela vida todos os dias.
Novos amores podem vir desses milagres,estejamos abertos a ele sempre!!
Não quero minha voz embargada por razões que não me levariam a nada, por vontades mudas.
Quero gritar, se for preciso...
E pensando em tudo isso,fico mais leve,me sinto mais "normal",amando tantas vezes o amor me chamar.
Nada como depois poder lembrar daquele..outro amor... com carinho,doses de saudade saudável, claro,sentimento de aconchego por saber ter sido amada também.
Prefiro assim, do que sentir-me como uma foto "polaroid" que foi morrendo,amarelando em algum coração acomodado.
Eu aceitarei sempre que for chamada para viver esse "tal" amor.
"Devemos primeiro viver e depois sim,depois podemos filosofar "(Cícero).
Achei perfeita essa frase,nem só de filosofias vivemos...precisamos sim deixar a pratica morar dentro de nossos sentimentos.
A brevidade dos dias sempre nos chamará!!!!
Melhor citar Quintana :

Sentir primeiro, pensar depois,
Amar primeiro, educar depois,
navegar, primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois...


Adriane Lima

Crônica : O outro lado



Sou humana,e com grande alívio e felicidade descubro que meus medos particulares são universais.
E quando percebemos isso, ficamos mais leves, pois,sabemos que não somos loucas e não estamos nesse mundo sozinhas e desavisadas quando esses medos nos paralisam.
E do que tenho medo?No momento atual de várias coisas:de envelhecer sem ter vivido tudo que gostaria, de não ter sucesso,de ficar sozinha, de não ter amigos, de viver de acordo com a expectativa do outro, de parecer vazia, de viver o que não é meu.
Levei anos lutando para me livrar da maioria desses medos mas, o grande medo,o persecutório esse não me livrei.
O medo de não ser amada.
Não ser amada por um homem da maneira que eu quero e preciso ser amada, apaixonadamente, com exclusividade, intensidade, com compromisso e incondicionalmente.
Seria pedir muito...se eu dou isso em troca...?
Se eu sou intensa, se me vejo ás vezes personificada nos excessos...sou mulher demais, amor demais, vida demais, sorrisos demais, falas demais,choros demais, paixão demais.
Portanto não posso aceitar menos que isso...
Levei tempos para aceitar minha autenticidade não vai ser agora que vou querer migalhas de afeição.
Sou muito grata por ser quem sou, uma mulher que faz da vida um eterno recomeço, que sente tão profundamente e distribui tanta espontaneidade e generosidade que quem me conhece descreve meu estilo:"demais"...intenso...e por isso não posso ser diferente.
Não agora, que já cheguei onde estou.
E cada vez que fingi ser outra mulher para agradar, talvez me segurando, para não me entregar e sofrer eu me feri muito mais.
Por isso que muitas vezes ao invés de ser comportada, reservada eu saio, bebo e dou risada , gosto da madrugada eu me mostro como sou.
E vou logo avisando aos recém-chegados em minha vida, onde estão se metendo...já não tenho tempo de usar máscaras para facilitar o amor.
Mas, volta e meia o medo aparece em meu caminho, quando me vejo sozinha ouvindo o tic-tac do relógio mental que cronifica o tempo marcado em cada ruga de meu rosto, em cada abraço que não dei, em cada palavra que calei, isso me dói, me mostra o outro lado do que criei como escudo, para não me perder entre mentiras e sabotagens.
Vejo divindade em meus sonhos e tomo consciência e denuncio as mentiras que conto a mim mesma nessas horas de solidão.
Caso contrário, o destino se encarrega, as mãos não viram entregas e me transformo em imensidão.
Para abraçar minhas verdades, até as menos desejáveis e nada confortáveis já fui ao fundo do meu escuro, fiz misérias ao ver que algumas partes em mim não se encaixavam mas que ainda tenho tempo de mudar.
Mas, os excessos de mim mesma, esses não vou nunca me livrar.
Isto chamo de autenticidade e nessa minha ferida ninguém vai tocar...











Adriane Lima

Crônica: Pensar na vida é pensar na Morte...





Falar da vida até que é fácil,tentamos fazer ao máximo para que ela seja prazeirosa, que tenhamos boa saúde,casa, família,um bom emprego,amigos,festas para frequentar,que possamos viajar e desfrutar de tantas maravilhas que existem pelo mundo à fora.
Tudo isso ao longo dos anos vamos conquistando,vamos sonhando, realizando.
Uns com mais facilidades ,outros nem tanto.
Uns sabem onde buscar felicidade,outros nem tanto...
Uns parecem que já nascem sabendo o que querem,onde pisam, onde está o caminho certo para o futuro.
Mas,isso tudo seria apenas uma estatística,
uma sorte,uma predestinação...não sei...
Só sei que temos sistemas de vida e de morte e o que faremos nesse intervalo entre um e outro é que sempre me preocupou.
Enquanto escrevo calmamente esse texto,..penso quantas pessoas nascem no mundo e quantas morrem,exatamente nesse momento.
Quantas estão doentes,sozinhas em um quarto de hospital,em um asilo,em um abrigo pelo mundo a fora, esperando a morte chegar.
Enquanto isso quantos não estão vibrando o nascimento de uma criança na família,no vizinho,na casa do amigo...
Nascer e morrer...
Um dia há de chegar a hora de todos nós,assim como o nascimento, a morte também vem para todos,um dia.
Ninguém é eterno e mesmo que possamos acreditar em reencarnação,vidas passadas,essa atual existência,um dia vai acabar...
E ai vem minha questão,a frase que sempre gostei de repetir como um mantra para que nunca parasse de pensar nela:Carpe Diem...
Ou seja no velho e bom portugês:"Colha o dia",,,viva o presente.
O que está nos sendo dado para viver é esse momento de agora,enquanto escrevo,enquanto uns nascem outros morrem...
As pessoas não gostam de falar da morte,não param para pensar que temos mortes diárias que vão sendo pouco internalizadas,quantos de nós ja não morreram um pouco em vida.
Se não pensarmos nisso quando chegar a derradeira mesmo,não daremos conta,a não ser que tenhamos uma doença e tenhamos que convalescer por meses,anos..ai sim pensaremos na morte e na vida.
Todo ser que habita esse mundo tem essa regra a seguir...nascer,viver e morrer.
Desde o ser mais primitivo até o mais edificante.
Ao nascermos e ao morrermos, somos todos iguais...
Me peguei pensando será que Van Gogh, Picasso, Mozart, Baudelaire, Pessoa, Drummond, Lispector, pensavam na morte e por isso eram tão sublimes,tão cheios de vida??
Eu tenho certeza que sim,se todos nós pensássemos mais na morte,não deixaríamos tantas coisas importantes para trás na vida.
Não teriamos tanto medo de mudar,de fazer coisas diferentes,de bancarmos os loucos de vez em quando, de virarmos a mesa.
Daríamos mais valor ao que temos,ao que desejamos, falaríamos mais de amor,de beleza ...
Todos esses que citei fizeram isso...foram diferentes em vida,criaram vida e pensavam na morte.
Porque certamente sabiam dar valor a ela e ao que podiam criar no presente,porque dentro de todas as histórias desses grandes poetas, músicos,pintores,havia algo que eles não temiam pois sabiam que ia acontecer de qualquer jeito...a morte.
Pensando assim,ficamos mais leves,eu acho,porque se tememos a morte,valorizamos a vida.
Vamos a luta pelo nosso próprio sistema de defesa,de não se deixar "abater".
Lembro-me de uma música que diz :
Meu amor
O que você faria
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria...
È bem isso,o que faríamos?
Ou seja,daríamos valor a quem nos interessa,daríamos valor a nós mesmos,nossos desejos não realizados,nossas vontades escondidas.
Quando estamos perdendo algo sempre temos a tendência a valoriza-lo ainda mais.
Faz parte daquele velho sistema de vida e morte.
Vi um filme que me marcou muito onde um bruxo comentou com o mocinho que estava caido:"Que a morte esteja sempre sentada ao seu lado.
Assim quando você precisar fazer coisas importantes ela lhe dará a força necessária.
E eis que o mocinho que estava semi-morto levantou-se para luta cheio de coragem.
E citando Rubem Alves:"Pensar na morte ás vezes é saborear o fruto na beira do abismo,é preciso colhe-lo e devora-lo no"agora".
Amanhã,ou ele já caiu ou fomos nós que caimos...


Que tudo isso sirva para entendermos nossa missão nesta Terra e não deixarmos de viver o que nos foi dado e aceitarmos a morte, com certeza é a melhor forma de estarmos preparados para a Vida!!!






Adriane Lima


( Texto publicado no jornal : A Tribuna maio/2010 )


07/05/2010

Invenção


Essa menina inventa viagens
Investe em vertigens
Sonha paisagens
de um entardecer a dois.

Cria coragens, onde há delírios
Risadas, onde há medos de se perder depois.

Se solta, se brinca, se namora
Se acha, se perde e se apavora
Pelo simples fato de ser ele
seu bem querer.

Já conheceu o amor
e todas as perdas das manhãs
das falas, das tramas e dos elos da vida
feito pedras ao entrar num rio.
Doces dores, tecendo verdades
sempre que desejar.

Não se faz mais de santa nem de rogada
Anda sozinha, indolente e solta na madrugada
Por saber que ninguém mais
será o dono de seu amanhecer.

Abre caminhos, tira espinhos
do que um dia foi sua flor
Não mais rosas, não mais rezas
Não mais prosas, não mais dor

Apenas a calma e compulsória
lembrança de seu inventado amor

 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
Arte by Alexander Daniloff
 

Psicores




Ontem eu planejei
Se o dia estiver cinza
frio, vento e granizo
e eu estiver cansada
vou logo cedo perder o juízo

vou colorir a vida
borrarei tudo com cores cintilantes
pinks esvoaçantes, azuis febris
verdes estonteantes sobre todas as coisas da casa

os móveis, o cão, a geladeira
e ai de quem achar que é besteira
ou loucura minha
fazer assim

direi que cansei de cores apáticas
preto e branco e dureza suástica
vestirei minhas botas de cano alto
meu casaco de tachas prateadas

dançarei em plena sala
um rock anos setenta
vou jogar gás de pimenta
nos olhos de quem não sabe flutuar

 
 
 
Adriane Lima
 
 
Arte by  Carol Back 

Intensa...mente



A alma humana

tantas vezes cartesiana
tem medo de ficar
do lado escuro
de pular o muro
e fica a espreitar
as tristezas
as nódoas do tempo

O cotidiano

feito em desamor
que provoca a dor
que desanima
joga a poeira
em cima
mascarando a vida

Mas há um sol lá fora

uma festa de grandezas
entre um Deus e a natureza
que nos inunda de amor

A alma tem o tom

que inflama
de acordo com a chama
que a vida transpõe

Não soterre sentidos

Não mate o amor
não cale em silêncio
tuas dores teus ais

O peito ferido

é apenas um pedido:
Só se desencante
o dia em que não
puderes ver a flor
e não acreditar mais no amor

 


Adriane Lima


Arte by Mark Arian 

Anotação



O teu poema é verdade

o meu não
o teu poema é conciso
o meu impressão

o teu poema é concreto
o meu imaginação
o teu poema é elaborado
o meu criação

o teu poema é direto
o meu conversão
o teu poema é recado
o meu recomendação

o teu poema é cantado
o meu é o refrão
o teu poema é guardado
o meu libertação

o teu poema é saudade
o meu resignação
o teu poema é saída
o meu solução

o teu poema é fim de tarde
o meu escuridão
o teu poema é profundo
o meu sumiu no ar

foi escrito no espelho
na fumaça do banheiro
para eu não mais lembrar

feito forma de ameaça
a alma e ao coração
para mostrar que o tempo
leva como um rio a anotação...

 



Adriane Lima

Desacordos



Quem disse que me conheces
Não te dei qualquer autorização
para pensar meus pensamentos
Não te dei procuração
para viver por mim os meus lamentos

Meus caminhos são leves
muito embora tropece em pedras
elas são minhas lições eternas
não queira ser os meus ouvidos
você não aguentaria os ruídos
das palavras soltas no ar

Nem disso queira gostar
de minhas horas 
minhas demoras
meu cheiro
meu paladar 
muitos me veem 
e poucos me enxergam

Sou feita dos hiatos da rotina
entre cores e vazios
silêncios e procuras
sou feita de leveza e de tortura
natureza etérea que se mistura
não queira nunca me decifrar...



Adriane Lima


Arte by Carol Bak  

Por quem falar...



Não pense que é fácil

por palavras na mesa
destilar certezas
de falar algo natural

Algo que não soe mal

e sirva de açoite
para quem as vê
como fuga
e não como figas
das promessas que não fiz

Nem sempre escrevo

o que a consciência fala
e não é porque ela
me cala
que não posso falar
por mim

Hoje acordei ciente

de que muitas
sementes
são jogadas no ar

Depois brotam em

lugares
nem sempre prováveis
de um dia poder florir

Contruiram muros

em minhas verdades
e hoje em metades
eu teimo em falar

Mesmo que meus versos

sejam poucos
mesmo que a canção
não toque nunca mais

Meias certezas

são meias mentiras
tingidas de
meias verdades
para a imaginação
se acalmar

escuridão do papel

dia em branco
nó na garganta
deitaram meu céu

só me resta apagar o brilho

quem já saiu do estribilho
quem já perdeu a nota
já vendeu a cota
de sua condição

poeta vivo

mulher morta

Melhor ao sol

levar meu rosto
e sair desse poço
de decepção

me levo por palavras

minhas ou das missivas
de vis respostas
mas são minhas certezas
de eterna salvação



Adriane Lima 



Arte by  Joanna Zjawinska )

Ancoragem



Ando cansada de fazer
versos em métrica e rima
cansei de levar a vida para cima
Pássaro em voo solo
nem sempre prova que é cantor

Cansei de não ter respostas
se fazer poesia é sofrer em dor
nem homem , nem anjo
para ajudar meu dissabor
eu não sei, eu preciso saber
qual a resposta dos versos de amor

Flor de pétalas repartidas
sangradas feridas
expressas em bem querer
e mal dizer

A letra,
a carne,
a verdade,
a busca da
solidão maior

Ancorar no outro
Tempo de navegar
Mundos desconhecidos
na dor da comparação

Abismo em escuridão
palavras não reveladas
conchas de proteção

Tudo isso a passar
Vida curta
Longo mar

 
 
Adriane Lima
 
 
Arte by  Stefan Blondal  

Conto :Transe Poético






"Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música
não começaria com partituras, notas e pautas.
Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria
sobre os instrumentos que fazem a música.
Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.
Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical.
A experiência da beleza tem de vir antes”. (Rubem Alves)





Um homem desce de um carro e caminha pelo gramado em minha direção.
Passos largos, está bem arrumado, traz nas mãos uma espécie de caixa preta que tem a forma de um instrumento musical.
Ele a carrega pela alça e não sei ao certo identificar se ali estaria um sax, uma guitarra ou um violão.
Vendo-o caminhar em minha direção, entrei em um transe quase poético ou melhor dizendo, dramático, de minha imaginação.
Indaguei-me: E se lá dentro ao invés de um instrumento musical estiver uma arma?
E então, pensei também o oposto:
Se nas mãos de tantos outros homens houvessem instrumentos musicais ao invés de armas?
Se ao invés de dispararem balas, disparassem acordem, bolinhas pretas saídas de diversas partituras.
Notas suaves como as de Mozart ou incandescentes, feito Pink Floyd, Led Zepelin!
Viagens musicais...bolhas de sabão soltas no ar...
O homem se julga tão sábio e no fundo não entendeu ainda que a sensibilidade da vida o faz maior que toda brutalidade.
Até mesmo as antigas guerras paravam no inverno pois, diante de tais movimentos da natureza, o homem é um ser frágil.
O essencial está na busca do paraíso de cada um.
O poderio de fogo não faz do homem melhor do que aquele que carrega sons na ponta dos dedos.
Homens...homens...o bem maior está no coração!
Gostaria de dizer-lhes, carreguem instrumentos musicais ao invés de armas.
Palavras e solidariedade ao invés de disputas covardes.
Toquem a melodia da vida com gestos de liberdade.
Dormir em paz, é a maior verdade que um homem pode alcançar.
Eu, ao acordar desse transe místico, fiquei olhando ele atravessar o gramado e pensei: Bendito sejas homem que caminha pela grama como quem pisa em nuvens...
Vá para sua festa, sua orquestra ou seu ensaio solitário.
Você carrega consigo o dom da música, o tom da vida e o símbolo da paz.
Viver é sair por ai, procurar a cena feliz ou ao menos tentar sonhar com uma, como eu hoje fiz.

Me fiz leve em meu transe!!!





Arte by Lizze Ritchies

Amor líquido







Amor escorre
feito água de torneira
que transborda
que excede
nada impede
de escorrer
água que ninguém
segura
que evapora
que se escora
nos sentimentos
invisiveis de cada um
amor saboreado
em vinho tinto
líquido sagrado
enamorado
por certo tempo
vira lágrimas
em duras faces
em olhares perdidos
no amor escorrido
e evapora
no tempo seguido
amor de gozo
já de outrora
amor esvaído
entre dedos
amor mercúrio
tão inseguro
amor liquido
tão rarefeito...
perdeu o efeito
e liquidou-se...




Adriane Lima

Medo do Silêncio



Tema o silêncio dos insolentes
das tardes frias e das serpentes
pois são quase todos iguais

Eles chegam de mansinho
feito chuva sobre um ninho
onde cravastes tuas criações

O gesto dos que enganam
são ardilosos,são profanos
jogam lavas no ar

Feito cinzas de vulcão
Fazem do dia escuridão
do humano irracional

Hipotéticas verdades
fogueiras de vaidades
onde não se tem a paz

Entre sonho e realidade
buscam um único refém
palavras,gestos,farsas
tudo que convém

É verdade que se cala
é respingos de fantasmas
as marcas sublimadas
em tempos sepultados

As armas e os segredos
são vertiginosas quedas
formas de se sobressair

Estranhar é o que me faz existir

 



Adriane Lima

Recita-me




Faço-me poema só para você
Você conhece minha alma é fácil
me descrever
Não em versos cheirando a flores

Pode sim, revelar as minhas dores
Contar de minhas noites mal dormidas
Minhas esperas,minhas saídas

Em cada verso em cada linha
Em cada vírgula,em cada rima

Recita-me

Me faça teu melhor poema
E leia-me em voz alta ao sete ventos
Espalhe-me feito pólen em teu jardim
de palavras livres


Recita-me sem piedade
E mesmo não sendo poeta
Una sílabas frágeis e simples
Como deve ser a vida

Recita-me

Deixe tua voz,soar dentro de mim
Feito o pulsar da eternidade


 


Adriane Lima


Arte by  Jack Vettriano 

Sonho Cinza

 


Silêncio é presença que pesa
feito reza que não se deve cumprir
meus pensamentos se misturam aos ventos
como alquimia de alguns sentimentos
bons e ruins

Hoje com esse mau tempo
cinzas de lamentos
se colam em mim

Não sei qual chão piso
não busquei paraíso
além de um sorriso
para me aquecer

Tristeza que invade
demônio covarde
fez de meu verso
um sonho proibido
lamúrias, castigos
tristezas latentes
que nem quero reviver

Deixarei esse fato
como um ato de teatro
onde a triste bailarina
num lampejo de menina

Sonhou respostas
de amor eterno
em dia de música e chuva fina
e retornou ao silêncio
de seus porões
                            
...Mulher feita

 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
Arte by  Carol Back 
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