quarta-feira, 30 de julho de 2014

Morte e plenitude




Na anarquia dos sentidos
sentimentos fluídos
claramente incompreendidos
por minha lógica helênica
no dispersar
de bocas e mãos

afugentar-se
calar-se
libertar-se dos
verbos reflexivos
perante a dialética
da fábulas de instintos
carnais ou espirituais?

almas em espelhos
em visão interior única
ao pó socrático da razão

ganhei virtude
perdi felicidade

a mão em seu doce toque
a boca e o fatal golpe
houvessem flores
estariam pisoteadas

crível é ser o tempo finito
a povoar o mundo dos homens








Adriane Lima







Arte by  Will Kismmer

Poema da lógica




 O que intriga
meu gato
em sua
felina imagem
é testemunhar
por detrás
da cortina : a vidraça
o divisor transparente
que o domestica
ao ver a borboleta voar
em uma alegria selvagem

 



Adriane Lima




Arte by  Brita Seifert

terça-feira, 29 de julho de 2014

Retorno e terno

 
  

Todo amanhecer é o impulsionar de asas.
Alongar-se para o escape do invólucro que chamamos vida.
Metamorfosear-se e sair do que dói e limita.
Olhos de ver e sentir o essencial,
É nessa harmonia interna que moram as esperanças.


 




Adriane Lima














Arte by Claudia Tembray 

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Simbólica harmonia


 
 
Cúmplice de meu próprio sangue
tento me extirpar
para te enxergar em mim

- inconstâncias

desejo a solidão
e peço que me abrace
abro a porta
e peço que fique

abismos sem fim

sempre que me sinto
perto do céu, consigo
fazer uma oração

um pássaro morde o
dia e assovia
um universo extenso
sem partituras

por observação
sei que pássaros
não retornam
aos velhos ninhos
lotados de fezes

- inconstâncias

desejo o amor
e peço metáforas
crio palavras
que mapeiem a vida

muito embora
saiba pela
rotina da existência
o peso das asas
e a rapidez da lebre






Adriane Lima






Arte by  Wendy Vaughan

Simplesmente amanheceu





Se eu soubesse deste grito
doendo-te a garganta
hoje solto
doendo em

meus ouvidos

como as noites
tão pesadas
onde o corvo
quebrava o silêncio e
assoviava indolente

( angústia e desatinos
até então guardados)

ecoava no tempo
tudo o que ele
não me devolveria mais
e doía na alma
tudo que a menina
me culpara por décadas

agora, num único golpe
vejo um homem
me prendendo
em grilhões

ao dizer
que é amor
o que sente
e que lê
em todas as estrelas
meu nome

- destino ou sorte

vida cortando a carne
e eu, não tenho fome
um rio de mágoas
me engole

na língua a saliva secou
pela espera desse amor
não, não me cobre








Adriane Lima




 


Arte by David Graux

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Plêiade mágica





Felicidade é vertiginosa
poetas são perigosos
mas só causam mal
a si mesmos

um único verso
um único tiro
um único gole
um único olhar

- e dizem que é da alma

no silêncio, se devoram
choram , pulsam
enrolam serpentes
esquecem tudo

e lá se vão
arcanjos, semideuses
maldição, sedução
(quebram regras)

e, como Poetas que são
inventam, reinventam
amores tão de repente

e por serem humanos
se entregam para sempre

desse avesso,
na vida morrem
e nos poemas
eternizam-se

esse é o paradoxo
que todos imaginam
conhecer 








Adriane Lima 






Arte by Isabelle Cocheeau

Ponto e foco


 

 Minhas mãos de poeta
molhadas de versos
gotejou no silêncio
entre poucas palavras
-suspirei :

não pude por os
pingos nos "is"


 




Adriane Lima




Arte By Casey Weldon

Par perfeito

 
 
 
a dupla, a díade
a perfeição é um par
de asas
de mãos
de pés
de coração não
esse passamos a vida a buscar 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
 
Arte by  Loui Jober

Mea sólida culpa

 
 
 
Eu queria te falar de paz,
meu filho
E hoje temo ter que reinventar
essa palavra
para que eu ainda acredite nela.
 
Queria falar da paz que tínhamos
quando embalava teu sono
com cantigas de ninar
e em troca um universo
de amor se abria com o teu sorriso
 
Queria falar da paz lembrando
as imensas cidades
que montávamos
onde homens e bichos
conviviam em harmonia.
 
Queria te falar de paz
 lembrando dos gritos e
estouros dos balões de gás
das festas infantis e não de bombas
 
Queria te falar de paz
te mostrando as ruas de nosso
bairro
os muros pichados com frases
de amor
os bancos das praças com
velhos tomando sol e jogando dominó
 
Queria te falar de paz
cheirando aquele edredom
macio, que te protegia
das noites de frio
e que tinha estampado
a imagem de seu herói favorito.
 
Queria te falar de paz,
meu filho!
 
Me perdoe, hoje essa palavra
teria de ser reinventada
para mim, para você e
para tantos outros.
 
Mas, te digo: durma na paz de
meus braços meu filho,
que essa eu posso lhe dar até
meus últimos dias
 
 
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
Arte by Jeff  Bartelrs 

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Poema prescindível



 
 
Nesta vida
de morte
guardada estava,
a flor do lácio
lateja agora
o sonho
e a mágoa
 
não mais respirei
o vício de teu aroma
e da água, que me banhaste
 
embora tua lembrança
esteja tão viva
soa-me, abstrata
 
havia a pausa
entorpecida
pelo modo petulante
que me arrancaste
 
as palavras ressurgiram
feito aço e pluma
 
das lembranças
delicadas e não
pensadas
 
não, eu nunca soube
de tuas mágoas
embora todos
os amores
aspirem a eternidade
me perdoe, eu nunca soube
 
que você havia me sonhado 
 
 
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima





Arte by  Jenny Liz Rome
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