Hoje encarei-me no espelho
como faço todas as manhãs
pedi ao tempo que parasse
de me pregar peças
Olhava cada detalhe
que tecia o fio da pele
cada franzir de testa
era uma velha dúvida
cada entortar de boca
era uma paixão perdida
cada riso amarelado
uma verdade que apostei
Nunca me senti a dona
dos meus dramas
nem por isso estive
às avessas de todas as dores
que me fizeram lembrar
que tenho joelhos e então cair
Muito embora acredite em asas
poucas vezes rezei para um anjo
resgatar-me, em hora tão minha
nunca me neguei envelhecer
Meus dias são únicos
minhas paixões ardentes
alguns impulsos contidos
uns sentimentos perdidos
fiz muitos receios partirem
o que me alegra ainda mais
Hoje com certa categoria
aprendi a diferenciar um
mulherengo de um canalha
para uma mulher
isso é a mais pura sabedoria
nesse universo tão cheio de analogias
Em cada marca que hoje via
imaginava como estaria nova,
minha alma tão dona
de meus desejos
tão leve em suas escolhas
tão liquida pelos seus lutos
Eu olhava em meu olhos
e me via em cada canto
havia um espaço infinito
entre o que sou e o quanto mudei
O quanto procuro
o quanto me perco
o quanto me assusto
bem menos comigo
do que com os demais
Cada manhã no espelho
é uma surpresa e
para minha felicidade
sempre sou eu de novo
Adriane Lima
Arte by Renzo Castañeda