terça-feira, 31 de março de 2015

Antes mesmo de partir




Liberdade essencial
nada mais natural
do que sorve-la
no caminho
entre a voracidade da carne
e a leveza da pluma
a fragilidade caiu do ninho
a morte tem uma suavidade feroz
vi isso nos olhos de um passarinho








Adriane Lima










Arte by Christian Schloe

Soltas inquietações




Como arrancar da boca
de meu gato
o pássaro de seu instinto
como arrancar do peito
essa saudade que eu sinto





Adriane Lima





Arte by  Sandra Biermann







Jogo pétalas ao dia






Não dei corda
para a esperança
tenho memória elástica
meu sonho incutido na rosa
descobriu ser ela plástica 







Adriane Lima






Arte by Rafael Sottolichio



Por entre a rota das sedas

 
Nosso desejo é
permanência
atávica rendição
 
mesmo que lhe diga não
meu coração rema
teima contra o vento
da armadilha da paixão
 
há tempos que me sinto
mais cansada que sozinha
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
Arte by Omar Ortiz 

Ecos do dia



Hoje não há poesia
nem palavras escorridas
pela minha boca
ou pelo pensamento


Desejo tirar
as dores desse mundo doente


As manipulações que vejo
as forças que almejo
nos olhos de meus semelhantes

a continuidade da própria vida
em corpo e alma


Amar?
Viver a inocência desse verbo perdido
usado e ousado
carregado de intimidade
fomentado em banalidade


Bendito é o silêncio
que me entorpece
diante a inocência e a beleza
de um gesto verdadeiro


A poesia está na fragilidade
das entrelinhas
e na vulnerabilidade
que permanece comigo


Meu corpo pede colo
minha alma pede solo
que por esses caminhos
eu saiba viver à contemplação








Adriane Lima








Arte by Irina karkabi

segunda-feira, 30 de março de 2015

Da linguagem do vento




Meu coração se encosta ao seu
sabe que além dos sonhos
não colherá o infinito


com sorte, terá flores
desnudará rosas
enfeitará jasmins
 

soube disso através
do perfume pueril
de nosso outono


em meu instinto
a curvatura do tempo
faz-se estreita
apanhando espaços líricos

nos sobressaltos da existência

sigo abarcando o medo
entre rumores de estrelas
que finjo ser leitura do silêncio
por não sorver palavras entre beijos


em minha natureza inquieta
vou docemente acomodando a vida
nesse espaço frágil
onde meu corpo pesa
e me permito os sonhos


renovo, meu coração antigo
em contradança com o amanhecer


 





Adriane Lima






Arte by Irina Karkabi 

sexta-feira, 27 de março de 2015

A resposta inacabada

 


A terra pede vida
cultive tudo o que você ousar
A carícia pede pele
viceje em tudo o que você tocar.
Qual o mistério aprender
naquilo que penso saber da vida?
Ontem vi loucos colarem cacos
de uma mente quebradiça
e assim confeccionarem mosaicos
em uma cerne tão despida.
Louco é quem não entende
que a vida é esboço
de uma mente racional
que só no coração se explica.
Em meus olhos pesaram
as penas, de meu ser tão poeta.
Vi na textura da mente e
na textura da pele
os desejos e sonhos
prontos a se reescreverem.
Mesmo que entre cacos, existe a
eterna ciranda da transformação.
Esqueça os pesos
vida é leveza, pensei ...







Adriane Lima







Arte by  Khoa Lee

quarta-feira, 25 de março de 2015

O acaso e seus combates



Amo sua alma felina
tão parecida com a minha
vejo em seus olhos ingênuos
a inquietante existência
que há nos meus


Buscamos verdade e essência
domínio presente em tão poucos
acostumados que estamos
as sombras que descem do mundo


Aprendi a respeitar a força
que mora dentro de seus olhos
vinda de seu coração tão puro


Seus passos delicados
deixam sinais de nuvens
para aqueles que não entendem
a sutileza de um céu


Por você rasguei as mãos
na avidez de um gesto amigo
como quem salva um irmão
do domínio de outro ser
da mesma raça


Em você repousa o sonho
tão distante e absurdo
das lições depositadas
em tantos outros
que desejei salvar


Hoje, enquanto arrancava
ervas daninhas do jardim
você adormecia por entre as ramas


Enxerguei a paz que o amor dispensa
alheio as espadas e ofensas
que minha poesia descreve em plenitude






Adriane Lima






Arte by  Tom Bagshaw


Dia outonal



A ilusão abrange

Porém, a verdade consola
Pelas estações do tempo
Os bordados com emendas.

As linhas grossas com defesas
As cores com sorrisos enxugam
O que pálidas lágrimas roçam
Eis, então, o firmamento.

Esse é o sonho
Que nas manhãs desperta tolo
Entre o sol e peneira
Faz-se luz e refratário.

Faz-se poso na janela
Quem deseja sempre chega
Quem voa cata o sonho
Quem debruça cobiça a noite.

Esse é o encontro
Entre o belo e remendo
Que na folha busca o pingo
Que só a poesia alcança:

Essa! Faz-se ilusa
Para romper tempestades...






(  Poema dedicado a mim pela poeta Leila Onofre  )






Arte by Dario Campanelle 


Interligando nuvens

 
 
Sobre meu querer, não minto
a vida como uma colcha de retalhos
arrematada entre brocados e avessos
transformou-me em labirintos
quando estou em seus braços, me sinto
 
 
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
 
 
Arte by Loius  Bjordoni

O azul que tu me deste era vidro e se quebrou




Entre toda nudez
escancarada
reconheço a veste
desse vil metal


alma nua
pele crua


mulher que anda
entre o covil e a lua


transcende ao lixo
da vida real







Adriane Lima






Arte by Juan Carlos Manjarrez

terça-feira, 24 de março de 2015

Anêmica


 
 
Quando sua falta me consome
sou aquele peixe solitário
enfeitando aquário
quase desacordado
alimentado por mãos
que nada entendem de fome
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
 
 
Arte by  Kot Valery
 
 

Água de olhos e arroios




Nesse quase outono
úmidas lembranças
me trouxeram sua voz.
Eu que julgava
nem lembrar o tom
me vi agarrada
entre memória e timbres.
Em meio a tarde
foi preciso fechar janelas
devido ao temporal.
Inundada de silêncio
sua voz ecoava em mim
feito desassossego.
Tempo antigo, além do tempo
onde o amor adentrara
naturalmente em minha vida
nascendo a vontade
de espalha-lo aos quatro ventos
feito semente de flor
e assim perfumar os dias,
dentro do finito espaço
que nos fora dado.
Hoje, só encontrei conforto
na dança das palavras formadas
pelas gotas que escorriam
livremente pela vidraça.
O desejo que habitava aqui dentro
lembrou-me versos perdidos
entre a caligrafia de meus lábios
e a carne viva da saudade







Adriane Lima










Arte by  Pat Erickson

Entre linhos e laços

 
 
Sonhei paisagens
de mil loucuras
queimando a pele
linguagem nua
atravessei memórias
de precipícios 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
Arte by  Sergio Helle
 

quarta-feira, 18 de março de 2015

No precipício da felicidade



Leminski debruçado a janela
observa as andorinhas lá no alto
olha, se contorce, ergue as patas
no desejo de alcança-las

elas, livres secam as asas
em suaves voos pelo céu
após a tarde chuvosa

ele, preso em acrobacias
em pleno chão de seu
viver de gato

não imagina de fato
testar uma
de suas sete vidas

dona de seu destino
cruzo as mãos
continuo a ler meu livro

e me lembro da frase
só voa, quem de céu é feito
não quem se atreve a fazê-lo

 






Adriane Lima







Arte by  Chelin Sanjuan

A flor da beleza



Só quem acorda cedo
percebe o céu se distraindo
brincando de esconder a lua
dando nova cor ao dia


Só quem acorda cedo
caminha pela rua sorrindo
e tem olhos de se encantar
pelas portas dos armazéns
que vão se abrindo


Só quem acorda cedo
tropeça em um pão quentinho
e leva de brinde, histórias antigas
contadas por um estranho senhor


Só quem acorda cedo
percebe o diferente perfume de flor
no moço que passa, de cabelo lavado
ouvindo Steve Wonder no rádio ligado
como se fosse o dono da rua


Só quem acorda cedo
olha nos olhos daqueles que seguem
em destinos tão diferentes


Só quem acorda cedo percebe
a mulher varrendo folhas na calçada
enquanto cantarola uma cantiga de amor


Só quem acorda cedo sorri para a vida
em cadentes passos de pressa
ou em cochiladas distraídas


Só quem acordar
Só quem a cor der ao dia
de quem por ele passa


Só quem acorda cedo tem horas de sobra
para perguntar se vai chover ou não
desfolhando o tempo






Adriane Lima







Imagem Tumbr

terça-feira, 17 de março de 2015

Entre pétalas inventadas

 



Sobre minhas costas
colo pétalas
daquilo que foi sangrado


é tão claro
o caminho que
formavam rastros


entre ternas sementes
hoje adormeço
ansiando um mar de rosas


aprendi com o tempo
que os caminhos
modificam os sentimentos


apalpo o escuro
do que acostumei
a desejar







Adriane Lima




Arte by Andrea T. Kemp

segunda-feira, 16 de março de 2015

Esqueço voos




Reparto em migalhas
o pão doado ao pássaro
em meu jardim


recolho as migalhas
do amor doado em asa
nesse olor de brevidade


nem pássaro, nem asa
podem guardar um poema








Adriane Lima






Arte by Juan Carlos Manjarres

Flor estagnada


 
 
Dentro de meus olhos
nuvens embaçam visão
pareço outra
deitada ao chão
 
há delicadeza no silêncio
quebrado pelo motor de
um cortador de grama
 
minhas palavras
buscam ausência
e permanência de mãos
que não existem
 
meu corpo pulsa
herda o peso dos gerânios
pende-se entre
o sobressalto
e a imobilidade
 
balançam em mim
sonhos que tive de amor
e esse cheiro de paixão
colado há dias em meu corpo
 
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
Arte by  Christiane Vleugeus

terça-feira, 10 de março de 2015

Devolva o lado de dentro de meu céu



Uma sensibilidade de alcova
com cor de nuvens
de auroras boreais
olho que tudo vê
perto do sol
que já são dois
Apolo, Zeus
destruição
rastros compostos
de bário, de bório
de presunção
gongorra de homens
sem dores, sem cosmos
sem religião
Nibiru, Napalm
silêncio e observação
desenhos de rastros
anjos da guarda
proféticos tons
lilases, laranjas
teoria da conspiração?
sob um céu de poeta
que ouvirá um pássaro
em plena distração








Adriane Lima






Arte by Dorina Costras 

domingo, 8 de março de 2015

Mergulhada em serenidade




A menina olhava a lua
parecia sonhar
nela procurava São Jorge
procurava o dragão
procurava o formato de um coelho


diziam ser esse o símbolo
para quem estivesse apaixonada


a menina não viu nada

o encontro de sua alma
com a beleza
parecia dar a ela a certeza
da lua e suas fases


as formas, a luz e a harmonia
entre seu olhar e a poesia
estavam destinados a ser livres


o formato existe nas coisas comuns
e familiares e podem emergir
aos olhos de quem contempla o mundo


nada se opõe, tudo nos envolve
e na claridade da beleza
sem limites do mundo


feliz estava a menina
provando em seus olhos
os milagres do amor







Adriane Lima






Arte by Dorina Costras 

sábado, 7 de março de 2015

A soma de todos os medos


Toma a tua parte
finja ser arte expressiva e
romântica ao doar-se
a quem tem sede

vem a este corpo
onde pulsas em sabores
entre saliva e gozo
a desejar-te

vem dai teu colo em nudez
posta em silêncio e perfume
a quem tem fome

vem, esqueci o verso
que iria dizer em tua chegada
trocarei pelo beijo e tua mão a
percorrer meu corpo por ti desnudado

Vem, porque sabemos que somos
extremos feito sol e lua
se salvando, se amando
no inexorável tempo
de um céu incondicional
de sentimentos

vem, e me devora
dentro de sua engenhosidade
prática e minha alma quântica











Adriane Lima
Arte by  Boris Vallejo

Alimento e febre


Meus pés cansaram de sonhar
pisando em nuvens
de dar a volta pelo uniVerso
sabendo que minhas mãos
gotejavam salinidade
envoltas em saudade

meu grande vazio amoroso
dentro de um céu
que começava escurecer

pulsão ou arrebatamento
ao provar dessa ambrosia
entre a noite, entre o dia
o oráculo de Delfos a me
guiar com sabedoria


- o movimento do mundo não tem nome





Adriane Lima





Arte by Jeff  Wack

Orvalhar em flor




O olhar pressente
a matéria
são as flores tocadas
pelas palavras


A eternidade que se busca
na íris dos olhos 

- a flor do âmago

É sempre pelo limiar dos lábios
que se forma
a flor da alma
e dela se enamora






Adriane Lima






Arte by Dorina Costras 
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