quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Mãos de música

 
 
 
Guarde em segredo
essa nossa paixão
em uma caixa preta
guardarei nossa canção
no fundo falso da gaveta
escondi a anotação
quando de mim se lembrar
pegue o violão
sente em um canto do quarto
ponha os pés descalços ao chão
vá dedilhando as cordas
como se tocasse meu coração
único, compassado
em pontas de dedos e aceleração
lembrando que assim 
percorria minha pele
e meu corpo em vão
façamos de tudo música
melodia, acordes
o que foi vibração
na memória
de algum lugar
ficará a saudade
e toda essa sensação
assim será a eternidade
solta em pleno ar
duas mãos,duas mãos
a razão sem razão
e a música que muda tudo  
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
Imagem retirada da net
 

O sentido inimaginável





Já dizia Sartre: o inferno
são os outros
e se fosse?
se fosse só saudade
saudade sem vontade
de nada
absolutamente nada


e se fosse só saudade
dessas que ferem
e não sabemos
se vem do outro


o segredo do que sou
inferno ou paraíso


saudade que
todo dia faz barulho
é do outro
sem precisão


feito o sorriso sem graça da mona Lisa
o entortamento da torre de Pisa
a extensão das muralhas da China


estão lá
todo mundo viu
o espaço, o átimo
é onde o inferno são os outros

 




Adriane Lima





Arte by Dario Campanile 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Probabilidade





Um gole
de razão
um lugar vazio
no coração
desejo de alma
desenfreio de corpo
são os riscos da paixão


 


Adriane Lima






Arte by  Alex Alemany

Poema temperamental








Falta teu sorriso
sério e impreciso
das coisas vagas
refletidas em
meus olhos
entre tantas
meninices :

idiossincrasias aladas ...

 



Adriane Lima



Arte by Roza Goneva

Mar distante





Barco a vela
frente ao mar
meus olhos de rio
em teus descaminhos
desejou aportar

co(n)chas guardam pérolas

 



Adriane Lima



Arte by Gabriel Picart 

Poema sensato




Dos poetas que li
guardei muitas frases vãs
o grande Manuel Bandeira
foi fundo em meu afã :

- sou sozinha como a estrela da manhã

 


Adriane Lima




Arte by Gabriel Picart 

Balada para Dri-menina



Nunca perdi de vista
a menina que fui
lembro-me que sabia brincar
sozinha em meus castelos

liberdade entre o sentir
a sombra na escuridão

criando em meus momentos
alguns aprendizados

mãos que viravam
pássaros,cães
coelhos e cavalos

assim,devo ter aprendido
a voar, saltar e correr
sobre meu imaginário
a liberdade de escolher

me desdobrando ao tempo
da suprema felicidade

onde a solidão
eram mãos as avessas
sobrepondo as paredes
que nunca senti
que me prendiam

ali,eu respirava eternidade
ali, eu já brincava de poesia

 


Adriane Lima





Arte by  Elly Mackay

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Poema virtuoso



Há quem diga
que o poeta é um fingidor
assim como eu,
que nunca lhe dei licença poética
para rimar nosso amor e dor ...

 

Adriane Lima



 

Arte by David Lloyd 

Poema ensurdece(dor)



Transitório é o gesto
a música que soa
é a atitude certa
é a atitude errada

transitória é a curva
e também a reta

transitória é a tristeza
no peito do poeta
que pousa feito pássaro
assustado e voa

transitória é a alegria
quando lembra de um deus
e dessa forma reza

transitório é o grito
alívio jorrado ao infinito
transitório é o desengano
o velho e o novo plano

transitório é o olhar
e o sentido que o abrigou

transitório é o vento
que varre memórias
por detrás das cortinas

quando nasce o sol
e os sentidos se aquietam

constatamos que somos
louças frágeis
arremessáveis pela vida

e o transitório ganha
a medida exata
das chegadas e partidas

 




Adriane Lima





Arte by Irina Kotova

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Imagens e nuvens





Aprecio os dias
que nascem assim
céu límpido
envolto em nuvens miúdas
que vagueiam livres
e despreocupadas

as imagino estrelas
sendo transformadas
um brilho ali, outro acolá

não pesam
e se pesam
é só sobre meu olhar
de nostalgia

imagino-as
feito peças de quebra-cabeças
espalhadas sobre meu chão
esperando para que eu
construa a imagem
dos pedaços de meu mundo

verei as nuvens como paisagens
de minha alma
enebriada pelo perfume do jasmim
que sinto agora ao contempla-las

quem sabe se transformem em lago
onde narcisicamente me verei
em sonhos e olhos de poesia

 


Adriane Lima



Arte by  Bogna Palmowska

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Rarefação





Na natureza
estavam
os sinais

palavras
em clorofila

no rio
estava
a fluidez

palavras
em correntezas

no céu
estava
a imensidão

palavras
em silêncio

ali estava eu
em combustão
com toda essa
força

sendo
rio
mata
céu
e vertigem

ao perceber
todo universo
sendo
minha pele

sem precisar
de um corpo
para existir

e toda lógica
pulsando entre
as incertezas da vida
e as certezas da morte

 


Adriane Lima

 




(meu momento Heráclito, "panta rei " ... ("no mesmo rio, entramos e não entramos"; "somos e não somos")

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Pertencimento


A palavra
em descoberta
coberta de razões
encoberta por cores
e aluviões
virilidade
para minha
forma de fêmea 
amansar a castidade
que existia
no arco-íris
até na pedra
do rio eu a
desconhecia
sabia-lhe
bruta
e não viril
a palavra
veio emergida
da água mais
pura da fonte
dos mistérios
dos elementos
e da leveza do olhar
talvez lá
ela já existisse
só oculta
de desejos
não soubera
observar
intensidade sonora
vindo me completar
anteriormente


Adriane Lima

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Motivo (ad) verso





De memórias transitórias
se faz a fome do tempo
as certezas frágeis das horas

sobre a fumaça
sobe a fumaça

efemeridade camuflada
saudade?
difícil saber

eu, gata escaldada
não dou um pio

 


Adriane Lima




Arte by Anna Rose Bain

Argumentos de vidro



Que motivos
tenho para acreditar
deter algo
dentro e fora
de meus assombros

o calor chega
é preciso me despir
o inverno chega
é preciso me vestir

e quem sou eu
para ditar regras
parar o sinal
pensar nas horas

o carro corre
tenho tempo
para falar
a tarde morre
tenho tempo
para amar

e quem sou eu
para o inesperado?

quando pairo
sobre uma cidade inteira
o tempo voa lá fora
sinto uma paz
comprada
muito embora
conheça o preço dela

tudo não passa
de filosofia
das últimas horas
onde as palavras
parecem
ser escolhidas
a dedos

para não trincar
a benevolência
dos que ainda
romantizam
o crepúsculo

para afirmar
que ainda
a noite pesada
gerará sobre nossas
metamorfoses
seres alados
e livres

escudos e bandeiras
que se fragilizam
diante da delicadeza
do tempo

vendo os olhos
nesse véu de poesia
onde um dia
me achaste
descoberta

e fecho os lábios
feito pétalas
em botão
para que renasçam
contra o tempo

feito as asas
arrancadas
de meu nada
assim
hospedo nas horas
apenas o cenário
dessa paz
dissimulada

e deixo
meu amor
andar sozinho
mesmo dizendo:

- naquela manhã
fomos felizes para sempre






 Adriane Lima





Arte by  Craig Tracy

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Entre a origem de uniVersos





Leminski chegou
com sua meninice
corre pela casa
agarra as cortinas
dá cambalhotas sozinho
e morde meus cabelos
até dormir

quem disse
que gato não se apega
não sabe nada
sobre humanos
gato é quem escolhe
quem lhe dará
amor e cuidados

quem entende
seus miados
de fome, sono e necessidades

gatos já nascem sabendo
o que muitos humanos
não sabem
tem a máquina do "ronrrom"
para mostrar felicidade

 Leminski é pura alegria
em uma casa que estava vazia
me dá patadas para brincar
e mostrar sinceridade

esse é a grande verdade
que muitos humanos não fazem
uns dão patadas para sobreviver
e para sobressair

 Leminski me deu
energia rara
em seus olhos vejo
o azul do céu em plena noite de insônia

nós somos notívagos
quase gatos, quase humanos
ele enrola estrelas
enquanto aliso pensamentos
é quase ver um "big bang "
um tempo entre contratempos

estamos aprendendo juntos
a visitar a felicidade


 




Adriane Lima







Arte by Ron Mosnma
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